
2025, o Ano da Serpente, tem para os chineses um simbolismo de renovação e crescimento. E se a astrologia não é o prato forte de muitos, os resultados que a chinesa BYD tem atingido neste ano pelo menos dão que pensar. Em abril, a marca de veículos elétricos ultrapassou pela primeira vez a Tesla em vendas na Europa, com um total de 7.231 carros 100% elétricos vendidos neste continente (mais 66 automóveis do que a marca de Elon Musk), uma proeza que não vem apenas da perda de popularidade do multimilionário americano: se é verdade que as vendas da Tesla caíram a pique, com os números a ficar 49% abaixo dos de há um ano, nesse mesmo intervalo a BYD deu um salto de 169% (valor que mais do que duplica quando somados também os híbridos aqui vendidos).
Curiosamente, em Portugal, onde a marca chinesa de automóveis que parece estar a acelerar para conquistar o mundo da nova mobilidade chegou há apenas dois anos, a ultrapassagem registou-se ainda antes. Logo em janeiro deste ano, ao mesmo tempo que as vendas de automóveis em Portugal sofriam uma quebra de quase 10%, a BYD vendia 392 carros, mais três do que a Tesla.
"A celebrar 30 anos de vida, a BYD é uma história de sucesso", frisa o COO em Portugal, Pedro Cordeiro ao SAPO, sem esconder a ambição que tem para este mercado: "Queremos ser líderes de vendas no somatório das duas tecnologias de new energy vehicles, e fechar este ano a vender mais de 6 mil unidades. Nos elétricos temos caminho a fazer, mas garantidamente chegaremos ao pódio."
E ao ritmo que os carros estão a sair das fábricas — com modelos para enfrentar as estrelas de cada gama, a preços altamente competitivos, e já com planos para localizar mais investimentos na Europa, nomeadamente em Portugal, conforme ainda nesta semana confidenciou o embaixador da China em Lisboa, Zhao Bentang —, não será de estranhar que elevem ainda mais a fasquia.
Basta ver que a marca chinesa demorou 13 anos para produzir o primeiro milhão de automóveis, tornando-se logo então na primeira fabricante do mundo a atingir 1 milhão de new energy vehicles; atingiu os 5 milhões em 15 anos e ainda antes de 2024 chegar ao fim já somava 10 milhões de viaturas saídas das suas fábricas. Com o mercado a absorver cada unidade com avidez.
Há 30 anos, eram as baterias
Fundada por Chuan Fu Wang, um engenheiro químico em fevereiro de 1995, escassos meses antes de o SAPO nascer como absolutamente inovador Serviço de Apontadores Portugueses, "desde a sua génese que a BYD desenvolveu baterias e tecnologia própria", conta ao SAPO o COO em Portugal. À época, a empresa fundada na cidade de Shenzhen, no sul da China, para fabricar baterias de Ni-Cd tinha meros 20 funcionários. Um ano mais tarde, viria a especializar-se em baterias de iões de lítio e conquistava como clientes os gigantes dos telemóveis.
Ainda antes de a marca criada num premonitório acrónimo de Build Your Dreams evoluir para a parte automóvel, em 2003, "as baterias recarregáveis chegaram rapidamente à Europa, nos nossos Nokias e Motorolas dos anos 90", lembra Pedro Cordeiro.

"Focada em fornecer soluções de energia com zero emissões, da aquisição à aplicação", foi ainda antes de cumprir a primeira década de vida que a BYD comprou a Qinchuan Machinery Works, uma pequena fabricante, e conseguia assim a licença para expandir o negócio ao ramo automóvel e apostando com mais força na inovação tecnológica. Dois anos mais tarde, saía do forno da BYD Auto o primeiro modelo, ainda a combustão, o F3, e logo em 2008 a marca apresentava ao mundo o primeiro PHEV - híbrido elétrico plug-in a ser comercializado, no Salão Automóvel de Genebra, o F3DM.
Se o feito não passou despercebido — nomeadamente a Warren Buffett, que viria a comprar 10% da BYD —, os avanços conseguidos em Shenzhen, nomeadamente com as pioneiras e patenteadas BYD Blade Battery, a plataforma desenvolvida propositadamente para carros elétricos (e-Platform 3.0) ou a tecnologia CTB (Cell to Body, que não apenas fornece energia como se torna uma componente estrutural do carro), vieram revolucionar o mercado das viaturas elétricas, com a empresa a ganhar não apenas a liderança mas o domínio das tecnologias centrais de toda a cadeia de produção.
Ascensão-relâmpago num mundo a reinventar a mobilidade
Na década seguinte, nas fábricas chinesas multiplicava-se a oferta, de camiões elétricos a empilhadoras, táxis e autocarros, mas também a inovação tecnológica, levando, em 2018, à apresentação do semicondutor IGBT 4.0, que a marca descreve como " o componente mais importante para um veículo elétrico, logo a seguir às baterias". Sem esquecer a importância do design, com a criação de um centro próprio que viria a revelar-se fundamental para a marca se expandir, nomeadamente na Europa.

Em 2023, já a operar em exclusivo no mercado eletrificado e tendo cumprido ha um ano, no Salão Automóvel de Paris, o lançamento oficial dos automóveis de passageiros da BYD na Europa — concentrando-se nos EV e PHEV—, a BYD quebrava recordes com 7 milhões de carros produzidos e um volume de negócio que ultrapassava o objetivo de 3 milhões de vendas anuais, sendo campeã mundial nos new energy vehicles e estreando-se no top 10 global de vendas de carros.
A escalada em Portugal
Foi também nesse ano de 2023, a 11 de maio, que a BYD abriu portas em Portugal. "Lançámos a marca e logo no arranque correu muito bem", conta o responsável no país. "Mesmo tendo só meio ano de operação, foi um primeiro ano impactante, e em 2024, primeiro ano completo e já com desenvolvimento de rede e uma estratégia de estarmos próximos dos clientes (os parceiros asseguram este suporte de venda e após-venda), crescemos todos os meses. Com ajuda da tecnologia e lançamentos de viaturas durante o ano, atingimos 3.200 matrículas vendidas no ano passado, o que nos deixou num lugar cimeiro e de pódio nos elétricos", vinca Pedro Cordeiro.
No lançamento do Atto 2, um B-SUV compacto urbano, o COO da BYD Portugal aponta esse modelo e o crossover Sealion 7, no segmento D-SUV, como duas peças-chave para alavancar as vendas neste ano. "Vão ajudar-nos a liderar o mercado nacional."

Com a primeira metade do ano feita (mas os números de junho ainda por fechar), esse caminho parece estar a ser feito com toda a tranquilidade. Em fevereiro, enquanto o mercado nacional continuava a cair (-2% relativamente a 2024 e acumulando -5,4% nos primeiros dois meses deste ano), a marca chinesa quase triplicava as vendas (+186,2%), sendo a campeã no crescimento, com 352 carros vendidos e fixando o quarto lugar na tabela dos elétricos.
De acordo com os números da ACAP - Associação Automóvel de Portugal, nos cinco primeiros meses do ano a BYD acumula 2.259 carros vendidos (+215,9% relativamente a maio de 2024), ficando no mês de maio 76% à frente da Tesla (574 carros num mês contra os 326 da marca americana).
A nível mundial, a marca chinesa fechou maio com o seu melhor registo mensal: 382.476 carros vendidos, quase dois terços deles 100% elétricos.