A informação consta do relatório e contas da Cabeólica, consultado hoje pela Lusa, que refere que o resultado líquido da empresa passou de 277 milhões de escudos (2,5 milhões de euros) em 2019 para cerca de 206 milhões de escudos (1,8 milhão de euros) em 2020, com a produção a cair no espaço de um ano 17,3%, para 64.926 MWh (Megawatt-hora).

As vendas de eletricidade da Cabeólica à rede pública, através da empresa estatal Electra, caíram em 2020 quase 7%, para 1.172 milhões de escudos (10,6 milhões de euros), mas o ano fica "marcado pela forte redução da procura, sobretudo nas ilhas turísticas do Sal e da Boa Vista, em resultado da pandemia de covid-19", lê-se no relatório.

"As restrições de circulação para e entre as ilhas, mormente para as de vocação turística, Sal e Boa Vista, fizeram com que entrassem em rápido declínio económico, mercê da queda brusca nas chegadas de turistas e, consequentemente, na procura das unidades hoteleiras, resultando numa redução significativa da procura de eletricidade, a rondar os 50%", segundo a presidente do conselho de administração, Kudzayi Hove.

"As manutenções sofreram alguns atrasos, com a Vestas [empresa que fornece os aerogeradores e garante a sua manutenção] a declarar, também pela 1.ª vez nos nove anos de operação comercial, situações de força maior, na Boa Vista e em São Vicente, por falta de controlo sobre os condicionalismos prevalecentes", reconhece a responsável.

O turismo representa 25% do Produto Interno Bruto de Cabo Verde, mas o setor está praticamente parado desde março de 2020, devido às restrições nacionais e internacionais para conter a pandemia de covid-19.

Na mensagem que consta no relatório e contas da empresa, a administradora acrescenta que "nessas condições sem precedentes, conforme expectável, os resultados da Cabeólica ficaram aquém do orçamento em todas as ilhas, com especial relevância para as que têm no turismo a atividade principal".

"Todavia, apraz-nos registar que não houve interrupção de operação dos quatro parques eólicos, resultado conseguido com o redobrar de esforços e engajamento de todos os 'stakeholders'. Os resultados líquidos foram inferiores aos de 2019, mas considerados satisfatórios face às circunstâncias", lê-se na mensagem da presidente do conselho de administração.

De acordo com o relatório e contas de 2020 da empresa, a Cabeólica manteve a potência instalada de 25,5 MegaWatts (MW), com 30 turbinas eólicas, distribuídas pelos parques nas ilhas de Santiago (11), Sal (09), São Vicente (07) e Boa Vista (03).

"Igualmente, não deixamos de destacar e valorizar o facto do nosso comprador, Electra, ter conseguido honrar todos os compromissos perante a empresa, mormente os de natureza financeira, situação que terá sido bastante sustida pela emissão, no último trimestre, de notas de crédito da Cabeólica a devolver ao comprador o diferencial de preço resultante da redução do escalonamento anual de preços com efeito retroativo a 01 de janeiro de 2017. Estamos certos de que este importante ganho, com alcance tarifário assinalável, vem fortalecer o espírito de parceria existente entre todos os 'stakeholders' da Cabeólica", acrescenta Kudzayi Hove.

Reconhece ainda que a "posição de alguma solidez da tesouraria da empresa" permitiu "distribuir dividendos e cumprir com as responsabilidades orçamentadas". Dos lucros de 2020, 29%, equivalente a 59,5 milhões de escudos (539 mil euros), foram distribuídos como dividendos aos acionistas e os restantes 71% aplicados em reservas.

Os parques da Cabeólica resultaram de um acordo de Parceria Público-Privada, de 2008, entre InfraCo Africa Limited, o Governo de Cabo Verde e o grupo estatal Electra, e seis anos depois atingiu o seu recorde, garantindo cerca de 24% da eletricidade consumida no arquipélago, tornando-o num dos países com a maior taxa de penetração de energia eólica no mundo.

Atualmente, 94% do capital social da Cabeólica está nas mãos da AFC Equity Investments, uma subsidiária detida a 100% pela Africa Finance Corporation (AFC), pertencendo ainda 3,75% ao grupo Electra e 2,25% ao Estado de Cabo Verde.

Estes parques eólicos recorreram do financiamento do Banco Europeu de Investimento (BEI) e do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), no valor total de 45 milhões de euros, reembolsáveis em 28 prestações semestrais, tendo vencido a primeira em 01 de julho de 2012.

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