Marco Túlio é mais um dos jogadores que mais brilhou nos escalões de formação da seleção brasileira e atualmente segue um caminho alternativo no futebol. Após uma curta passagem em Portugal, com as cores do Sporting - tendo somado também dois empréstimos pelo meio -, Túlio navegou até os meandros das ligas periféricas.

Formado nas escolinhas do Atlético Mineiro, o avançado, de 27 anos, faz agora parceria com Rafael Elias no Kyoto Sanga, que luta pelo título inédito da elite japonesa, e anseia por fazer história na Ásia depois de ter brilhado na Austrália.

Marco Túlio
2025
Avançado - 27 anos
14
Jogos
814
Minutos
5
Golos
1
Assistências
0 1 0 2x

O mineiro esteve nos convocados da canarinha para o Campeonato Sul-Americano Sub-17 de 2015, ao lado de nomes como Mauro Júnior - que joga, agora, no PSV -, Jean Pyerre, ex-promessa do Grêmio, e Adryelson, defesa campeão pelo Botafogo. Hoje, longe dos holofotes, Marco sabe que o retorno à seleção é improvável, mas a gratidão pela conquista de há dez anos mantém-se viva no coração.

«Hoje está muito distante, mas todos têm aquele sonho de vestir a camisa da seleção no escalão principal. Foi um privilégio ter representado o Brasil nos sub-17. Tenho muito orgulho. Agradeço ao Caio Zanardi, que me convocou na altura. Sou muito feliz e muito honrado por ter vestido a Amarelinha", disse o atleta, em entrevista exclusiva a oGol, portal irmão do zerozero.

Na época em que foi convocado, Marco Túlio estava nas categorias jovens do Atlético Mineiro, onde fez toda a sua formação e se estreou como profissional. Porém, todo o vislumbre de defender o Galo desde os 11 anos não foi correspondido, já que foram apenas oito partidas ao serviço da equipa principal.

À data, Marco foi treinado por Oswaldo de Oliveira, entre 2017 e 2018, técnico que lhe deu as primeiras oportunidades entre os profissionais. Porém, com a demissão do comandante e a chegada de Thiago Larghi, as hipóteses de jogar ficaram cada vez mais escassas. Surgiu então o Sporting como novo destino e a negociação foi em moldes atípicos: por conta de uma dívida alvinegra na contratação de Elias, o clube liberou Marco livre de custos.

Marco Túlio quando assinou pelo Sporting @Sporting Clube de Portugal

«Quando chegou a proposta do Sporting, inicialmente eu não queria ir, mas a direção falou comigo, e o Alexandre Gallo, que estava lá na época, não fez nenhum esforço [para manter-me]. Existia uma dívida, então foi uma confusão. Não me sinto frustrado por causa disso, não foi só uma decisão minha, mas também do clube, Deixou-me chateado», pontuou o jogador.

Em Portugal, Marco também não conseguiu ter a sequência que sonhava. Mesmo chegando lá como grande promessa, com direito a cláusula de rescisão no valor de 60 milhões de euros, o jogador não chegou a entrar em campo pela formação principal do Sporting e esteve sempre em transição entre a equipa B e a os sub-23 dos leões.

«[Esse período] Foi bastante complicado, os treinos eram muito intensos. Precisei de dois meses para ambientar-me. Fui muito bem no primeiro ano, mas eles optaram por não me 'subir', queriam emprestar-me para jogar mais profissionalmente e foi assim que eu rumei à Bélgica. Ainda assim, estar no Sporting foi muito importante na minha carreira.»

Depois das dificuldades iniciais em Portugal, Marco teve uma curta passagem pelo futebol belga, para defender o KSV Roeselare, até voltar ao Brasil em 2021, pela porta do CSA. Sob a tutela de Mozart, Marco Túlio quase ajudou o Azulão a retornar à elite nacional, dois anos após ter descido de divisão, na sua primeira grande sequência como jogador profissional.

Em 45 jogos disputados no primeiro ano pelo clube alagoano, o ponta-de-lança contribuiu com sete golos e cinco assistências, com direito a título estadual pouco tempo após a sua chegada. Porém, com uma pequena lesão e com a demissão de Mozart, as oportunidades do mineiro no clube diminuíram, até que a saída para a Austrália demonstrou ser o destino mais correto.

