
Bety Gonçalves abraçou o negócio e ajudou o pai, à porta de casa, nas vendes no período de festas, com produtos novos e em segunda mão provenientes dos Estados Unidos da América nos tradicionais 'bidões' enviados pelos emigrantes.
"As vendas aqui em frente ao mercado têm sido melhores do que o habitual", explicou a jovem, à conversa com a Lusa.
Com uma montra improvisada onde expõem lençóis, roupas, materiais cosméticos e acessórios de moda, estes comerciantes informais resistem à subida da taxa de despacho nas alfândegas e oferecem diferentes alternativas aos consumidores que procuram pagar menos do que nas lojas, em produtos que chegam por via marítima despachados em 'bidões'.
Cabo Verde enfrenta uma profunda crise económica e financeira, decorrente da forte quebra na procura turística, setor que garante 25% do PIB, desde março de 2020, devido à pandemia de covid-19.
Foi nesta altura que Nilda Gomes começou a vender na rua as roupas recebidas nos 'bidões', oferta que se juntou ao milho e feijão: "Estava com dificuldades em fazer escoar minha venda porque vendia mais milho e feijão vindos do exterior do país e tendo em conta os anos de seca, tive que procurar outra alternativa".
Os seus produtos, diz, têm origem na Holanda e na França, com o envolvimento de familiares que enviam estas encomendas, mas os encargos também não param de subir.
"Antes desalfandegava os produtos por 4.000 escudos [36 euros], mas agora ficou em torno de 6.000 a 10.000 escudos [54 a 90 euros]. Porém, temos que ser flexíveis com os produtos, para os clientes, caso contrário não conseguimos vender", admitiu a vendedora de rua.
A taxa de desemprego em Cabo Verde de 2020 aumentou para 14,5%, tendo em conta que em 2019 situava-se em 11,3%, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística, pelo que vendar a rua é uma alternativa para muitos e um rendimento extra para outros.
É o caso da aposentada Vanda Brito, que gere uma boutique, mas é à porta do mercado do Mindelo que nos últimos dois anos tem apostado na saída das mercadorias.
"Sou pensionista, viúva e vender aqui faz-me estar mais em contacto com as pessoas, estar por dentro do que acontece na sociedade e, claro, aumentar a minha renda mensal", explicou.
Sendo esta a sua atual principal atividade, Vanda Brito admite algumas dificuldades neste período, nomeadamente para levantar as mercadorias e os 'bidões'.
"Estamos a ter dificuldades com o levantamento a tempo dos produtos nas agências transitárias, tendo em conta que costumamos ter mais vendas é no Natal. Na segunda-feira consegui levantar uma parte das encomendas e disseram-me que esta semana retiro a restante", explicou.
Apesar de ser um negócio informal, a comerciante garante que em época de crise teve que abrir mão de fiado, que também é usual neste ramo, para não "estragar" as amizades. No entanto, mesmo com dificuldades, pretende continuar a apostar nas vendas em casa e nas ruas.
"A cena de boutique já não é viável para mim porque as pessoas preferem outras alternativas para adquirir os seus produtos. Vendendo e adquirindo os produtos nas ruas há mais convivência e fica mais em conta", admitiu.
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