De acordo com o relatório “Investing in Europe: Private Equity Activity”, 2024 foi o oitavo ano consecutivo com angariação de fundos europeus acima dos 100 mil milhões de euros. Quase 50% do capital foi aplicado nas TIC e nos setores da biotecnologia e da saúde. “As empresas investidas por esta indústria têm desempenhos muito acima dos respetivos setores e criam mais e melhores empregos”, afirma Stephan de Moraes, presidente da Associação Portuguesa de Capital de Risco (APCRI).

A atividade de capital de risco na Europa recuperou em 2024, com um crescimento dos investimentos cotados em bolsa. O investimento total aumentou 24% para 126 mil milhões de euros, representando o terceiro maior resultado anual. O investimento em aquisições aumentou 42% para 87 mil milhões de euros, apenas ligeiramente abaixo do nível de investimento recorde registado em 2021, refere a APCRI em comunicado.

No outro extremo da cadeia de valor, as alienações cresceram em 2024, aumentando 45% para 46 mil milhões de euros (ao custo de investimento inicial) e 10% em termos de volume de transações. A saída de investimentos foi impulsionada por um aumento das vendas de empresas a outros fundos de ‘private equity’, enquanto as vendas comerciais a compradores estratégicos permaneceram fortes.

“Os nossos estudos dão uma visão global da atividade na Europa, bem como uma perspetiva pormenorizada dos gestores, países e sectores que impulsionam o sector”, afirma Eric de Montgolfier, CEO da Invest Europe, na mesma nota. “Os gestores europeus estão a angariar capital com êxito, a investir em empresas para promover a inovação e o crescimento e a sair das empresas para distribuir capital aos investidores, apesar da incerteza económica global e da volatilidade do mercado”.

Perante estes resultados o presidente da APCRI sublinha que “o desempenho do capital de risco na Europa vem provar que este é um setor decisivo para promover a reindustrialização deste espaço económico, promovendo a autonomia económica da União Europeia face à China e aos Estados Unidos da América”. Stephan de Moraes chama a atenção para o impacto social dos investimentos dos diversos tipos de fundos de capital de risco: “As empresas investidas por esta indústria têm desempenhos muito acima dos respetivos setores e criam mais e melhores empregos”.

Fundos acima dos 100 mil milhões de euros

O ano de 2024 representou o oitavo consecutivo com angariação de fundos europeus acima dos 100 mil milhões de euros, enquanto os fundos angariados no encerramento final atingiram 156 mil milhões de euros. Segundo a Invest Europe, este valor reflete, no entanto, “o tempo mais longo que os fundos demoram a fechar”. Em 2024 a angariação de fundos de capital de risco teve o seu segundo melhor ano de sempre, com 22 mil milhões de euros, apenas ligeiramente abaixo do pico de 2022.

A conclusão do CEO da Invest Europe “é que o capital está a circular com fluidez no sistema de capital de risco”. Segundo Eric de Montgolfier, este capital está a dirigir-se para os setores onde é necessário e nos quais pode fazer a diferença para as economia e sociedade europeias. “O capital de risco está a impulsionar a inovação e o crescimento das empresas, a criar riqueza que apoia os aforradores e os cidadãos na reforma, financiando setores que contribuirão para uma Europa mais forte, mais competitiva e mais soberana”, afirma Eric de Montgolfier.

O relatório da Invest Europe espelha onde a maioria do capital está a ser aplicado: quase 50% dos investimentos de capital privado são empresas nos setores das tecnologias de informação e comunicação (TIC) e da biotecnologia e saúde. As TIC representaram o setor com maior número de saídas das empresas investidas e, com 11,1 mil milhões de euros, ficaram em termos de valor apenas ligeiramente atrás dos bens de consumo e serviços.

O relatório assinala, também, algumas mudanças. A proporção de angariação de fundos provenientes de fundos de pensões diminuiu para 19%, embora a percentagem de capital proveniente de fundos de fundos e de outros gestores de ativos – canais frequentes para regimes de pensões mais pequenos que estão a democratizar esta classe de ativos – tenha aumentado para 27% do total. O montante de fundos angariados por operadores do Reino Unido e da Irlanda diminuiu, regressando aos níveis de 2021.

De salientar que, em entrevista recente ao Jornal PT50, Stephan de Moraes referiu que os investimentos em ‘private equity’ e ‘venture capital’ em Portugal já deviam estar a jogar na “primeira liga”, a par do que acontece nos outros países desenvolvidos, mas tal não está a acontecer. E defendeu que “os fundos deviam ser constituídos maioritariamente por capital privado e não capital público”.