A sustentabilidade já não é um pilar isolado ou um “nice to have”, tornou-se parte integrante da estratégia das organizações. A emergência de desafios globais como as alterações climáticas, a escassez de recursos, as desigualdades sociais e as exigências regulatórias crescentes estão a acelerar a transição das empresas para modelos de negócio mais conscientes, éticos e regenerativos. Mas mais do que reagir, é preciso antecipar, liderar com visão e agir com coragem.

É neste contexto que o CSO – Chief Sustainability Officer, representando agora um dos papéis mais relevantes de C-level, define-se como uma função que exige pensamento estratégico, consciência global, capacidade de transformação e acima de tudo um profundo sentido de responsabilidade.

Vários estudos já demonstraram que mais de 50% das grandes empresas globais já contam com uma função executiva dedicada à sustentabilidade. No entanto, nem todas as empresas sabem exatamente o que esperar de um CSO e menos ainda quais competências são necessárias para desempenhar este papel de forma eficaz.

Vamos tentar trazer clareza a essa questão, aprofundando as competências essenciais para quem já desempenha ou ambiciona desempenhar esta função estratégica.

O CSO – Chief Sustainability Officer, é muito mais do que um expert em ambiente ou ESG, acredito que seja um verdadeiro maestro de orquestra. Uma figura com a sensibilidade e a visão para conectar áreas, liderando culturas e decisões estratégicas com o propósito de criar valor a longo prazo.

O verdadeiro compromisso começa quando reconhecemos que a sustentabilidade é uma jornada contínua de responsabilidade, inovação e intenção. Trata-se duma função para a qual é preciso coragem para repensar modelos, desafiar hábitos e colaborar com especialistas de diferentes áreas.

Partilho aqui as cinco competências que considero essenciais para um “CSO to be” que ambiciona liderar um futuro mais sustentável para as organizações, em todas as suas áreas de atuação (ambiental, social e de governance).

  1. Visão Sistémica e Pensamento Estratégico

O CSO não atua numa área, mas em todas. A sua missão é transversal, e por isso exige uma capacidade de pensamento sistémico que permita compreender as múltiplas interdependências entre setores da organização, cadeia de valor e contexto externo. Esta capacidade de conectar objetivos entre áreas tradicionalmente isoladas, como operações, marketing, finanças, recursos humanos e inovação faz com que conseguimos posicionar a sustentabilidade como um motor de transformação integrado.

Mais do que implementar iniciativas “verdes”, trata-se de garantir que a sustentabilidade está incorporada na cultura, nos processos e nos objetivos da empresa. Um bom exemplo disso é o Ombria Algarve, projeto de turismo e imobiliário sustentável no Algarve que desde o início, desenvolveu a sua estratégia integrando práticas de construção regenerativa, valorização do património natural e envolvimento da comunidade local, mostrando que sustentabilidade e luxo podem (e devem) caminhar juntos. Tudo isto só é possível com uma visão holística e de longo prazo, inerente ao perfil de um CSO.

A transformação começa quando percebemos que a sustentabilidade não é apenas mais um departamento, mas uma lente estratégica que atravessa toda uma organização exigindo uma leitura global do mundo e das suas interdependências.

  1. Literacia ESG e Atualização Contínua

As regulamentações, frameworks e métricas relacionadas com a sustentabilidade estão em constante evolução, exigindo dos líderes uma atualização contínua e uma visão estratégica apurada. Devemos estar familiarizados com as principais diretrizes que hoje moldam a forma como as empresas integram a sustentabilidade nas suas decisões, como, por exemplo, a nova Diretiva Europeia de Reporte de Sustentabilidade (CSRD), a Taxonomia Europeia, as recomendações do TCFD – Task Force on Climate-related Financial Disclosures, entre outros instrumentos regulatórios.

Porém, mais do que um conhecimento técnico, o CSO precisa ter a capacidade de traduzir essa complexidade normativa em ações estratégicas claras e acionáveis. As organizações precisam passar do discurso à evidência concreta, apresentando relatórios robustos, transparentes e auditáveis que reflitam não só o cumprimento legal, mas também o alinhamento com os objetivos do negócio.

Mas o papel do CSO vai além da conformidade. É crucial manter-se atualizado sobre temas emergentes e essenciais, estando em constante aprendizagem e evolução sobre as inovações tecnológicas com impacto ESG. Esse conhecimento deve servir para conduzir conversas estratégicas, tomar decisões informadas e, quando necessário, envolver especialistas técnicos para aprofundar áreas específicas.

Esta competência é tanto técnica quanto estratégica, pois permite transformar obrigações legais que são muitas vezes vistas como desafios em oportunidades reais de credibilidade, inovação e diferenciação competitiva para a organização.

