"Antes da pandemia tinha uma demanda menor, já com a pandemia houve uma grande expansão, e depois da pandemia houve uma pequena redução, mas melhor do que antes, é que houve um reconhecimento das pessoas sobre o serviço de entrega em Cabo Verde. Ou seja, a pandemia fez a divulgação do nosso trabalho", explicou, em conversa com a Lusa, o 'motoboy' Patrick Silva, de 28 anos.

Pedro Cardoso, de 62 anos, mais conhecido por "mandioca", mora no centro da Praia e já se cruzou na estrada com o colega 'motoboy' Patrick. Há 14 anos nas entregas de comida ao domicílio, de motorizada, confirma que a atividade, até então com pouca expressão, disparou com o confinamento provocado pela pandemia de covid-19, criando uma nova ocupação para dezenas de pessoas.

"Sinto-me bem a fazer esse serviço e apoio os outros colegas. E ainda tento ajudar os que querem entrar nas entregas ao domicílio para sair da delinquência e ter um rendimento", conta o sexagenário 'motoboy' da Praia.

"Tenho recebido bom 'feedback' dos clientes. Eles dizem-me que sou muito rápido nas entregas e elogiam muito a minha coragem, principalmente quando faço entregas em zonas potencialmente perigosas", atira Pedro Cardoso.

Organizados, em cooperativa ou individualmente, a atividade destes 'motoboy', geralmente ainda informal, vive da cobrança de uma taxa de entrega, que varia de 150 a 300 escudos (1,36 a 2,72 euros), conforme o bairro da capital, inclusive através de pagamento eletrónico, estando já acessível em praticamente todos os restaurantes da Praia, algo que não acontecia antes da pandemia.

Há cinco anos nas entregas de comida ao domicílio, Patrick Silva percorre com a sua motorizada toda a cidade da Praia. Durante a tarde faz entrega de almoços e à noite de 'fast food', admitindo que a maior dificuldade é a "muita insegurança" em alguns locais da capital a partir de determinadas horas.

"Não dá para confiar em trabalhar até mais tarde e a insegurança continua até no momento de ir para a casa. Antes trabalhava até 23:00. Neste momento, a partir de 22:00 não recebemos pedidos, é um serviço que vai até meia-noite, mas devido à insegurança não conseguimos fazer mais, e em muito casos somos assaltados e é levado a nossa moto e os nossos pertences", desabafa.

A insegurança à noite preocupa igualmente Pedro Cardoso, que desde 2009 trabalha com o restaurante "Cometa Fast food", como 'motoboy', apesar de um assalto que, durante o serviço, quase lhe tirou a vida.

"Já sofri um assalto, até levei um tiro de raspão, mas continuo a fazer esse serviço, não tenho medo de ser assaltado e nem problema em entrar em nenhum bairro para fazer as entregas. O nosso serviço de entrega vai até a meia-noite. Tem bairros mais problemáticos como Achada Grande e Achada Grande Trás, que os gerentes do restaurante não sentem seguros de fazer as entregas, mas já fiz entregas nesses bairros e faço sempre que me for solicitado. Só eu é que faço entregas nesses locais, os outros 'motoboys' não vão", brincou "Mandioca", como também é conhecido na atividade.

Já Patrick conta que a "desconfiança" que por vezes recebe da polícia: "Por causa da velocidade que nós empregamos, por motivo do nosso trabalho que é muito condicionado com horário de entrega que temos com o cliente. É que se o cliente não tomar a encomenda devido ao atraso, nós é que vamos pagar o produto".

E apesar dos constrangimentos da insegurança e de ser um setor que ainda não é "bem explorado" em Cabo Verde, afirma o potencial de crescimento das entregas é "grande".

O "Cometa Fast Food" é um dos exemplos dos restaurantes da Praia que viram na entrega de comida ao domicílio uma oportunidade de negócio, acelerada pela pandemia. "Nós fomos os primeiros aqui na cidade da Praia a fazer esse tipo de serviço", contou à Lusa o gerente, Ricardo Santos.

O restaurante, especializado em comida rápida, funciona há mais de 17 anos, sempre com entrega ao domicílio, mas com a pandemia chegou a ter uma frota com nove motorizadas e sete a oito 'motoboys'. Atualmente tem um transportador fixo, serviço que é reforçado pedindo 'motoboys' por serviço, externamente.

"Durante a pandemia teve mais impacto, como nós já estávamos no terreno há mais tempo não sentimos tantas dificuldades como os outros", recorda o gerente.

Ricardo Santos trabalha naquele restaurante desde 2012 e também admite que o maior constrangimento que enfrentam nas entregas do "Cometa Fast Food" é a insegurança e a organização da cidade: "Temos que treinar os nossos funcionários a conhecer os moradias ou as casas através de nomes próprios das pessoas ou algum ponto de referência, aqui na cidade é muito complicado trabalhar nesse aspeto. Já tivemos alguma desistência mesmo em termos de funcionários, tivemos o caso de um funcionário que sofreu dois ou três assaltos em menos de um ano".

Conceição Carvalho é médica e passou escolher o serviço de entrega ao domicílio de 'fast food', através do serviço de 'motoboy', embora tenha que limitar os pedidos dos dois netos a pensar na saúde.

"Gostamos imenso, tanto pela prontidão, quanto pela qualidade do serviço", contou Conceição, logo depois de receber a encomenda em casa, das mãos de "mandioca".

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