As nuvens negras adensam-se sobre o futuro de Miguel Oliveira no MotoGP, e o herói português já não esconde a frustração. Depois de um fim de semana para esquecer no Grande Prémio da Áustria — onde terminou em 17.º lugar, apenas à frente do companheiro de equipa Jack Miller — Oliveira abriu o coração numa entrevista brutalmente honesta, admitindo que abandonar a categoria rainha neste momento deixaria a sua carreira incompleta.

“Não tenho arrependimentos pelo que fiz,” confessou Oliveira ao The Race. “Mas sinto que, se sair agora do paddock, vou sentir-me incompleto. Acho que as minhas capacidades como piloto são maiores do que aquilo que alcancei, maiores do que aquilo que mostrei.”

Uma confissão crua que abanou o paddock do MotoGP. Com cinco vitórias em Grandes Prémios no currículo, Oliveira acredita ter ainda muito para dar. No entanto, a sua época de estreia com a Pramac Yamaha tem sido um autêntico pesadelo: apenas seis pontos em 13 corridas, somados à confirmação da contratação de Toprak Razgatlioglu para 2026, deixam o piloto de 30 anos com o lugar no arame.

As suas palavras foram um misto de resignação e desafio:

“Isto pode ser visto como arrogância, mas é apenas o que sinto. Neste desporto, tudo se resume a comparações. E quando olho para os outros pilotos, sei que tenho mais para dar. Mas o MotoGP é brutal — ao mais alto nível tens de provar em todas as voltas.”

Apesar da incerteza, Oliveira garante que não perde o sono com o futuro.

“Seja o que for, estarei bem. Mais do que bem, penso eu,” concluiu, deixando claro que, mesmo que o MotoGP lhe escape, a sua identidade como piloto permanece intacta.

Um Guerreiro Português Solitário

Ao contrário dos colegas da geração rookie de 2019 — Joan Mir, Fabio Quartararo e Pecco Bagnaia — que conquistaram títulos mundiais, Oliveira é o único sem um lugar garantido para 2026. O contraste é gritante e a pressão, sufocante.

Para o português, o problema não são apenas os resultados; é também o isolamento de ser o único representante de Portugal numa grelha dominada por espanhóis e italianos. “Carrego a solidão de não ter um grande mercado de motas por trás de mim,” admitiu, reconhecendo a batalha desigual que tem marcado a sua carreira.

Um Futuro em Suspenso

Quer a Yamaha decida apostar nele por mais uma temporada, quer corte a ligação já no final de 2025, uma coisa é certa: a jornada de Miguel Oliveira no MotoGP está num momento de viragem. Será que vai recuperar competitividade e segurar o lugar na grelha, ou ficará 2025 como o último capítulo de uma das carreiras mais singulares do desporto?

A resposta pode definir não só o legado de Oliveira, mas também a presença de Portugal no MotoGP.