"Foi único", afirmou o diretor executivo da empresa especializada em jogo 2NT8, sublinhando o papel que desempenhou no desenvolvimento da indústria durante 40 anos.
"Teve o monopólio do jogo durante todo esse tempo, o que é algo enorme" e foi, "a par com Sheldon Adelson [Las Vegas Sands] um dos grandes impulsionadores" daquela que é hoje a capital mundial do jogo, acrescentou Alidad Tash, que enalteceu "o papel de Ho na história de Macau", uma vez que "sempre conseguiu retribuir o que ganhou".
O advogado português especialista na área do jogo Pedro Cortés salientou igualmente os 40 anos que fizeram toda a diferença na indústria: "O grande impacto foi até à liberalização, que só aconteceu porque ele e a sua equipa transformaram Macau desde 1962".
O especialista da Rato, Ling, Lei & Cortés -- Advogados argumentou que "Macau é indissociável de Stanley Ho e vice-versa".
Contudo, se "Macau tem de estar grato por ter sido escolhido pelo Dr. Ho como terra a quem deu muito, (...) verdade seja dita, também lhe deu em troca muito daquilo que construiu".
Por seu lado, o economista de Macau Albano Martins, começou por lembrar "a pequena dimensão de Macau" que, até 1999, conseguia arrecadar do jogo cerca de 14 mil milhões de patacas (1,6 mil milhões de euros) de receitas de jogo.
"Era elevado para altura, até porque o PIB [Produto Interno Bruto] de Macau pouco passava dos 47 mil milhões de patacas [5,4 mil milhões de euros]", assinalou o economista.
Os últimos números, de 2019, indicavam que o PIB de Macau rondava os 434,7 mil milhões de patacas (50 mil milhões de euros), um dos territórios do mundo com maior PIB 'per capita' e onde as receitas do jogo no mesmo ano foram de 292,46 mil milhões de patacas (33,6 mil milhões de euros).
Stanley Ho "não estava apenas à frente do jogo, tinha um império, dominava a economia praticamente toda de Macau", lembrou Albano Martins.
"Tenho a opinião de que era um grande empreendedor, mas com a liberalização do jogo isso mudou imenso", disse o economista, para concluir: "Marcou uma era até à liberalização".
O magnata do jogo de Macau Stanley Ho morreu hoje aos 98 anos, em Hong Kong.
Figura incontornável no antigo território administrado por Portugal, e um dos homens mais ricos da Ásia há décadas, a fortuna pessoal de Ho foi estimada em 6,4 mil milhões de dólares (5,9 mil milhões de euros), quando se reformou em 2018, apenas alguns meses antes do 97.º aniversário, referiu o jornal South China Morning Post, de Hong Kong, cidade onde vivia.
Exemplo acabado de um 'self-made man', Stanley Ho fica para a história como o magnata dos casinos de Macau, terra que abraçou como sua e cujo desenvolvimento surge ligado ao império do jogo que construiu.
Nascido a 25 de novembro de 1921 em Hong Kong, Stanley Ho fugiu à ocupação japonesa para se radicar na então portuguesa Macau, onde fez fortuna ao lado da mulher macaense, oriunda de uma das mais influentes famílias da altura.
Nos anos de 1960, conquista com a Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM), o monopólio de exploração do jogo, que manteve por mais 40 anos, até à liberalização, que trouxe a concorrência dos norte-americanos.
Stanley Ho marcou a transformação e modernização do território, com a dragagem dos canais de navegação -- imposta pelo contrato de concessão de jogos --, à construção do Centro Cultural de Macau, do Aeroporto Internacional ou à constituição da companhia aérea Air Macau.
JMC/MIM // EJ
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