
A falta de talento e experiência em inteligência artificial (IA) é o maior obstáculo à adoção destas tecnologias pelas fintech em Portugal. Pelo menos para a maioria (53%) dos 338 participantes da conferência The FinAI Conf, um evento dedicado à troca de conhecimento e debate sobre os desafios da inteligência artificial (IA) no setor financeiro nacional, que teve lugar no passado mês de março.
No mesmo questionário realizado pela Portugal Fintech, ficou claro que, logo a seguir, os maiores obstáculos à adoção da IA são os sistemas e infraestruturas legados (44%) e a conformidade e incerteza regulamentar (31%).
Outras preocupações para a adoção da IA pelas fintech prendem-se com questões éticas e o desalinhamento estratégico. Também a falta de casos de uso claros e a qualidade e acessibilidade dos dados são vistos, apesar de com menos frequência, como bloqueadores na jornada de adoção da IA.
Quando questionados sobre as áreas onde esperam que a IA tenha maior impacto, foram apuradas cinco prioridades, nomeadamente, recorrer à IA generativa para melhorar a interação com os clientes e reduzir custos. A prevenção da criminalidade financeira ocupa o segundo lugar e centra-se na gestão das perdas por fraude e na segurança baseada na IA. A IA para RegTech para garantir a automatização da conformidade, a redução do tempo e do esforço operacional e os custos ocupam o terceiro lugar na lista de prioridades.
A biometria comportamental e a verificação de ID para melhorar a deteção de fraudes é a quarta prioridade. E a hiperpersonalização para a personalização em tempo real dos serviços financeiros fecha o top 5 das prioridades para criar vantagens competitivas.
Quanto às razões que estão a impedir os inqueridos mobilizar a adoção da inteligência artificial, os resultados dão conta de que a adoção da IA não está a estagnar devido à falta de interesse, mas sim devido à “falta das bases certas”. Ou seja, com base nas suas perceções, os maiores obstáculos são uma mistura de conhecimentos internos limitados, ROI pouco claro e infraestrutura de dados fragmentada. Em muitos casos, a IA não está a crescer porque os casos de utilização não são precisos ou o impacto comercial é difícil de medir. A cautela estratégica também é um fator, especialmente em áreas como a subscrição, onde a automatização total ainda parece fora de alcance, informa Portugal Fintech.
A nível operacional, a tecnologia antiga, os obstáculos à conformidade e as restrições orçamentais são os principais fatores de abrandamento. “Acrescentando a resistência cultural, a complexidade regulamentar e a pressão para satisfazer as crescentes expectativas dos clientes, torna-se claro porque é que muitas fintechs continuam em modo ‘testar e aprender’. Poucos intervenientes estão totalmente investidos, mas a maioria ainda está a construir as bases”, refere a Portugal Fintech na nota divulgada.
Recorde-se que, nesta conferência, Diogo Lencastre, da Divisão de Supervisão do Banco de Portugal, referiu que a IA é “uma prioridade estratégica” para o supervisor, apesar de ainda haver “muita incerteza” relativa aos riscos e ao seu impacto nos serviços financeiros.
O responsável de Supervisão enfatizou também que a IA é algo que deve ser incutido com preparação em toda a organização, recomendando que as empresas façam “escolhas certas” e desenvolvam planos internos para todas as equipas.