
O Algarve continua a ser um dos destinos turísticos mais procurados da Europa. Em 2024, a região registou perto de 15% das dormidas em Portugal, mantendo-se como a segunda principal região turística do país, apenas atrás da Área Metropolitana de Lisboa (23%). Se há uns anos o principal desafio era o combate à sazonalidade e aos preços baixos, hoje o cenário é outro. Com o aumento da procura, instalou-se uma escalada de preços que merece reflexão. Afinal, o Algarve é caro?
Em agosto de 2024, o preço médio por noite em hotel no Algarve atingiu os 208,4 euros, com várias unidades a praticar tarifas acima dos 500 euros. Para comparação, os preços médios no mesmo mês foram significativamente mais baixos noutras regiões: 173,9 euros em Lisboa, 158,3 na Madeira, 136,2 nos Açores, 126,9 no Norte, 121,4 no Alentejo e 106,1 no Centro. Jantar num restaurante de gama média-alta em Vilamoura ou Albufeira pode facilmente ultrapassar os 60 euros por pessoa, sem vinho. E o custo de um transfer entre o aeroporto e o hotel rivaliza com cidades entre as mais turísticas do mundo.
Cobrando preços de topo, o Algarve não pode permitir experiências medianas. O serviço tem de ser irrepreensível, os tempos de espera aceitáveis, a qualidade da comida constante e o atendimento empático e bem preparado. O turista que paga 300 euros por noite não aceita esperar 40 minutos por um prato mal servido ou lidar com um atendimento apressado. Ou esperar duas horas pela entrega de um veículo alugado - como me aconteceu há dias, quando estive na região a propósito do 30.º aniversário da AHETA - Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve.
O luxo não se mede apenas em estrelas, mas na capacidade de surpreender com detalhe e profissionalismo. Com a pressão turística a estender-se a vários meses do ano - e já não apenas ao verão -, os desafios operacionais são evidentes. A gratuitidade da Via do Infante intensificou o trânsito, os serviços públicos e privados estão sobrecarregados e a pressão sobre os recursos naturais aumenta. O resultado? uma experiência que pode frustrar tanto os visitantes como os residentes. Um destino que cobra caro, mas oferece uma vivência saturada, corre o risco de perder valor. Tem o Algarve a capacidade de garantir qualidade, consistência e autenticidade durante todo o ano?
Em 2024, o Aeroporto de Faro desembarcou 4,47 milhões de passageiros. Entre os visitantes, 234,7 mil eram turistas oriundos dos Estados Unidos, com elevado poder de compra, num crescimento de 16,4% face a 2023. Espera-se que esse número continue a aumentar, impulsionado pela tão desejada entrada da United Airlines, que passou recentemente a assegurar a rota direta entre Nova Iorque e Faro. A notoriedade internacional está, sem dúvidas, conquistada.
À boleia destes números, o Algarve pode - e deve - posicionar-se no segmento premium. Mas a fasquia da excelência é alta e exige consistência em todas as frentes. Caso contrário, corremos o risco de vender uma promessa que não conseguimos cumprir e, mais cedo ou mais tarde, os mercados deixam de acreditar.
A questão não é se o Algarve é caro. A questão é: vale o que cobra?