Jan Bednarek iniciou esta terça-feira, pela primeira vez, o trabalho de campo no FC Porto. O jogador não escapou à tradicional praxe de integração, passando rapidamente pelo túnel formado pelos novos colegas de equipa. Apesar das costas mais quentes, Bednarek parece estar igualmente reconfortado com a mudança do Southampton para os azuis e brancos, onde terá a oportunidade de lutar por títulos — algo que não conquista há 10 temporadas, desde o campeonato ganho pelo Lech Poznan, o seu único troféu — e de se estrear nas competições europeias.

Jorge Costa, uma figura lendária do FC Porto, descreveu o defesa polaco como «um líder» que irá «fazer bem» ao plantel. Com 29 anos, Bednarek traz consigo uma vasta experiência: 184 jogos na Premier League, participações em dois Europeus e dois Mundiais, e um total de 69 internacionalizações pela Polónia. Além disso, nos últimos anos, destacou-se como um exemplo sobre a importância de cuidar da saúde mental no futebol, valorizando-a tanto quanto a preparação física. A BOLA conta-lhe a história de como o general polaco saiu da escuridão para se impor como líder respeitado e admirado pela sua tenacidade.

«Parecia um 'zombie'»

Em 2024, Jan Bednarek demonstrou uma coragem notável: num contexto em que o tema da saúde mental ainda é tabu, sobretudo no mundo do futebol, Bednarek revelou que procurou ajuda de psicólogos para lidar com o ódio dos adeptos, dando um exemplo pedagógico ao abordar publicamente uma questão tão sensível.

A sua batalha começou em 2022, quando, sentindo-se emocionalmente esgotado, tomou a difícil decisão de mudar de clube. Após cinco anos no Southampton, aceitou um empréstimo ao Aston Villa, rejeitando outras propostas, como a do West Ham, numa tentativa de encontrar um novo ambiente que lhe trouxesse uma perspetiva renovada sobre a vida. «Nessa altura, era quase como um zombie, sem alegria. Não quero dizer se era depressão. Talvez fosse. Não tentei encontrar um diagnóstico, mas sim encontrar uma solução», revelou, ao canal de Youtube Meczyki.

Fizeram-me entender que o que eu faço pela equipa, por mim e pela família é mais importante do que pessoas com quem não tenho contacto

«É essencial o treino mental»

Durante este período de trevas, optou por se isolar, afastando-se de amigos e da interação social que normalmente valorizava. A pressão das críticas intensas nas redes sociais pelas suas atuações pela seleção da Polónia contribuiu para este momento de isolamento. Apesar da sua curta passagem pelo Aston Villa — meia temporada, a convite de Steven Gerrard, e apenas quatro jogos disputados—, regressou ao Southampton em janeiro de 2023 com uma nova força e resiliência.

O jogador transformou esta experiência num ponto de viragem na sua carreira, tornando-se um líder respeitado no balneário e um exemplo de como enfrentar o que ele próprio classificou como bullying digital. Bednarek destaca que o apoio psicológico foi fundamental para mudar a sua visão sobre a vida de um atleta profissional, como relatou em entrevista ao Viaplay: «Fizeram-me entender que o que eu faço pela equipa, por mim e pela minha família é mais importante do que pessoas com quem não tenho contacto real, que não conheço, dizem sobre mim.»

Acho muito importante trabalhar com um psicólogo, porque vivemos tempos de muito ódio e pressão

Trabalhando com dois psicólogos, Bednarek conseguiu fortalecer a sua autoestima e compreender o impacto positivo que tinha no plantel. «Trabalhei com dois especialistas que me ajudaram muito, que me deram uma noção de autoestima. Que eu não era tão mau assim», relatou. 

Além disso, Bednarek sublinhou a importância de equipar o treino mental ao treino físico: «Não há motivos para nos sentirmos envergonhados. Acho muito importante trabalhar com um psicólogo, porque vivemos tempos de muito ódio e pressão. Tal como o treino físico é essencial para o desempenho em campo, o treino mental deve ser igualmente prioritário.»