O cenário está contemplado na análise de sensibilidade do relatório da proposta orçamental, no qual simula o impacto de uma redução do crescimento da procura externa em dois p.p. face ao projetado no cenário base de 2023.

Nas hipóteses externas, o Governo parte de um enquadramento em que a procura externa relevante para a economia portuguesa, que em 2022 tem um crescimento estimado de 8,3%, desacelera em 2023 para um crescimento de 3%.

Segundo a simulação, uma redução do crescimento da procura externa em dois p.p. teria um efeito negativo no crescimento real do PIB, originando um crescimento inferior em 0,4 p.p.

"Este impacto resultaria de um menor crescimento de todas as variáveis: consumo, investimento, exportações e importações", assinala, prevendo que "como o impacto nas exportações é superior ao impacto nas importações, o défice da balança de bens e serviços seria agravado em 0,1 p.p., reduzindo a capacidade de financiamento da economia face ao exterior".

Já no mercado de trabalho, a taxa de desemprego agravar-se-ia em 0,2 p.p. em 2023 e o impacto no deflator do consumo seria residual.

Nos exercícios de sensibilidade, o Governo prevê também que um aumento das taxas de juro de curto prazo em dois p.p. e de médio e longo prazos em um p.p. face ao assumido no cenário base (no qual prevê uma média anual de 2,9% em 2023) teria um impacto negativo no crescimento real do PIB em cerca de 0,3 p.p..

Tal resultaria "de um menor crescimento do consumo privado e do investimento (em resultado de um aumento dos custos de financiamento), parcialmente compensado por uma redução do crescimento das importações".

"Adicionalmente, estima-se um efeito negativo na capacidade de financiamento da economia de 0,4 p.p. No mercado de trabalho, a taxa de desemprego aumentaria em 0,2 p.p. No deflator do consumo o impacto seria de menos 0,1 p.p.", indica.

Já um cenário em que o preço do petróleo se situe 20% acima dos 77,8 dólares/barril para 2023, teria um efeito negativo de 0,1 p.p. no crescimento do PIB em 2023, resultado de uma redução no crescimento do consumo e do investimento, parcialmente compensados pela redução no crescimento das importações.

"Este choque teria um impacto significativo na capacidade de financiamento da economia face ao exterior (menos 0,4 p.p.), estimando-se um efeito negativo resultante de uma deterioração da balança energética", índica, salientando que, "apesar do efeito no mercado de trabalho ser desfasado no tempo, a taxa de desemprego aumentaria 0,1 p.p. em 2023".

O executivo calcula ainda que um crescimento da procura interna inferior em 1 p.p. ao estimado no cenário base teria um impacto de menos 0,6 p.p. no crescimento real do PIB.

"O efeito associado a um menor dinamismo no crescimento do consumo e do investimento seria parcialmente compensado por uma redução no crescimento das importações", explica, antecipando que o impacto também se refletiria numa recuperação do saldo da balança comercial em 0,4 p.p. e da capacidade de financiamento da economia em 0,5 p.p.

Já relativamente ao mercado de trabalho, a taxa de desemprego agravar-se-ia em 0,3 p.p. em 2023.

O Governo entregou na Assembleia da República a proposta de OE2023, que prevê que a economia portuguesa cresça 1,3% em 2023 e registe um défice orçamental de 0,9% do Produto Interno Bruto.

O ministro das Finanças, Fernando Medina, afirmou que a proposta reforça os rendimentos, promove o investimento e mantém o compromisso com finanças públicas sãs num ambiente externo adverso de guerra na Europa e escalada da inflação.

O Governo visa reduzir o peso da dívida pública de 115% do PIB para 110,8% em 2023 e projeta que a inflação desacelere de 7,4% em 2022 para 4% no próximo ano.

A proposta vai ser debatida na generalidade no parlamento nos próximos dias 26 e 27, estando a votação final global do diploma marcada para 25 de novembro.

AAT // CSJ

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