Fica difícil explicar como é que se é eliminado de uma competição com apenas um golo sofrido. Pior fica o cenário quando esse golo foi marcado por uma equipa a jogar com menos um há setenta minutos e após um penálti falhado pela equipa em superioridade numérica.

Tudo isto aconteceu a Portugal no Europeu sub-21, na Eslováquia. A seleção nacional

apresentava-se nos quartos de final com os Países Baixos com o elan emocional de uma fase de grupos muito positiva, bom futebol e individualidades em estado de graça - Geovany Quenda à cabeça. A expulsão de Ruben van Bommel (sim, filho de Mark) aos 21 minutos parecia estender ainda mais a passadeira vermelha e verde para as meias-finais, mas jogar em vantagem tornou-se numa kriptonita para o jogo português, que piorou muito depois do primeiro infortúnio neerlandês, depois de uns primeiros 20 minutos de grande à-vontade e até autoridade do jogo português.

Sem Roger Fernandes, mais mais gente no miolo - Diogo Nascimento e Gustavo Sá em plenas funções de ligação de jogo -, Portugal começou o encontro a jogar a um nível superior, com o lado direito do ataque em destaque. Foi de lá que nasceram duas situações de perigo para a baliza dos Países Baixos, primeiro num lance dinâmico entre Quenda e Rodrigo Pinheiro, com Tiago Tomás a falhar completamente o remate depois de Gustavo Sá ter contribuído com uma perspicaz simulação. Minutos depois, Mateus Fernandes lançou Quenda, com o jovem do Sporting a rematar cruzado, bem perto do 2.º poste.

Boris Streubel - UEFA

A expulsão de Van Bommel, após duas faltas a travar ataques rápidos de Portugal, eram um sintoma das dificuldades dos Países Baixos em controlar os movimentos rápidos de Portugal, da facilidade em ligar os setores e aparecer no último terço.

E com os Países Baixos a jogar com 10, tudo mudou. Para bem pior.

Frente às linhas mais afundadas do adversário, já sem campo aberto para as correrias de Quenda e os toques rápidos de Sá, Portugal sofreu para criar perigo. Aos 31’, uma falta sofrida por Tiago Tomás já junto à linha final significou uma oportunidade de ouro para desbloquear o jogo, mas Quenda desaproveitou novo infortúnio laranja, remantando em cheio ao poste.

Por esta altura, o golo de Portugal parecia apenas uma questão de paciência, mas a 2.ª parte não trouxe melhorias no processo português, que no final da 1.ª parte já tinha tido dois sustos junto à baliza de Samuel Soares. O primeiro lance foi anulado por fora de jogo, mas o segundo, num contra-ataque cínico, só Samuel Soares travou.

Boris Streubel - UEFA

Um remate perigoso de Paulo Bernardo logo no arranque foi o que se viu para Portugal em matéria de oportunidades na 2.ª parte. O jogo tornou-se paulatinamente mais mastigado e só os remates de fora da área de Diogo Nascimento iam criando algum bruaá. A entrada de Carlos Forbs para a ala esquerda nada trouxe à imprevisibilidade do futebol praticado pela equipa de Rui Jorge. Pelo contrário, o extremo do Ajax foi uma das caras da falta de soluções e jogo errático que Portugal mostrou na 2.ª parte. O domínio da posse de bola nada contou em termos de criação e eficiência.

O golo de Poku aos 84’, numa típica jogada de aproveitamento dos espaços deixados por uma equipa embalada para a frente, não chegou sem aviso. Os últimos minutos da 2.ª parte já tinham sido de maior aproximação da equipa neerlandesa à área de Portugal, mesmo com muitos dos jogadores já em claro défice físico. Restou o acreditar, a ratice de aproveitar erros, que começaram a surgir com o passar dos minutos e o aumento do nervosismo.

Parece impossível perder um jogo assim, perante um adversário com menos talento, a jogar com um a menos, mas que foi, quando interessou, bem mais competente com esta seleção de sub-21 que se fica mais uma vez pelo quase que tem pautado os últimos anos, seja Portugal uma seleção com mais talento em termos individuais, ou mais forte coletivamente. Em 2025, o equilíbrio entre as duas equações parecia evidente. De nada valeu.