Na antevisão ao derradeiro duelo da fase de grupos do Europeu sub-21, Rui Jorge elogiou a agressividade e combatividade da seleção da Geórgia. São atributos que nos habituámos a admirar nas equipas daquele país, formações que, nos derradeiros verões, se têm cruzado, em diferentes escalões etários, com Portugal.

Só que, por vezes, a margem entre uma entrada heroíca e uma abordagem desnecessária são escassos milímetros. São pequenas frações de segundos.

Que o diga Lasha Odisharia.

Cheio do espírito de combate da Geórgia, Odisharia lançou-se para um disputa com Nazinho aos 130 segundos do encontro frente a Portugal. Mas chegou escassos milímetros tarde, atirou-se frações de segundo atrasado. Resultado? Não foi um lance combativo ou de fazer ranger os dentes. Foi uma ação que levou Lasha a pedir desculpa.

Estavam decorridos 5 minutos quando o georgiano foi expulso, na primeira de duas ofertas feitas à equipa de Rui Jorge. Duas dezenas de minutos depois, foi o guardião Kharatishvili a somar-se às oferendas. Rodrigo Pinheiro chegou à linha de fundo e cruzou, com a bola, sem explicação, a passar por entre as mãos do guarda-redes, entrando escorregadia, penetrando num espaço que parecia não existir entre quem defendia a baliza e o seu poste esquerdo.

O que poderia ser uma dor de dentes tornou-se quase um passeio. Um passeio com alguma dor, com o desconforto causado pelas pancadas dos aguerridos adversários, mas uma tarde em que o mais importante não esteve em causa. Portugal ganhou por 4-0, triunfou no grupo C e fica à espera pelo segundo do grupo D para o duelo dos quartos de final.

O vermelho madrugador a Odisharia
O vermelho madrugador a Odisharia Boris Streubel - UEFA

Em Trencín, a pequena localidade eslovaca com um aroma a competição de camadas jovens, com o seu arrumado estádio e o sol de fim de tarde a por-se à medida que o relógio avançava, o grande protagonista dos homens de Rui Jorge não foi um nome surpreendente. Geovany Quenda, 18 anos feitos em abril, é consideravalmente mais novo que muitos dos companheiros e adversários, mas assume-se como nome maior do Europeu. Assistiu para o 1-0, brilhou para fazer o 2-0.

O que poderia ser um problema, pelo menos a avaliar pelo duelo entre ambas as seleções no passado Europeu da categoria — triunfo georgiano em casa — e pela amostra deste torneio, em que a Geórgia bteu a Polónia e só foi batida pela França com um golo aos 90+12’, tornava-se, afinal, num presente, servido à base de vermelhos e um golo consentido.

Em vantagem no marcador e no número de efetivos em campo, Portugal foi gerindo. Paulo Bernardo chegou às 31 internacionalizações no escalão, desempatando com Manuel Fernandes e tornando-se recordista de presenças pelos sub-21, e quase assinalou a marca com um golo, sendo travado por Kharatishvili aos 30’. Henrique Araújo também chegou aos 31 encontros ao entrar no segundo tempo, indo a tempo de protagonizar um falhanço incrível, perdoando o 4-0 antes de o apontar de penálti.

Passados cinco minutos, duas das marcas de identidade desta equipa uniram-se para quase protagonizarem o 2-0. Diogo Nascimento é o cérebro do coletivo, um pequeno médio-centro cheio de boas ideias futebolísticas, um centrocampista que, gostando de estar na base das jogadas, também se aproxima da área. Foi lá que serviu Quenda, que tirou um defesa do caminho e quase dobrou a vantagem portuguesa.

Rodrigo Pinheiro festeja o 1-0
Rodrigo Pinheiro festeja o 1-0 Boris Streubel - UEFA

Tendo uma montanha para escalar pela frente, a Geórgia continuou com o seu futebol de agressividade muitas vezes descontrolada. Das 47 medalhas que o país tem em Jogos Olímpicos de verão, 38 foram obtidas em luta greco-romana (21), judo (15) e boxe (duas). Talvez inspirada por isto, a equipa foi acumulando entradas mais dignas de modalidades de combate. Rui Jorge, precavido, tirou os amarelados Roger e Mateus Fernandes bem cedo, consciente da importância de manter a superioridade numérica.

Aos 62', Quenda, viciado em protagonismo, combinou com Gustavo Sá, cheio de acerto na definição, com urgência mas sem pressa, e atirou para o 2-0. A vitória no jogo e no grupo já não estavam em discussão.

O espalho do desastre da Geórgia viu-se aos 76'. Yegoian conduzia um contra-ataque que poderia ser promissor, mas, ao tentar lançar na ala, acertou em Lominadze. Não só o lance perdeu-se, como o seu companheiro ainda saiu combalido da ação.

Os minutos finais foram de passeio para Portugal. Com novos protagonistas em campo, confirmando que há fome a vir do banco nesta seleção, Rodrigo Gomes fez o 3-0 aos 87' e, de penálti, Henrique Araújo selou o 4-0 final aos 90+5'.

Três jogos, sete pontos, nove golos marcados, nenhum sofrido. Aproveitando erros alheios e consolidando protagonistas, a fase de grupos serviu para Portugal ir com certezas individuais e coletivas para os encontros a eliminar. E com um claro candidato a melhor jogador do torneio.