"Estamos a falar da recuperação da pandemia de covid-19 a todos os níveis, a recuperação sanitária, mas também da recuperação e do relançamento da economia de uma forma inclusiva, muito mais justa em termos de transição", explicou hoje a Coordenadora Residente do Sistema das Nações Unidas em Cabo Verde, Ana Graça, sobre as prioridades já identificadas, que se juntam à "bandeira" comum da "ação climática" ou o combate à pobreza e às desigualdades, entre as ilhas e entre as comunidades do arquipélago.

Dezenas de representantes das várias agências das Nações Unidas iniciaram hoje um retiro de dois dias, na cidade da Praia, para lançar o processo de planeamento do próximo quadro de cooperação com Cabo Verde, que vai desenvolver-se de 2023 a 2027.

"Não estamos em fase de falar de verbas. Este é um processo que vai demorar seis meses, hoje é o lançamento, estamos muito satisfeitos porque fazemo-lo com os nossos parceiros nacionais, fazemo-lo também com o Governo, mas também com várias entidades que não estão ainda em Cabo Verde, mas que já manifestaram interesse em reforçar a cooperação, no âmbito do novo quadro de cooperação, com Cabo Verde", disse ainda aos jornalistas Ana Graça, à margem da sessão de arranque destes trabalhos.

Acrescentou que é preciso "dar um salto qualitativo para assegurar maior integração nas respostas e nas buscas de soluções para Cabo Verde" no próximo quadro de cooperação, mas cobrindo "aspetos prioritários", como "ao nível do desenvolvimento do capital humano", do "crescimento inclusivo, já também na perspetiva de transição, de saída de uma crise".

"E de uma transição que se quer mais justa, mais inclusiva, mais verde, mais resiliente, para um crescimento económico mais inclusivo", apontou ainda Ana Graça.

Segundo a responsável, além das agências das Nações Unidas presentes em Cabo Verde, pelo menos outras três já demonstraram a disponibilidade para integrarem o próximo quadro de cooperação com projetos próprios. É o caso da União Internacional de Telecomunicações (ITU, na sigla inglesa), agência das Nações Unidas especializada nas tecnologias da informação e da comunicação, assim como a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UCTAD, na sigla inglesa), ou ainda a Comissão Económica Africana.

"A nossa ambição é trazer mais entidades, também aquelas que são mais necessárias pelo momento que o país atravessa, em termos de recuperação de uma crise e de retoma para o desenvolvimento sustentável completo", apontou Ana Graça.

Cabo Verde enfrenta uma profunda crise económica e financeira, decorrente da forte quebra na procura turística - setor que garante 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do arquipélago - desde março de 2020, devido à pandemia de covid-19.

Em 2020 registou uma recessão económica histórica, equivalente a 14,8% do PIB. O Governo cabo-verdiano admite que a economia possa ter crescido entre 6,5 e 7,5% em 2021, impulsionada pela retoma da procura turística, e prevê 6% de crescimento em 2022.

"As diretivas que temos para aquilo que o Secretário-Geral [das Nações Unidas] chama a próxima geração das Nações Unidas, das 'equipas país', é que precisamos de estar integralmente alinhados às prioridades nacionais. E temos que ter um quadro de cooperação que seja muito mais estratégico, mais estruturante, mais integrado, para conseguir efetivamente responder aos desafios, que são desafios do país e que são desafios também globais", acrescentou a Coordenadora Residente.

O Governo de Cabo Verde e o Sistema das Nações Unidas assinaram em outubro de 2017 o Quadro de Cooperação para o Desenvolvimento das Nações Unidas em Cabo Verde (UNDAF), orçado em cerca de 92 milhões de dólares (81,3 milhões de euros), cuja execução termina este ano (2018 -- 2022), iniciando-se agora o processo para ultimar o próximo quadro, ainda sem verbas definidas.

"Mais do que pensar no montante que vai ser alocado, é ver como é que o montante a ser alocado vai ser empregue para dar respostas às reais necessidades de desenvolvimento de Cabo Verde. Uma primeira mudança do paradigma seria continuar a implementação da reforma das Nações Unidas, que pretende basicamente incrementar a eficácia da atuação das Nações Unidas no seu todo", afirmou, à margem do início deste retiro, a secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Miryan Vieira.

Acrescentou que, para o Governo cabo-verdiano, as prioridades da intervenção das Nações Unidas passam pelo desenvolvimento das capacidades e do capital humano, o desenvolvimento da economia digital e da economia azul, as energias renováveis e a ação climática, em alinhamento com o Plano Estratégico de Desenvolvimento Sustentável (PEDS), a visão da Agenda Global 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

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