A dança dos milhões comanda o futebol moderno. Uma verdade de La Palice. Chelsea e PSG ocupam uma posição primordial na pirâmide dos Golias orçamentais. No entanto, o dinheiro não traz obrigatoriamente os melhores resultados desportivos. Como tal, ambas as equipas necessitaram de se reconstruir nos últimos anos para retornarem aos palcos das principais decisões.

Agora, os dois tubarões europeus vivem agora um período mais colorido, com a presença na final do Mundial de Clubes a validar este ideal. O zerozero avaliou o percurso das duas formações nas últimas temporadas, de forma a tentar entender que mudanças profundas guiaram os clubes à concretização dos seus objetivos.

A busca incessante pela Champions

Nasser Al-Khelaïfi, CEO da Qatar Sports Investments e líder máximo da Federação de Ténis do Catar, foi o principal responsável pela mudança de paradigma dos parisiens. Em 2011, o milionário empresário tornou-se presidente do clube, que até ao respetivo momento só possuía 12 títulos de campeão francês.

Nos dias que correm, os dedos das mãos não são suficientes para contar os troféus da Ligue 1 que o temível emblema da capital já levantou - 13, para ser preciso (!) -, já para não falar das restantes conquistas no panorama nacional. Porém, o recordista de títulos gauleses estava bastante longe de replicar o sucesso fora de portas, apesar dos enormes valores investidos em contratações.

Em 2017, o PSG desembolsou 222 milhões de euros para a aquisição de uma das maiores estrelas do futebol internacional: Neymar, uma das principais figuras do Barcelona. Recorde-se, caro leitor, que é, até aos dias de hoje, o maior negócio da história deste desporto. A torneira do dinheiro continuava a escorrer em Paris e, como tal, o ano que se sucedeu ficou marcado por outro valor astronómico.

Após o empréstimo concedido pelo Monaco, a cláusula de compra obrigatória por Kylian Mbappé foi ativada em 2018, num negócio que ficou estabelecido em 180 milhões de euros. Estes são apenas alguns exemplos da acrescida superioridade orçamental dos rouge-et-bleu.

Destaque, ainda, para as chegadas de Achraf Hakimi em 2021 (a rondar os 60 milhões de euros), Gonçalo Ramos em 2023 (a rondar os 65 milhões de euros mais objetivos) ou Ángel Di María em 2015 (a rondar os 65 milhões de euros). Não esquecer os 95 milhões de euros investidos em Randal Kolo Muani (ex-Eintracht Frankfurt), no mercado de verão de 2023.

Todavia, a elevada capacidade individual não se traduzia em conquistas da Orelhuda, o objetivo principal de Al-Khelaïfi. Depois de múltiplas eliminações precoces, a melhor tentativa remontava há temporada 2019/20, ano atípico fruto da pandemia e consequente ausência de adeptos no estádio.

Os parisiens chegaram à final após deitarem por terra as aspirações de Borussia Dortmund, Atalanta e RB Leipzig na fase a eliminar. Contudo, o conjunto galáctico acabou por ter um amargo de boca em pleno Estádio da Luz, com o golo solitário de Kingsley Coman - lei do ex - a ser responsável pela euforia bávara. Novas desilusões chegaram posteriormente... era necessária uma mudança drástica no projeto.

Luis Enrique e a valorização do coletivo

Em 2023, Luis Enrique foi o escolhido pela direção para suceder a Christophe Galtier, com a clara missão de colocar a célebre equipa no topo do futebol mundial. Na primeira temporada do técnico espanhol ao comando, o PSG venceu a Tríplice Coroa caseira, mas voltou a ser afastado nas meias-finais da Liga dos Campeões.

Tudo faria crer que a época seguinte fosse mais problemática, fruto de uma saída bastante sonante. Kylian Mbappé despediu-se dos rouge-et-bleu após sete temporadas ao serviço do emblema francês, acabando por assinar a custo zero pelo Real Madrid. Contudo, o término da ligação com a superestrela acabou por ditar o arranque da revitalização parisiense.

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O experiente treinador queria mostrar que a respetiva ocorrência não era suficiente para desmobilizar o grupo. Para tal, era essencial reforçar algumas posições com reforços de peso. João Neves, Willian Pacho, Khvicha Kvarastskhelia e Désiré Doué encaixaram como uma luva na filosofia do antigo selecionador da La Roja. O progresso da equipa ficou claro com o decorrer da época, na sequência de alguma inconsistência na Fase de Liga da prova milionária.

No playoff, o PSG cilindrou o Brest, antes de apanhar pela frente um temível Liverpool. A dura batalha entre o emblema gaulês e os reds só ficou resolvida na decisão por grandes penalidades, onde brilhou o gigante Gianluigi Donnarumma. Para além do grande rendimento dos novos pupilos, os jogadores da casa também viviam um excelente momento de forma: Vitinha e Ousmane Dembélé eram dois dos protagonistas da temporada 2024/25.

O rolo compressor de Luis Enrique nunca mais abrandou. Na maior montra do futebol europeu, seguiram-se triunfos convincentes sobre Aston Villa e Arsenal, que carimbaram o passaporte dourado para a final da competição. Chegava a hora de fazer história.

