Denominado de "Inova bu prato" (Inova o teu prato), o projeto surgiu em meados de 2018, com a primeira turma de alunos do curso de Nutrição e Qualidade Alimentar da Universidade de Santiago, com sede em Assomada, concelho de Santa Catarina.

Um dos criadores foi o professor Keven Gonçalves, que descreveu à agência Lusa que um dos objetivos do projeto é o reaproveitamento na integra de alimentos, desde vegetais, carnes, frutas e resíduos alimentares que são desperdiçados em casa ou em restaurantes.

Neste momento, a ideia pioneira em Cabo Verde ainda está limitada à esfera universitária, mas segundo o docente cada ano aparecem mais estudantes a levar a ideia para a frente.

"Ou seja, cada turma que entra tem de dar continuidade a este projeto", sublinhou Keven Gonçalves, destacando a criatividade e o sucesso até agora da iniciativa dos universitários.

Mas depois a Universidade de Santiago (US) viu o potencial e abraçou o projeto, tendo mesmo construído o laboratório e destacado uma equipa para o seu desenvolvimento, referiu o docente, que supervisiona.

Um dos resíduos utilizados é o farelo de milho, que em Cabo Verde é desperdiçado ou usado para alimentação dos animais, mas que no laboratório da Universidade de Santiago dá forma a um bolo para a alimentação humana.

Ou mesmo o melão-de-são-caetano, uma planta medicinal usada no tratamento de várias doenças, que serviu para confecionar um brigadeiro.

Bolo de bagaço de cana-de-açúcar ou sopa de cascas de frutas e legumes são outras das muitas confeções, referiu Gonçalves, explicando que, tratando-se de resíduos alimentares, o projeto tinha de encontrar um veículo para a sua introdução.

"Todas as pessoas consomem bolo, pães, e outros alimentos. O nosso veículo para a introdução desse tipo de alimentos são os bolos e os biscoitos. Optamos por isso porque são os alimentos que mais as pessoas consomem", afirmou o promotor, enquanto os alunos vão dando forma ao bolo e aos brigadeiros.

Por agora, os produtos são produzidos e também consumidos somente na Universidade de Santiago, mas a ambição é grande e Keven Gonçalves disse que o intuito é ter um produto mais elaborado, com todas as características e recomendações para introduzir no mercado nacional.

O objetivo é "atingir o mercado nacional. Cabo Verde inteiro e não só", perspetivou o docente universitário, recordando que no início o projeto tinha como meta auxiliar as pessoas com menor poder económico com uma alimentação saudável.

"Mas tomou uma ênfase tão forte que nós estamos a pensar em lançar esse produto no mercado nacional", referiu o professor, que quer também aumentar a procura por alimentos naturais, que escasseiam com o passar do tempo.

"Estamos já a preparar-nos para quando houver essa escassez termos um plano B, que é aproveitar um alimento na sua íntegra, todo o nutriente que nos fornece", salientou Keven Gonçalves, dando conta que as cascas de alimentos, por exemplo, são as que têm maior quantidade de nutrientes.

E o mesmo se pode dizer do farelo de milho, que tem teor de nutrientes e fibra, mas que em Cabo Verde ou é deitado fora ou é utilizado para alimentação de animais.

Até agora, os alunos já reaproveitaram na íntegra entre 20 e 30 quilos de alimentos, sem gerar nenhum resíduo, e mesmo gerando, é aproveitado numa horta orgânica na mesma universidade, criada em 2008 e que desde 2010 tem os seus serviços centrais na zona de Bolanha, em Assomada, e tem polos em Tarrafal e na Praia.

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