
Além da dispensa de Nuno Catarino, vice-presidente do Conselho de Administração da Benfica, SAD José Bernardes 'dominou' esta quinta-feira o sétimo dia do julgamento do processo 'Saco Azul', com a audição de duas testemunhas, de manhã e à tarde, no Campus da Justiça, em Lisboa. Contratos, relações, uma agenda e um portátil, apreendidos pela PJ, tudo foi passado em revista pelo presidente do coletivo de juízes, Vítor Teixeira de Sousa, procuradora do Ministério Público e advogados.
O testemunho mais signficativo foi o de Nelson Brum, antigo funcionário de Bernardes - um dos arguidos no processo - na Best For Business (de 2008 a 2013) e Dynethic (entre 2013 e 2022). Ao serviço destas empresas, foi um dos consultores de informação destacados para o Benfica, onde implementou um sistema de gestão (ERP). Recordando que tinha a missão de emitir as faturas, afirmou que o contrato da Dynathic foi "vantajoso para o Benfica". "Na altura, cobrava-se 70 euros à hora por cada consultor. Neste caso, foi acordado um valor por cada consultor mais uma margem", referiu, lembrando que a longa duração do contrato ajuda a explicar a negociação por um valor inferior.
De fora deste contrato ficou o serviço de "alta disponibilidade". Isto é, a permanente disponibilidade para resolver um problema a qualquer hora do dia, como explicou a testemunha. Este serviço foi garantido pela Questão Flexível, empresa de Bernardes e também arguida no processo que está a ser julgado no Campus da Justiça, em Lisboa. Por este serviço, a empresa cobrou 22 mil euros mensais, valor que Brum também achou "barato".
O consultor informático deu conta das relações de proximidade de Bernardes, de quem admitiu ser braço-direiro, com os encarnados, nomeadamente com Jorge Antunes, antigo responsável pelo planeamento e análise, e João Copeto, diretor de sistemas de informação. "A mais-valia dele era o bom relacionamento com os clientes, a gestão de expectativas e a forma como os mantinha satisfeitos", referiu, apesar de reconhecer "competência" ao empresário, sendo capaz de desenhar soluções que garantissem a interoperabilidade entre os sistemas das várias empresas das águias. Aliás, reiterou essa ideia quando viu uma agenda com esquemas informáticos desenhados por ele. "Ele tinha um trabalho mais alargado com o Benfica", concretizou. Também reconheceu o computador portátil como sendo de Bernardes.
O dia começou com a audição de Eduardo Antunes, antigo diretor-executivo da Microsoft Portugal, que ajudou a concluir um projeto de "transformação digital" nos encarnados. Hoje administrador da Glintt Global, Antunes esclareceu a ligação com Bernardes, depois do advogado deste, Temudo Barata, ter detetado uma "contradição" entre o depoimento de hoje e o registado pela Polícia Judiciária, algo que a procuradora já tinha deixado perceber.
"Posso ter feito confusão entre Dynethic e Dynamics, mas recordo-me de ter dito [à PJ] que o nome [José Bernardes] não me era estranho", disse, acrescentando: "Tive uma interação com José Bernardes quando houve reunião de âmbito comercial, entre 2013 e 2018, mas não me recordo com que empresa se apresentou." Por outro lado, adiantou que seis em meses teve "duas ou três reuniões" com representantes do Benfica, sem a participação de elementos de outras entidades.
O julgamento, que arrancou a 9 de abril, prossegue a 5 de junho, com o depoimento de Domingo Soares de Oliveira, antigo CEO das águias e último arguido a depor. Luís Filipe Vieira, José Bernardes, José Raposo e Paulo Silva já prestaram declarações. Rui Costa, na qualidade de representante do Benfica, deu o pontapé de saída neste longo processo.
Já Nuno Catarino, arrolado como testemunha, porque à data dos factos pertencia à McKenzie, que desenvolveu um projeto para as águias, acabou dispensado, depois de se verificar que é vice-presidente da Benfica, SAD.