
Os intermediários de crédito da comunidade Simplefy intermediaram, em 2024, mais de 5.000 processos de crédito à habitação, totalizando um volume de financiamento de 700 milhões de euros. O objetivo para 2025 é de 1.2 mil milhões de euros.
Lançada em 2023, a comunidade de intermediários de crédito começou por atuar na área do crédito à habitação e está a expandir-se agora com o lançamento da Simplefy Insurance, em parceria com a Acrisure, e da Simplefy Investments, com a Currencies Direct, nas áreas dos seguros e câmbios.
Neste negócio, a empresa distingue-se pelo modelo “brand by Simplefy”, que permite aos seus parceiros manterem as suas marcas próprias, ao contrário do habitual modelo de franchising. Atualmente, a comunidade conta com mais de 280 intermediários de crédito. Ao Jornal PT50, Rui Lopes, CEO da Simplefy, dá conta dos marcos já alcançados e dos objetivos que pretendem alcançar a nível nacional e internacional.
Os últimos dados do Banco de Portugal indicam que o peso dos intermediários de crédito na habitação mais do que duplicou em 2024, sendo responsáveis por 56% dos novos contratos neste segmento. O explica este crescimento acelerado?
O intermediário de crédito não é mais do que a transformação de uma figura que já existia no mercado, mas que não era regulada. Era normal há 20 anos um mediador imobiliário tratar do crédito, só que não era uma figura regulada pelo Banco de Portugal. Em 2017, através da transposição da Diretiva Europeia, que tomou depois corpo em 2018, passámos a ter a figura do intermediário de crédito. Passámos a ter um setor com procedimentos e manuais de boas práticas. Ao dia de hoje temos cerca de seis mil intermediários de crédito. Sendo que no crédito habitação só podemos contabilizar aqueles que são intermediários de crédito vinculados. Além disso, nos últimos anos, fecharam-se várias agências, abrindo espaço para que uma figura que não estava reconhecida ainda no mercado pudesse posicionar-se . Portanto, é um conjunto de dois fatores, a profissionalização do intermediário de crédito e a transformação do setor bancário.
Temos aqui valores elevados, 56%. Há espaço para crescer muito mais?
Eu creio que sim. Não nos podemos esquecer de que nem todos os bancos trabalham com intermediários de crédito. Portanto, se formos analisar à luz dos bancos que realmente trabalham com intermediários de crédito, essa percentagem ainda é maior. Portanto, se vamos analisar a real quota de mercado do intermediário de crédito, eu arrisco-me a dizer que está próxima dos 70% naqueles bancos que trabalham com intermediários de crédito. E acho que há margem para crescer. Claramente, vejo o intermediário de crédito como o ponta de lança dos bancos no futuro, porque um gestor que está numa agência, além de vender crédito à habitação, tem de vender crédito pessoal, cartões de crédito, abrir contas, fazer planos de investimento, etc.
E vocês oferecem essa especialização.
Nós oferecemos a especialização. Um crédito à habitação não é como fazer um crédito ao consumo ou abrir uma conta. É um produto muito mais complexo, que necessita de acompanhamento especializado para que o cliente não se sinta desacompanhado.
Portanto, eu acredito que o intermediário de crédito vai ganhar cada vez mais espaço. Vai ser complementar aos bancos, não vai retirar o papel do banco. Os meus intermediários de crédito são representantes dos bancos. É com eles que tenho o contrato assinado. Claro que também tenho que defender os interesses do meu cliente, mas, em última instância, o meu contrato é com o banco.
Este crescimento também está a acontecer a nível europeu ou é uma particularidade de Portugal?
Apesar de a diretiva ser semelhante para todos, cada um fez a transposição à sua maneira. Por exemplo, em Espanha este mercado está mais atrasado do que em Portugal. Não tenho dados concretos, mas, pela minha sensibilidade, não tem a expressão que tem em Portugal. Já existem marcas portuguesas a quererem dar o salto para Espanha para levar todo o ‘know how’ que temos para que o mercado lá se torne mais especializado.