A verdade é que o PSG impôs a sua superioridade frente ao Internazionalde desde o arranque da partida. Na Allianz Arena, Hakimi abriu o marcador aos 12', depois de uma bela jogada coletiva. Posteriormente, os tentos de Désiré Doué - em dose dupla -, Kvaratskhelia e Senny Mayulu selaram a festa tão aguardada pelos adeptos. Nesta campanha, os parisiens já garantiram o memorável quadruplete, mas sonham com mais...

Boehly abre os cordões à bolsa

Após 19 anos no comando do Chelsea, Roman Abramovich, dono do clube inglês, foi expulso da presidência, devido à forte ligação com Vladimir Putin, na sequência dos conflitos entre a Rússia e a Ucrânia.

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A forte sanção aplicada pela Premier League acabaria por alterar o rumo dos blues. Todd Boehly, célebre empresário norte-americano, adquiriu o clube - juntamente com a empresa Clearlake Capital.

Os adeptos esperavam mudanças cirúrgicas, depois de um honroso terceiro lugar na Premier League em 2021/22. No entanto, não foi era esse o plano presente na cabeça do dirigente. Numa autêntica revolução, o emblema de Stamford Bridge libertou 20 jogadores - muitos saíram a custo zero -.

No sentido inverso, o Chelsea desembolsou 280 milhões de euros na janela de verão, numa clara aposta em jovens promessas, como Wesley Fofana ou Chukwuemeka. As respetivas contratações tinham o intuito de dar uma nova vida ao mítico conjunto, porém, os resultados desta filosofia não foram os esperados.

Nem Thomas Tuchel, nem Graham Potter, nem mesmo Frank Lampard conseguiram levar a bom porto um plantel tão jovem. A tabela classificativa do campeonato inglês representava os problemas estruturais do clube: em 2022/23, a turma londrina terminou no 12.º posto, sendo eliminada de forma precoce nas restantes competições.

Mudar a estratégia para voltar a vencer

Enzo Maresca chegou ao Chelsea em junho de 2024, sucedendo, assim, a Mauricio Pochettino. O ex-Leicester City procurou alterar o rumo do projeto e, como tal, rapidamente definiu um elenco mais curto, no qual tivesse uma maior margem para passar a sua mensagem.

Apesar das dificuldades iniciais, o Chelsea começou a apresentar um futebol mais atrativo, uma vez que conseguiu extrair a melhor versão de jogadores desacreditados. Por exemplo, Enzo Fernández e Moisés Caicedo, dois meio-campistas que chegaram à instituição por uma valor superior a 100 milhões de euros, começaram a abrir o livro gradualmente.

No entanto, a maior superestrela dos blues atuava no ataque: Cole Palmer, contratado ao Manchester City, rapidamente se afirmou com a camisola azul escura, anotando uns expressivos 25 golos e 15 assistências na sua época de estreia pelo clube. O internacional inglês passou a ser o menino querido da massa associativa.

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Na Premier League, o pulo competitivo da respetiva equipa foi acentuado. Os pupilos de Maresca voltaram finalmente ao top-5 da competição na época 2024/25, através dos 69 pontos arrecadados. Todavia, o destaque da campanha prendia-se com outro torneio, no retorno ambicionado ao caminho dos troféus.

O Chelsea alcançou a final da Conference League, depois de eliminar FC Kobenhavn, Legia Warszawa e Djurgarden na fase a eliminar. No derradeiro embate, o adversário seria o Real Betis - emblema espanhol de maior expressão -. A verdade é que os blues arrancaram o duelo com o pé esquerdo, sofrendo um golo precoce de Abde Ezzalzoui.

Contudo, o emblema da capital inglesa mostrou a clarividência necessária para contornar a situação. As finalizações certeiras de Enzo Fernández, Nicolas Jackson, Jadon Sancho e Moisés Caicedo levaram a que os simpatizantes celebrassem em território polaco. Com uma ideologia mais organizada e com aquisições mais ponderadas, os ventos da mudança finalmente chegaram.

Mundial de Clubes: mais uma oportunidade à vista

Na sequência das preciosas conquistas europeias obtida neste ano, PSG e Chelsea têm agora mais uma oportunidade dourada para ampliar o palmarés. No MetLife Stadium, as duas equipas vão enfrentar-se no próximo domingo para definir quem é o campeão do Mundial de Clubes 2024/25.

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Numa primeira instância, o emblema de Paris liderou o Grupo B, já a equipa de Londres ocupou o segundo lugar do Grupo D, fruto de um tropeção frente ao Flamengo. Este acidente de percurso acabou por calhar bem aos blues, que acabaram por ficar no lado da árvore teoricamente mais fácil.

Os comandados de Maresca superaram Benfica, Palmeiras e Fluminense, com triunfos convincentes. No que diz respeito ao PSG, Inter Miami, Bayern München e Real Madrid não foram capazes de travar o poderio dos pupilos de Luis Henrique, que continuam a atravessar um grande momento.

Independentemente do desfecho da final, ambas as formações aprenderam uma bela lição ao longo da presente campanha: grandes investimentos só resultam se estiverem inseridos em projetos estruturados, com modelos organizados e sustentáveis. Veremos agora quem é que vai levantar o prestigiante caneco.