
Há 23 anos que o Sporting esperava - quando os confetis brancos e verdes foram disparados para o ar do topo da tribuna do Estádio Nacional em síncope com o erguer do troféu nos braços de Morten Hjulmand, um êxtase era também posto em liberdade pela metade da multidão que pintou as bancadas do recinto com as mesmas cores. Desde 2002 que os leões não conquistavam campeonato e Taça na mesma época, uma espera longa, não tão longa quanto o tempo contado da última vez que coincidiram no Jamor com o Benfica.
Essa parte do passado era diferente porque assombrada por uma memória: em 1996, durante o encontro, um adepto morreu ao ser atingido por um very-light lançado de uma bancada à outra, manchando com morte e violência um simples jogo de futebol. O ato de uma pessoa dentro de uma rivalidade tantas vezes resvalada para a animosidade e até para um clima de guerrilha fez muitos temerem o pior. Tantos anos volvidos, desta feita nada disso se viu ou registou, durante ou antes da partida, onde na mata do Jamor se reúnem milhares de pessoas para o que há quem diga ser a fatia mais especial da final da Taça de Portugal.
A festa da Taça, onde cabem churrascos e repastos, abraços e brindes, boa-disposição e beberetes, pais com filhos embrulhados em avós e primos, histórias a serem contadas e partilhadas, contos de outras idas ao Jamor revividos, fez-se em mais um ano. Preencheu-se com festa, muita farra, antes de um jogo que se esticou até às últimas.
O Sporting venceu o Benfica na final, por 2-1, com golos de Viktor Gyökeres e Conrad Harder a pontuarem 120 minutos de um futebol com muitas soluções, cheio de pequenas paragens e interrupções, mas isso serão considerações para outras núpcias: antes de tudo isso, houve muita animação no Jamor.