
"Pelas informações que nós temos há negociações que estão a decorrer, o processo está em curso, o Governo está a acompanhar, sendo um acionista da TICV, portanto estamos esperançados que desse processo não será o volume que se apresentou na comunicação social", afirmou Carlos Santos, questionado numa conferência de imprensa, na Praia, com o homólogo angolano, Ricardo Viegas d'Abreu, que terminou hoje uma visita de três dias ao arquipélago.
Contudo, disse, o assunto é da administração da empresa privada Transportes Interilhas de Cabo Verde (TICV), liderada desde julho pelo grupo angolano BestFly, altura em que o Estado cabo-verdiano passou a deter também uma participação de 30% na companhia aérea, a única que realiza voos domésticos no arquipélago.
"Essa é uma questão que tem de ser colocada ao conselho de administração da empresa em primeiro lugar", enfatizou.
Em 20 de outubro foi anunciado publicamente, através de uma carta da empresa aos trabalhadores, que a TICV iria fazer um despedimento coletivo de 60 colaboradores, para permitir a viabilidade da operação.
Também nesse sentido, o ministro Carlos Santos recorda que a procura pelos transportes aéreos domésticos em Cabo Verde "reduziu para metade" face ao período anterior à pandemia de covid-19.
"Nenhuma empresa consegue ser sustentável nessa situação", afirmou Carlos Santos, admitindo que os despedimentos que se concretizarem resultam da "retração na procura".
"Esperamos que haja uma retoma muito rápida, designadamente do mercado turístico", disse ainda.
Em causa está um despedimento coletivo que no limite, conforme processo iniciado pela empresa, poderá levar à extinção de até 60 dos mais de 130 postos de trabalho, em vários departamentos da TICV.
A intenção é cessar os contratos de trabalho a partir de 20 de novembro, mas fonte oficial da companhia contactada em outubro pela Lusa já tinha admitido que o número final deverá ser inferior ao previsto.
"Esperamos que não sejam tantos, mas uma empresa que não trabalha há quase seis meses não consegue manter 135 postos de trabalho. Precisamos de assegurar a viabilidade da companhia", indicou a mesma fonte.
A TICV, detida pelo grupo BestFly, retomou em 23 de agosto as ligações aéreas domésticas no arquipélago, com mais de 400 passageiros transportados e uma taxa de ocupação de 66%.
Fonte oficial da TICV contactada pela Lusa explicou que a companhia, agora a operar com a marca comercial BestFly Cabo Verde, realizou nesse primeiro dia nove voos, ligando Santiago (Praia), São Vicente, Sal, Maio e Boa Vista, tendo transportado 417 passageiros.
A TICV não realizava voos desde maio e o grupo BestFly afirma ter "em implementação um plano de crescimento para a operação a partir do arquipélago, para se tornar numa referência no transporte aéreo na região".
O grupo BestFly, de origem angolana e que opera em vários continentes no setor da aviação civil, foi escolhido pelo Governo de Cabo Verde, após consulta ao mercado, para assumir a partir de 17 de maio uma concessão, de emergência com prazo de seis meses, do serviço público de transporte aéreo de passageiros interilhas, precisamente após a suspensão dos voos pela TICV.
A partir de 23 de outubro essa operação foi concentrada na TICV, que já tem um Certificado de Operador Aéreo em Cabo Verde, sendo que o processo de retoma dos voos interilhas envolveu igualmente a certificação por parte da Agência de Aviação Civil (AAC) cabo-verdiana.
Em 2020, os voos domésticos em Cabo Verde, operados apenas pela TICV, movimentaram cerca de 125 mil passageiros, menos 286 mil (-230%) face ao ano anterior, devido às restrições impostas pela pandemia de covid-19.
Em 2017, os passageiros das ligações aéreas domésticas em Cabo Verde atingiram o recorde de quase 465 mil (movimento total de 929.595 embarques e desembarques), com mais de 10.200 voos.
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