  1. Comunicação multidimensional e capacidade de influência

Saber comunicar é saber liderar. O CSO precisa de ser um verdadeiro comunicador e influenciador tanto a nível interno como externo. Tem de ser capaz de comunicar com clareza os riscos e oportunidades da agenda ESG, envolver líderes, equipas, stakeholders, clientes, investidores e saber ainda orientar a opinião pública com transparência e integridade.

Mais do que dominar tecnicamente os temas da sustentabilidade, o CSO precisa de ter a capacidade de traduzir complexidade em clareza, ou seja, recolher, filtrar, organizar e interpretar dados para depois comunicar de forma adaptada a diferentes públicos. Deve por exemplo saber comunicar com o board em linguagem financeira, envolver equipas operacionais com empatia, responder a investidores com dados concretos e inspirar clientes com autenticidade.

Esta influência só é possível quando a sustentabilidade está verdadeiramente integrada nos valores e objetivos da empresa, sem recorrer a artifícios de greenwashing, e fazer assim da comunicação uma poderosa ferramenta de construção de confiança e reputação sólida.

  1. Inovação e Colaboração

Já percebemos que um CSO to Be deve ser um conector, alguém que cria pontes entre departamentos, parceiros, comunidades e até concorrentes, num mundo em que a sustentabilidade é um campo em constante evolução, e onde a inovação é vital. Mais do que dominar a agenda ESG, é necessário fomentar uma cultura interna de experimentação, cocriação e melhoria contínua. A inovação não é apenas sobre tecnologia, é sobre ter coragem para questionar o que sempre se fez da mesma forma. Envolve olhar para o modelo de negócio, processos, produtos ou serviços e se perguntar: “haverá uma forma mais inteligente e mais consciente de fazer isto?”

Inovar implica abrir espaço ao erro, envolver equipas multidisciplinares, integrar vozes externas e adotar novas tecnologias que potenciem a eficiência energética, a circularidade e a regeneração. Projetos como o Ombria Algarve, demonstram como a inovação pode estar ao serviço da sustentabilidade integrando a tecnologia ao serviço da natureza. Em vez de excluir o território, procurou-se regenerá-lo através de soluções como geotermia, reuso de águas, mobilidade elétrica e proteção ativa de biodiversidade junto da interação ativa com a comunidade local. Tudo isto só foi possível com uma liderança que soube ouvir, envolver especialistas e gerar valor com uma visão a longo prazo.

No fundo, a verdadeira inovação não é sobre o que fazemos, mas como decidimos o fazer em conjunto.

  1. Performance e sustentabilidade: Duas Faces da Mesma Moeda

Falar de sustentabilidade ou impacto positivo não significa abdicar de performance e rentabilidade. Ser sustentável não é apenas uma escolha ética, é uma escolha estratégica. Uma empresa que não gera receita suficiente para se manter financeiramente saudável não é, por definição, sustentável.

A nova geração de líderes precisa de desenvolver a capacidade de pensar impacto e inovação com os pés bem assentes na realidade dos negócios, sem perder de vista indicadores clássicos como crescimento, margem, retorno e produtividade. O desafio está em alinhar propósito e performance, criando valor não apenas para o negócio, mas também para colaboradores, comunidades, ecossistemas e futuras gerações.

É essencial expandir o conceito de valor, indo além do lucro imediato. Valor é aquilo que se mantém relevante no tempo, que fortalece a reputação, fideliza talentos e constrói relações duradouras com stakeholders.

Reforço, uma empresa que gera impacto positivo, mas não gera receita, não sobrevive. E uma que gera receita comprometendo o seu contexto social e ambiental, está a pôr o seu futuro em risco. O equilíbrio entre estas duas forças (propósito e rentabilidade) é onde reside a verdadeira inteligência da liderança atual, e a sustentabilidade é, sem dúvidas, o catalisador para resultados mais robustos, consistentes e duradouros.

O papel do CSO to Be é hoje mais essencial do que nunca. Este líder deve unir visão estratégica, coragem para liderar mudanças e capacidade de execução, traduzindo complexidade em ações concretas. Para isso, precisa de pensamento sistémico, literacia ESG atualizada, comunicação clara e empática, inovação colaborativa e o equilíbrio entre sustentabilidade e performance. A liderança que o futuro exige integra propósito e resultados, gerando valor duradouro para o negócio, para as pessoas e o planeta, relembrando que o momento de agir é agora.

Celia Meira,
Diretora de Marketing e Comunicação da Ombria Algarve
Membro do CSO Circle by BCSD Portugal