
Dizem que a idade engana e é assim mesmo. Há quem tenda a procurar nos sub-21 a inocência de meninos. Neste escalão, é coisa que não se encontra. Há gente que já maturou em clubes de dimensão assinalável e jogadores que, por não lhes terem cortado as asas, voaram para níveis superiores. Por isso e não só, o Portugal-França, habitual zénite dos torneios de formação que abriu o grupo C, foi marcado por algumas condicionantes.
A seleção sub-21 não é exatamente o tubarão que podia ser, o que não significa que as próximas camadas da cebola do talento nacional são menos interessantes do que têm sido. A produção deste ano foi afetada pela sazonalidade. Ter o Mundial de Clubes a pisar o espaço do Europeu no calendário limita os atributos da colheita. Não foi uma surpresa. Rui Jorge, mandatado para escolher, foi fechando a porta aos principais jogadores do Benfica e FC Porto para não preparar a competição com ferramentas que mais tarde não poderia usar.
De qualquer modo, o selecionador conseguiu compor a banca para o certame da categoria. A defesa talvez seja o setor mais limitado e a autodispensa de Eduardo Quaresma não ajudou. O jogador do Sporting considerou não estar a 100% para o torneio. Rui Jorge aceitou a justificação (que remédio), mas deixou um recado: “A seleção não pode ser apenas para quando dá jeito.”
Pode já não haver inocência, mas há uma jovial vitalidade que conduz ao ânimo que Portugal mostrou inicialmente em Trencin, na Eslováquia. Esta aparenta tratar-se de uma seleção verdadeiramente de extremos com Geovany Quenda e Roger Fernandes a serem o núcleo que a faz pulsar. Depois, claro, há a rotatividade de Mateus Fernandes e o voluntarismo de Tiago Tomás.
O carteirismo praticado pelo 4x1x4x1 defensivo, em que o rasteirinho Diogo Nascimento uniu a defesa e o meio-campo, foi muitas vezes o gatilho para a explosão. Nesse momento, lá iam os estilhaços ofensivos na direção da baliza da França sem que os gauleses tivessem escudo que lhes valesse.
Tiago Tomás gladiou-se com o longo Chrislain Matsima por aquela bola que caiu vinda de uma zona do espaço aéreo de neutral jurisdição. Na dividida, levou a melhor o avançado português, que se isolou perante Guillaume Restes. Não conseguiu marcar, tal como não conseguiu Roger nos cinco minutos frenéticos em que Portugal criou várias situações de golo, uma delas obnubilada por Castello Lukeba em cima da linha.
A pressão portuguesa dava resultados. Que o diga Quentin Merlin, lateral esquerdo francês assombrado pela presença da bola. Foi quando a equipa de Rui Jorge a deixou de a fazer que, de imediato, passou por um sobressalto. A linha da grande área parece que se encolheu apenas para que a falta de Rafael Rodrigues sobre Matthis Abline não fosse considerada grande penalidade.
Aí, a tendência mudou. Mesmo que pouco acutilante, a França foi-se familiarizando com a bola e Portugal conformou-se em não mais usufruir das ligações verticais de Geovany Quenda. Logo a abrir a segunda parte, Wilson Odobert rematou ligeiramente ao lado da baliza de Samuel Soares.
Apesar de já ao intervalo ter mexido, como esta é mesmo uma equipa de extremos, aos 60 minutos, Rui Jorge retirou Quenda e Roger para lançar Carlos Forbs e Rodrigo Gomes, levando o jogo para um poço de caos que aliviou o domínio francês. Como resposta ao muito perigoso remate com que Mathys Tel que atingiu Samuel Soares, Diogo Nascimento fez um passe diabético para Paulo Bernardo falhar por pouco o desvio. No entanto, Johann Lepenant, o mais elegante dos franceses, fez um plié que deixou os defesas na dúvida se estavam num jogo de futebol ou numa atuação de ballet. Todos ficaram confusos menos Samuel Soares, que voltou a intervir.
Flávio Nazinho foi a bateria de reserva após Portugal ter ficado sem força na unidade motriz após aquele fogacho na primeira parte que podia ter ditado uma goleada e acabou por nem numa vitória se metamorfosear. Está ultrapassado o maior desafio da fase de grupos. Porém, a agradável sensação de que uma equipa longe do máximo potencial pode dividir o jogo com uma equipa como a França não vale a totalidade dos pontos e a realidade é que Portugal perdeu dois. Primeiro, frente à Polónia e, de seguida, frente à Geórgia, é preciso escavar mais para desenterrar os quartos de final.