
O Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, e o seu homólogo angolano, João Lourenço, foram os protagonistas do “Diálogo entre Presidentes” que encerrou a 8ª edição do Eurafrican Forum, promovido pelo Conselho da Diáspora Portuguesa na Universidade Nova School of Business and Economics (Nova SBE). Durante a conversa entre os dois Chefes de Estado, o denominador comum foi a defesa do reforço das relações entre a Europa e África, nas quais, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) será uma ferramenta essencial para fomentar esse relacionamento.
O Presidente da República de Angola, João Lourenço, realçou que a CPLP é mais do que a língua portuguesa, é cultura e trocas comerciais entre os Estados-membros e que África tem potencial para servir o mundo, com o devido investimento. O Chefe de Estado angolano e detentor da presidência rotativa da União Africana (UA), a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) “é mais do que a língua portuguesa, é cultura, trocas comerciais entre os Estados-membros” e a própria diversidade da língua portuguesa, em termos de sotaques pelo globo, são um “enriquecer da mesma”.
O Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, descreveu a CPLP como um projeto que tem influência nos diversos continentes e que pode ser uma ponte entre instituições como a União Africana e a União Europeia, que tem como presidente do seu conselho o ex-primeiro-ministro português António Costa.
João Lourenço foi perentório em realçar o potencial de Angola e do continente africano, que não se restringe ao seu potencial humano, ao ter uma população jovem que simboliza o futuro. “Em relação a África, penso que não nos deveríamos limitar a falar do potencial demográfico. É um facto que África é um continente essencialmente jovem (…) está em vantagem em termos de força de trabalho que pode servir o continente e o mundo”, frisou o líder angolano. E acrescentou que a Europa “devia olhar para ele [potencial demográfico] com outros olhos, investir em África, até para evitar que os jovens africanos atravessem o [mar] Mediterrâneo e cheguem à Europa nas condições que conhecemos. Se o investimento for feito em África, não só eles vão servir o continente, como vão servir o resto do mundo, servir a Europa, em melhores condições, mais qualificados, portanto, para ocuparem, digamos, o mercado de trabalho”.
“A Europa poderia tirar um melhor proveito, no sentido de serem retiradas vantagens mútuas, do facto de conhecer melhor o continente africano, porque sempre esteve em África”, declarou o Chefe de Estado daquele país africano de língua portuguesa.
Numa altura em que cresce o investimento chinês no continente, o Presidente angolano alertou que a Europa está em África há cinco séculos e que a China chegou há poucas décadas, por isso, o ‘velho continente’ deveria tirar maior partido dessa vantagem de “ter chegado primeiro”. E detalhou que África precisa de investimento em infraestruturas e que, dessa forma, pode solucionar dois problemas mundiais: a fome e a crise climática.
Por seu turno, o Presidente português considerou que às vezes a União Europeia está “concentrada demais” em si e “perde a visão do mundo”, pedindo que se “vire para fora” e tenha “um novo empenho” em África. Perante as palavras de João Lourenço que afirmou que a Europa pode “fazer mais e melhor” em África, Marcelo Rebelo de Sousa concordou que há um conjunto de setores nos quais a cooperação entre os dois continentes “é inevitável”, como digital, “alta tecnologia” ou transição energética, e apelou para um “novo empenho europeu na compreensão de África”. “De cada vez que a Europa é chamada a concentrar-se em si, perde a visão do mundo, até para explicar porque é que certas questões que aparentemente são europeias, são questões mundiais. E perde a visão, desde logo, das relações com África, e isso tem acontecido muitas vezes”, criticou ainda Marcelo Rebelo de Sousa.
Para o Chefe de Estado português, numa altura em que a “moda parece ser não o multilateralismo”, mas “o fechamento”, a cimeira entre a UE e a UA de novembro, em Luanda, pode ser fundamental para a Europa perceber melhor a importância da parceria com África e a importância que tem “na balança de poderes mundiais, neste momento e no futuro”.
No final da conversa, enquanto líder europeu, deixou uma mensagem a África e à UA, dizendo estar “muito confiante no empenhamento europeu, no que é um salto qualitativo na União Europeia” e numa “nova fase” nas relações entre os dois continentes após a cimeira de novembro.
Com Lusa