«O primeiro ano foi fantástico, mas a meia época, em 2022, já não foi tão boa, não correu tudo bem. Sabemos como é futebol brasileiro, quando te lesionas num plantel com 30 jogadores, perdes espaço e tudo muda. Eu não queria ir necessariamente para o futebol australiano. O motivo prendeu-se mais com as mudanças no clube», afirmou.

Rei nos mercados alternativos

Nas palavras do próprio Marco Túlio, a transferência para o Central Coast do futebol australiano foi a melhor decisão que ele tomou no futebol. E foi com a ajuda de Daniel Penha - antigo companheiro das categorias de formação do Galo e que jogava no país na época - que o avançado se afirmou na Austrália.

«Foi o melhor momento na minha carreira. O treinador (Nick Montgomery) e o adjunto (Sérgio Raimundo) deram-me muita confiança, ajudaram-me em tudo. Joguei na minha melhor versão, na minha melhor posição que é de 'camisola 10'. Tive a minha temporada mais goleadora, com mais destaque, estava no meu auge», referiu.

Em pouco mais de uma temporada, Marco entrou em campo 45 vezes, marcou 23 golos e contribuiu com dez assistências. O jogador ajudou o Central Coast a voltar a vencer a Liga Australiana após dez temporadas e recebeu a medalha «por correio» por ter disputado parte da segunda temporada, quando o clube conquistou o bicampeonato.

Marco, porém, não terminou a sua segunda época ao serviço dos australianos. Isso porque o Kyoto Sanga chegou com uma proposta tentadora, que o fez deixar a Oceania para tentar a sorte na Ásia. Outra grande decisão para Marco Túlio, que, pouco menos de dois anos depois da transferência, está mais acostumado do que nunca.

«Os seis primeiros meses aqui foram os mais difíceis que eu já enfrentei no futebol. Tive de ser resiliente, trabalhar o dobro, porque não estava a jogar, nem era convocado para os jogos. Veio tudo de uma vez só e na segunda volta do campeonato começo a jogar mais. Foi aí onde eu comecei a destacar-me, com golos e assistências. Foi bastante importante ter passado por esse processo», disse Marco.

Os primeiros passos de Túlio no futebol @Pedro Souza/Atlético Mineiro

Depois de um primeiro ano de adaptação, Marco Túlio acredita que o Kyoto Sanga segue firme na disputa pelo título inédito da elite japonesa. Mesmo com propostas para deixar o Japão, o brasileiro segurou as pontas, nunca desistiu e, no final do ano, pode colher os frutos com a tão sonhada taça. Atualmente, a equipa é a quarta classificada do torneio, estando a quatro pontos do líder Vissel Kobe, com 14 rodadas por jogar.

«Estamos a levar esse objetivo de forma muito séria, queremos entrar para a história. Estamos a viver um bom momento, jogamos todos os jogos como se fossem uma final. Vai ser uma disputa saudável, vai ser bom», completou.

Mas é claro que Marco Túlio não poderia ser o único brasileiro no plantel do clube japonês. Patrick William, Gustavo Barreto, João Pedro e Léo Gomes são alguns dos companheiros, mas quem chama mais à atenção é Rafael Elias, o Papagaio. Formado nos escalões jovens do Palmeiras, Rafael é o principal goleador da equipa na temporada e divide o protagonismo ofensivo com Marco. E a «disputa saudável» pelos momentos de finalização que cada vez mais alegra os cartolas asiáticos.

«Não existe disputa para ver quem vai ser o melhor marcador. Eu brinco com ele, o goleador é ele, ele que faz os golos. Eu também estou ali para ajudar com golos e assistências. Fico muito feliz por jogar com ele no grupo, é um jogador fantástico, trabalhador. É um jogador excepcional.»

Kyoto Sanga
2025
29J
15V
7E
7D
48-36G

Desfilando no futebol japonês e com o anseio pelo que pode ser o primeiro título no futebol asiático, Marco Túlio também pensa no futuro. Enquanto tem contrato com o Kyoto e mantém a cabeça focada no Japão, o jogador sabe que o futebol é cíclico e imprevisível, mas prefere deixar esse assunto para depois.

«Pretendo ficar por aqui mais um pouco. O futebol é muito rápido, nós não sabemos o que pode acontecer, podem chegar propostas da Europa, do Brasil. O meu desejo é ficar aqui mais um tempo, tentar fazer história aqui. Não gosto de pensar muito lá na frente, gosto de viver no presente, mas nunca se sabe», finalizou Marco Túlio.