Já França é um mercado completamente diferente. Enquanto nós fazemos o contrato com os bancos, em França, os intermediários de crédito, que é um setor muito evoluído e com mais de 40 anos, fazem contratos com os clientes. Portanto, temos aqui três países em que a mesma diretiva foi transposta e é entendida de uma forma completamente diferente.
O crédito à habitação é feito duas ou três vezes na vida, mas é o grande peso do volume de negócios nos intermediários de crédito, não é?
No caso da Simplefy, e daqueles que realmente concorrem connosco, a maior fatia é sempre o crédito à habitação. O crédito ao consumo representa, no nosso caso, menos de 2% dos nossos negócios. É algo que nós vamos querer fazer crescer em 2025 e 2026, mas neste momento é mesmo residual.
A Simplefy foi lançada em 2023. Em 2024, os vossos 280 intermediários mediaram mais de 5.000 processos de crédito habitação, num total de 700 milhões de euros. Que quota representa isto no total do crédito à habitação em Portugal?
Em 2024, estávamos com uma quota global de mercado – e aqui incluo bancos que trabalham e não trabalham com intermediação de crédito – de 3,8% de quota de mercado. Em junho de 2025, já vamos com uma quota próxima dos 6%. Estimamos que em agosto façamos tanto como fizemos no ano passado todo. E estimamos fechar o ano com cerca de 1.1 ou 1.2 mil milhões de euros de financiamento hipotecário e algum crédito ao consumo também.
Como é que o mercado vos recebeu, uma vez que se diferenciam por permitirem que os intermediários mantenham a sua marca, complementada com o selo “by Simplefy”?
Nós viemos para complementar o que já existia no mercado. O nosso modelo é disruptivo e tudo o que é disruptivo causa curiosidade e alguma desconfiança.
Portugal é um país muito recetivo a franchisings e, quando me desafiaram a criar algo novo, abrir mais um franchising na intermediação de crédito era ‘chover no molhado’, eu não ía contribuir com valor acrescentado para o mercado. Ora, se do total de intermediários de crédito estimo que metade esteja ligada ao franchising, existe outra metade que tem a sua marca própria, que não adeririu ao franchising por alguma razão. Ou porque gostam da sua identidade, da sua autonomia, ou porque não querem assumir custos excessivos. Mas, ao mesmo tempo, muitos deles querem ter algum sentimento de pertença a uma comunidade, a um grupo, a uma rede. Gostavam de ter ferramentas de tecnologia que sozinhos não vão conseguir. Acesso à formação que sozinhos não vão conseguir. Portanto, uma série de serviços que se estiverem sozinhos não iriam conseguir. Mas dentro da Simplefy conseguem. Então o que é que a Simplefy oferece? A possibilidade de eu manter o meu modelo, a minha marca, a minha autonomia, a minha organização, com o selo by Simplefy.
Nós temos apostado numa cultura de ‘off-boarding’ e ‘outplacement’ dos bancos, temos feito uma grande captação desses ex-bancários, que fazem formação junto do Banco de Portugal e entram na Simplefy. Se eu lhes der essa possibilidade de fazerem intermediação de crédito sem esses custos iniciais, da abertura de uma loja, da abertura de um negócio com uma marca que não é a deles, estou a ajudá-los a poderem investir naquilo que realmente é importante: na tecnologia, no marketing próprio, no ‘personal branding’, etc.
E como é que os intermediários vos retribuem?
O franchising, por norma, cobra um royalty, nós cobramos um fee sobre a produção realizada.
Pode dizer qual é o fee?
Isso prefiro deixar para nós. Mas não é muito diferente do royalty. A grande diferença é que não cobramos direitos de entrada e um franchising cobra.
Estão a conseguir captar muitos intermediários?
