
"Sem as medidas de estabilização de preços a inflação poderia situar-se, este ano, em 11,3%, bem acima dos 7,9% estimados. Medidas de estabilização de preços têm amenizado os impactos sobre os consumidores, as organizações e as empresas", afirmou Ulisses Correia e Silva, na Assembleia Nacional, na abertura do debate anual sobre o estado da Nação, aludindo às consequências da crise inflacionista que afeta o país após a guerra na Ucrânia.
"Depois da forte contração económica em 2020 [-14,8%], o ano de 2021 dava sinais claros de retoma, a economia cresceu 7% com baixa inflação, 1,9%. Os efeitos da guerra podem fazer o crescimento económico ficar em 4% e a inflação poderá disparar para 7,9% em 2022. Perante este cenário, a prioridade volta a ser mitigar os efeitos de mais uma crise com impactos gravosos para o país", afirmou.
Nos combustíveis, sublinhou, "sem as medidas tomadas pelo Governo", nomeadamente os mecanismos para limitar a atualização mensal de preços desde abril, os aumentos médios "poderiam ter-se situado entre os 18 e os 21%".
"Por causa das medidas, ficaram entre os 2,6 e os 4,1%. Evitámos consequências gravosas para as pessoas e as empresas", afirmou Ulisses Correia e Silva.
Acrescentou que as medidas adotadas também "têm permitido estabilizar os preços dos produtos alimentares de primeira necessidade e aumentar a capacidade de 'stock' de milho" em Cabo Verde: "Os preços dos produtos alimentares de primeira necessidade não acompanharam o aumento registado no mercado internacional, graças às medidas mitigadoras definidas e implementadas pelo Governo".
Ainda para mitigar o impacto da escalada de preços, o primeiro-ministro estimou em mais 3.000 milhões de escudos (26,9 milhões de euros) "o investimento para estabilizar os preços de produtos alimentares de primeira necessidade, realizar trabalhos públicos para propiciar rendimento às famílias mais atingidas pela insegurança alimentar, reforçar as refeições nas cantinas escolares e bonificar os preços de ração animal".
"Mais de cinco milhões de contos [5.000 milhões de escudos, 44,8 milhões de euros] até dezembro deste ano será o investimento necessário para o Governo fazer face à crise inflacionista na energia, estabilizar os preços dos combustíveis e da eletricidade, de forma a impedir que os valores atinjam níveis catastróficos para as famílias e as empresas", sublinhou.
Igualmente para mitigar os efeitos da atual crise nos rendimentos, Ulisses Correia e Silva disse ao parlamento que "foram celebrados, para uma primeira fase, contratos-programa com os municípios" no valor 231 milhões de escudos (dois milhões de euros), "para investimentos públicos geradores de emprego".
"Obras realizadas no âmbito do PRRA [Programa de Requalificação, Reabilitação e Acessibilidades] foram retomadas, dando continuidade a uma grande dinâmica de investimentos que permitiu construir e reabilitar mais de 150 quilómetros de estradas e desencravar várias localidades deste país", acrescentou, prometendo novos investimentos.
"Um novo pacote de investimentos na construção e reabilitação de estradas, requalificação urbana e de orlas marítimas, no valor de 35 milhões de dólares, financiado pelo Banco Mundial, irá ser lançado com impacto na dinamização da construção civil, no emprego e no rendimento das famílias de baixa renda", disse.
Acrescentou que mais 3.000 novos pensionistas do regime não contributivo "irão ser integrados a partir de setembro deste ano", permitindo "rendimento a idosos, uma camada social muito vulnerável às crises" e que "5.000 famílias serão mantidas com Rendimento Social de Inclusão".
A Assembleia Nacional de Cabo Verde discute durante o dia de hoje o estado da Nação, debate anual que encerra o ano parlamentar, com a presença do primeiro-ministro, quando o país vive uma "emergência social e económica".
Depois de dois anos (2020 e 2021) marcados pelo impacto da crise económica provocada pela pandemia de covid-19 e ausência de turismo, setor que garante 25% do Produto Interno Bruto (PIB) e do emprego, a escalada de preços no mercado internacional, provocada pela guerra na Ucrânia, volta a criar dificuldades à economia cabo-verdiana em 2022.
"Este é o momento de reforçar a confiança no país. Somos uma nação com secular história de resiliência. Ultrapassaremos as crises juntos e junto com os cabo-verdianos, como conquistas do povo cabo-verdiano. Os olhos devem estar colocados no futuro", rematou Ulisses Correia e Silva.
O debate sobre o estado da Nação encerra os três dias de sessão parlamentar, que se iniciou na quarta-feira, e marca o fim do ano parlamentar, com a interrupção dos trabalhos, habitualmente, até meados de setembro.
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