Um economista da delegação do Banco Mundial (BM) em Díli disse à Lusa que a instituição está a começar a recolher indicadores para perceber o impacto que a crise política timorense na economia.

"Certamente que vamos baixar [as previsões]. Temos de ver agora alguns indicadores, como as receitas de alguns impostos, que são pulso do consumo, para ter ideia da dimensão da redução", explicou Pedro Martins.

O principal impacto na economia deverá vir da contração no investimento público, com o Estado a viver em regime de duodécimos desde 01 de janeiro e por tempo indefinido.

"O que aconteceu em 2018 [com o regime de duodécimos] é que há alguma proteção de aspetos como salários, o que sustenta de certa forma o consumo privado", explicou.

"Olhando para 2020, o que se espera, é que esta incerteza não vai ser muito boa para o setor privado. O crescimento do investimento privado em 2019 pode cair novamente", adiantou.

E ainda que algum consumo privado se mantenha, a economia pode ressentir-se de padrões de gastos mais conservadores e de uma queda significativa no investimento público, com impacto especial em setores como o da construção.

Ainda sem referir números concretos, Pedro Martins deu como quase certo uma redução na previsão inicial de crescimento de 4,5% do PIB este ano, valor que já era mais conservador que a previsão do Governo.

O economista referiu que, além da correção na previsão do crescimento para 2020, a instituição pode também rever em baixa a estimativa de crescimento económico em 2019, "que deverá ficar abaixo dos 4%", devido a um desempenho menos otimista que o inicialmente previsto na reta final do ano.

Timor-Leste tem vivido, desde 2017, vários momentos de crise política, com a dissolução do parlamento eleito nesse ano, eleições antecipadas e longos períodos em regime de duodécimos, com um impacto significativo na economia.

O BM estimou no último relatório económico, divulgado em dezembro passado, que a situação política em 2017 e 2018 tinha custado à economia 350 milhões de dólares (316,6 milhões de euros).

A instituição previa uma recuperação este ano, de 4,6%, muito abaixo dos 7,2% previstos pelo Governo. A previsão do Governo timorense foi feita antes da nova crise lançada com o "chumbo" em janeiro da proposta de OGE para 2020.

Uma situação que deixa o país por tempo indefinido em duodécimos, com cortes nos gastos do Estado e uma possível queda na confiança do consumidor, que "pode ser afetada e pode levar a menor despesa", acrescentou Pedro Martins.

O economista antecipou, para este ano, alterações no padrão de créditos bancários, com "grande expansão em 2018 e 2019 à custa de indivíduos e não de empresas", com alguma "recuperação da confiança".

"Agora poderemos ver uma inversão, com maior contenção e receio de fazer grandes investimentos privados", explicou.

Pedro Martins antecipou um grande impacto a nível do setor da construção e uma queda nas importações, consequência da queda no investimento público.

Essencial para perceber a dimensão económica da crise será a solução encontrada para resolver a atual situação política, nomeadamente, a realização, ou não, de eleições, a sua data e as consequências da formação de novo Governo.

O economista lembrou que estas previsões estão centradas na economia não-petrolífera, notando que a partir deste ano e devido à assinatura do tratado de fronteiras marítimas com a Austrália, os dados macroeconómicos passarão a incluir valores do setor petrolífero.

 

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