Ao dia de hoje, temos cerca de 270 intermediários de crédito com licença do Banco de Portugal. Estamos a falar de um universo de cerca de 2.500 intermediários de crédito vinculados, portanto, temos uma quota de quase 11%. O ano de 2023 foi para arrumar a casa e 2024 foi o primeiro ano de operações. Posso dizer que realmente é um crescimento grande. E, como disse, se metade do mercado são franchisings, a mim interessa-me a outra metade. Portanto, se temos 270, ainda me faltam alguns para chegar aos 1.250, e é nesse o mercado que quero atuar.
Como analisa o atual enquadramento legal da atividade de intermediação de crédito? Considera que há margem para evoluir na regulação ou simplificação dos processos?
A regulação foi feita há cerca de 7, 8 anos. É normal que, passado este tempo, se possa fazer algumas alterações e algumas melhorias na própria legislação. O Banco de Portugal tem estado muito ativo. Ainda agora fez uma pequena alteração no que toca à publicidade. Portanto, isso mostra que está sensível às preocupações dos intermediários de crédito e dos consumidores. E tem que haver cada vez mais um papel de proximidade do Banco de Portugal junto dos intermediários de crédito e junto das grandes marcas, ou seja, da Simplefy e de outras.
Porque é que acha que tem que haver mais proximidade?
O papel do regulador, e bem, é regular e fazer com que o mercado se desenvolva de uma forma correta. Acho que essa proximidade leva conhecimento, porque o Banco de Portugal não está no dia a dia a fazer crédito. E o mercado está a caminhar para uma concentração em redes de intermediários de crédito. Portanto, gostava de ver grupos de trabalho regulares que visem a melhoria da legislação atual.
Que alterações gostaria de verificar?
Por exemplo, na definição da referenciação. Hoje em dia, está no ar se pode ou não haver referenciação na intermediação de crédito. O Banco de Portugal proíbe o pagamento dessa referência. Só que isso, muitas vezes, não é respeitado.
Lançaram recentemente o Simplefy Insurance e o Simplefy Investments. Qual é o objetivo?
Nós fazemos a gestão global de um grupo de intermediários de crédito e sabemos que o seu maior bem não é o produto, é o cliente. E na esfera do cliente pode-se vender crédito e outros produtos associados ao crédito. O que queremos montar neste momento é um marketplace global. Vamos ter, dentro da área dos produtos, três verticais. A vertical do crédito à habitação e consumo, a vertical de seguros (automóvel, acidentes pessoais, pet, etc.) e a vertical de investimentos. Portanto, é dar mais valor acrescentado ao cliente. E também temos um plano para desenvolver toda a área de consultoria de investimentos para clientes que queiram fazer o PPR, um investimento de depósito a prazo, etc.
Já está operacional?
Já, na área dos seguros. Fechámos uma parceria com a sexta maior corretora do mundo, a Acrisure, que nos vai dar o suporte, seja na gestão da emissão da apólice, seja na gestão do sinistro. É uma parceria que nos vai poder alavancar os negócios nos seguros. Na área de investimentos, já temos uma parceria na área dos créditos e queremos desenvolver nas outras áreas nos próximos tempos.
Querem ganhar maior expressão na área financeira?
Exatamente, é muito redutor olhar para a Simplefy apenas e só como intermediação de crédito.
Como é que querem ser conhecidos?
Queremos ser o maior player financeiro, fora os bancos, a nível nacional. Não temos dúvidas de que é para isso que vamos trabalhar.
E para quando a expansão para Espanha?
É o próximo passo, mas, como costumo dizer, enquanto não estiver em Vila Real de São António e em Caminha não quero dar o passo para Espanha. Mas olhamos para Espanha com muita ambição. Acho até que o nosso modelo adaptar-se-ia melhor em Espanha do que em Portugal. Porque em Espanha há uma menor cultura de franchising do que em Portugal. Então, o nosso modelo ‘original brand, powered by Simplefy’, iria casar muito bem com o mercado espanhol.
Há alguma data em vista?
Sim, nós estamos a desenhar agora o próximo triénio. No final de 2028, já podemos estar com ideias mais concretas de quando é que damos o passo para a internacionalização.