
Pela primeira vez em mais de uma década, o Chaves terá duas listas candidatas ao sufrágio agendado para esta sexta-feira. A Lista A é encabeçada por Francisco Carvalho, presidente honorário do clube flaviense, que pretende voltar a assumir os destinos do emblea, cuja SAD é liderada pelo filho Francisco José Carvalho. Em entrevista a Record na antecâmara do ato eleitoral, o dirigente, de 70 anos, abordou os seus planos para o futuro da formação e melhoria das infraestruturas, bem como alguns do temas mais quentes da atualidade flaviense.
RECORD - Porque é que sócios devem votar em si?
FRANCISCO CARVALHO - Em 2011, este clube ia fechar portas, com dívidas de três milhões e eu prometi colocar o clube novamente no elite do futebol português. Atualmente, o Chaves é um clube respeitado e um exemplo para todos clubes. Criámos infraestruturas e aumentámos todos os anos o número de atletas, que já são perto dos 600 neste momento. Este clube voltou a ter vida e é falado em todo mundo. O trabalho está à vista e vamos continuar a fazer história neste clube.
Qual a sua história com o Chaves?
A minha ligação vem desde a minha falecida mãe. Todos os domingos íamos aos jogos, tanto em casa como fora. Depois, quando ganhei a minha estabilidade financeira e criei o Mundo da Música e a Espacial, patrocinei o Chaves durante mais de 30 anos. Emprestei muitas vezes dinheiro para o clube conseguir inscrever a equipa e pagar os salários.
Se for eleito, qual será a sua primeira medida?
A primeira medida será profissionalizar ao máximo o departamento de formação para colocar as equipas que desceram nos campeonatos nacionais, como já estão os juniores. Depois, é preciso resolver a questão do comodato para melhorar as condições do estádio e dinamizar o clube com eventos em parceria com a SAD e aproximar os sócios e adeptos espalhados pelo mundo.
Qual a opinião que tem sobre a formação e o que pretende fazer de melhor?
Precisamos de melhorar a formação e é esse o propósito da minha candidatura. Escolhermos os melhores treinadores e jogadores da região e dar-lhes as condições para conseguirem alcançar os objetivos.
Quais as modalidades que quer implementar e de que forma será assegurada a sustentabilidade das mesmas?
Para já o planos passar por manter as que temos e implementar o futebol feminino. Se houvesse mais infraestruturas na cidade podíamos apostar noutras modalidades como o basquetebol, o andebol e o atletismo.
As duas listas falam em recuperar a hegemonia da formação a nível local. Como planeia fazê-lo isso? A construção de uma academia está no vosso projeto?
A nível local o Chaves é o maior clube. Os juniores nunca tinham conseguido os resultados que têm alcançado. Nos últimos dois anos, as equipas de juvenis e iniciados saíram dos campeonatos nacionais, mas queremos lá voltar e lutar pela manutenção como os sub-19. No meu projeto está ainda a cobertura na bancada central descoberta e até de uma academia no complexo, mas nestes últimos sete anos não vi interesse da autarquia em investir no Chaves. Vejo sim em alguns clubes que nem tinham futebol de 11. Sozinhos fizemos muito, mas não deitamos a toalha ao chão.
O clube tem poucas infraestruturas. O que vai fazer para aumentar esse espaço e onde?
Estamos à espera que a câmara invista em infraestruturas para o clube. Construímos um complexo porque as nossas equipas que estavam nos nacionais tinham que jogar em Boticas, mas não podemos fazer tudo! Se outros clubes do concelho tiveram apoio da câmara, e muito bem, estranho como o Chaves, que é o maior clube do concelho e da região, único nos campeonatos profissionais, não termos essa ajuda em infraestruturas que tanto pedimos há anos à câmara.
Nestes últimos sete anos não vi interesse da autarquia em investir no Chaves. Sozinhos fizemos muito, mas não deitamos a toalha ao chão.
Francisco Carvalho
Candidato à presidência do Chaves
A falta de aproveitamento dos valores da formação tem sido uma das críticas mais ouvidas. Caso seja eleito, como pretende inverter isso?
