O anúncio foi feito à agência Lusa pelo diretor de Operações de Mercado da Bolsa de Valores de Cabo Verde, Edmilson Mendonça, à margem de um 'webinar' realizado no âmbito das atividades comemorativas do 23.º aniversário da instituição.

Segundo o mesmo responsável, o preço unitário da operação vai ser 1.000 escudos (9 euros) por cada obrigação, mas ainda é cedo para avançar detalhes quando aos valores ou taxa de juros da operação inédita em Cabo Verde.

A emissão começou no início deste ano, com a abordagem inicial, análise dos projetos, montagem do dossiê e neste momento a entidade emitente (Morabi) está na fase da contratação de um revisor externo para verificar se todo o processo está em conformidade com as normas internacionais.

"Acreditamos que no próximo mês de junho teremos a conclusão e a realização efetiva desta primeira emissão social", perspetivou o diretor.

Promover maior inclusão social, criação de empregos, apoiar as mulheres chefes de famílias nos seus pequenos negócios e promover maior sustentabilidade e desenvolvimento do país, são os objetivos apontados pelo diretor, referindo que estes grupos-alvo estão a ter cada mais maior dificuldade no acesso ao crédito, sobretudo agora, com a pandemia de covid-19.

"A Morabi terá esse papel fundamental no financiamento, no apoio financeiro a essas entidades", prosseguiu Edmilson Mendonça.

A cooperativa de poupança e crédito foi criada em 21 de dezembro 2018, em resultado da separação das atividades de microfinanças e sociais que, até então, vinham sendo desempenhadas pela Morabi - Associação Cabo-verdiana de Autopromoção da Mulher.

Para o porta-voz da Bolsa de Valores de Cabo Verde, este é o primeiro passo para outras instituições cabo-verdianas emitirem obrigações, quer sociais, verdes ou sustentáveis, para financiar projetos em áreas como habitação e outros problemas sociais no arquipélago.

Nesta operação, disse que o maior risco que o investidor poderia invocar é o de colocar o seu dinheiro numa entidade e depois não receber o seu juro ou o seu capital de volta, mas neste caso exige-se à entidade emitente uma "garantia sólida".

Outro risco é o do uso dos recursos, prosseguiu, salientando que é aí que entra o papel do revisor externo, não só na verificação se todo o dossiê está em conformidade com as normas internacionais, mas também na verificação dos documentos anuais que vão sendo produzidos.

"Desde logo os relatórios de alocação e o relatório de impacto. Aqui este mecanismo irá reduzir ou praticamente mitigar o uso indevido dos recursos", mostrou o diretor,

Depois da emissão das obrigações sociais em junho, o diretor de Operações, que apresentou um painel sobre "Mercado de Social Bonds: perspetiva da Bolsa de Valores", prevê que até ao final deste ano a Morabi consiga canalizar todos os recursos para o seu público-alvo.

Para o presidente da BVCV, Miguel Monteiro, Cabo Verde tem um "grande potencial" para o desenvolvimento do 'mercado social bonds' e o processo em curso da Morabi é apenas um exemplo da forma como o país pode materializar com eficácia o seu propósito de sustentabilidade.

Na sua intervenção na abertura do 'webinar', por videoconferência, o ministro da Família e Inclusão Social, Fernando Elísio Freire, disse que, com a pandemia da covid-19, exige-se formas criativas de desenvolvimento, sublinhando que as obrigações sociais podem ir mais além e alavancar a economia social e solidária.

Por sua vez, o vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças, Olavo Correia, também por videoconferência, garantiu no encerramento toda a disponibilidade do Governo para criar um quadro legal incentivador, por entender que as obrigações sociais são uma "excelente oportunidade" para melhorar o mercado financeiro e de capital e tornar a economia "mais inclusiva".

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