Quase todos os anos assinamos contratos profissionais com atletas da região, que fazem a pré-época com a equipa principal. Voltamos com a equipa B, que acabámos na pandemia, e tivemos resultados com a venda de Batxi e Kevin Pina. 80 por cento dos jogadores da equipa B tornaram-se profissionais e fazem carreira. Com a equipa B, a nossa formação tem um projeto até aos 23 anos, vai depender deles crescerem e evoluírem e tornarem-se titulares como os atletas que falei. O nosso objetivo é formar jogadores e ficar com os melhores, mas é impossível ficarem todos os atletas da formação. Se não olhasse para a formação, não criávamos a equipa B, portanto é uma falsa questão. Só da região de Trás-os-Montes são mais de dez jogadores que nos últimos anos assinaram contrato profissional, juntando-se aos outros da formação que são de outras regiões e países.
Outra crítica apontada foi que as equipas por diversas vezes não tinham acompanhamento médico. Pode garantir que tal situação não vai acontecer no futuro?
Não é de todo verdade. Infelizmente há falta de médicos e enfermeiros não só nos clubes como nos hospitais. Ainda neste último ano criámos um departamento médico no complexo com um fisioterapeuta a tempo inteiro. Vamos tentar ter mais pessoas e melhorar as condições com parcerias e estágios profissionais.
A Lista B anunciou a construção de um Museu nas instalações do Top Sul onde está instalada a SAD. Pode ser visto como uma tentativa de tirar a SAD do Estádio?
Parece-me uma provocação. Penso nem vale a pena comentar.
Como avalia a atual situação financeira do clube?
O clube reduziu a sua dívida em cerca de 570 mil euros nestes últimos anos. Tirando o ano passado, tem tido resultados positivos. No ano passado foi negativo porque cerca de 40 mil euros eram faturas da época anterior. Está no bom caminho e espero daqui a sete ou oito anos tenhamos a dívida a zero.
Deve a SAD e o futebol profissional passar para investidores estrangeiros ou permanecer na mão de sócios do clube e gente que nasceu na região e sente o clube de outra forma?
O futebol mudou e quase todas as SAD tem capital estrangeiro. Depende do investidor para se perceber se vai trazer mais valia para a SAD, para clube e para a região, mas o importante é ter sempre sócios do clube na estrutura e até no capital da SAD para continuar existir a ligação ao sócios e adeptos. Já tivemos várias propostas que não aceitámos. Vender uma SAD não é vender uma casa ou um armazém. A parte social é muito importante e foi muito difícil erguer este clube novamente.
O que é que o clube tem para oferecer aos sócios?
O clube tem para oferecer formação aos seu atletas com condições, com transporte, infraestruturas, alimentação, coordenação, acompanhamento medico e psicólogico, algo que não existia quando cheguei. Um projeto desportivo a todos os jovens até aos 23 anos.
Já tivemos várias propostas que não aceitámos. Vender uma SAD não é vender uma casa ou um armazém. A parte social é muito importante e foi muito difícil erguer este clube novamente.
Francisco Carvalho
Candidato à presidência do Chaves
Falou-se que havia vencimentos com alguns meses de atraso. Podem garantir que tal não voltará a acontecer?
Há muito ruído a volta disso, mas estamos a 7 de junho e, sem nenhuma verba da câmara, temos salários e impostos em dia. Querem enganar as pessoas, mas sabemos de onde vem esse ruído. Temos a parceria da SAD e quando é preciso a SAD adianta dinheiro ao clube. Somos sócios. A SAD não vive sem clube e vice-versa.
A Lista A quer votos por antiguidade e Lista B quer cada sócio com um voto. Qual é a confusão na leitura dos regulamentos da Assembleia?
Não sei em que mundo vivem. Com tantos advogados na lista B, como podem querer contrariar os estatutos aprovados pelo sócios. Os sócios são soberanos. Os estatutos regulamentam as regras do clube, agora meia dúzia de sócios, sócios esses que nem podem votar, que são sócios há menos de seis meses, querem mandar na vontade dos 3.000 sócios votantes. Essas alterações podem ser feitas, mas em Assembleia Extraordinária de alteração de estatutos. Duvido que um dia mudem essa situação. Volto a dizer o clube é dos sócios, vivemos em democracia e não em ditadura eleitoral.