— Como está a confiança da equipa, antes da tua quarta final na Seleção?

— Há um sentimento positivo, de confiança. Vamos jogar possivelmente com a melhor seleção do mundo. Mas a confiança está lá em cima e o que mais espero é que possamos ganhar o troféu, porque as finais são assim. A equipa está tranquila e confiante de que as coisas vão correr bem.

— É desta que, após 21 anos, Portugal ganha à Espanha?

— Vamos ver, esperamos que sim. Cada jogo tem uma história diferente, não ganhávamos à Alemanha há muitos anos, mas a história muda e foi o que aconteceu. Espero que amanhã também possa ser um dia bom para Portugal. Vai ser duro, as finais são difíceis, frente a uma seleção que não perde há 24 jogos. Mas Portugal também tem as suas armas e vamos entrar em campo com o pensamento positivo de que as coisas vão correr bem.

— Apesar de algumas pessoas acharem que o Cristiano é uma máquina, a verdade é que é um ser humano e por isso pergunto-lhe se não tem manhãs em que pensa: “Isto hoje não me apetecia mesmo nada”?

— Não me apetecia nada falar com vocês hoje (risos) estou a brincar. Isso acontece com todas as pessoas, há dias bons e maus, há dias em que não me apetece falar muito. Hoje não é o caso, mas faz parte da vida. Sempre que acordo num dia em que esteja menos bem disposto, tento buscar mecanismos para a moral voltar cá para cima e é aquilo que venho a fazer sempre na minha vida, dentro e fora do futebol. É um desafio, mas é um desafio bonito, interessante e do qual gosto bastante.

— Nos últimos anos tem estado um pouco arredado de finais, já tinha saudades deste ambiente à volta deste tipo de jogos?

— Tenho é saudades de levantar um troféu. É a vida, não se pode ganhar sempre, o futebol é isto. Há momentos em que estamos propícios a ganhar muitas coisas, há anos em que não se ganha troféus coletivos, faz parte do futebol não se poder ganhar sempre. Falta o último tiro da temporada e estou confiante de que Portugal vai sair com o troféu.

— Como vê este confronto entre o Cristiano e Lamine Yamal e que papel tem na transição geracional que está a acontecer na Seleção de Portugal?

— Sempre foi assim, sempre que joguei uma final era Cristiano contra alguém, após 20 e tal anos continua a ser o mesmo, é algo que não me tira o sono, já estou acostumado. São gerações diferentes, uma a começar e outra a acabar, que é o meu caso, Lamine e Vitinha estão mais perto um do doutro, mas se querem fazerem com o Cristiano eu dou o corpo às balas, não há problema. O que eu mais desejo é que Portugal esteja num bom nível, que possamos fazer um grande jogo e ganhar.

— Já marcou três golos num jogo com Espanha, no Mundial 2018, gosta de recordar esses momentos?

— As memórias fazem aquilo que somos hoje. De vez em quando há um flashback dessas boas memórias e queremos acreditar que isso é algo motivador. O passado é passado e há que viver os momentos presente como os últimos. Vamos disputar um troféu, que queremos ganhar outra vez.

— Houve contactos para estar no Mundial de Clubes?

— É irrelevante, neste momento não faz sentido falar de outras coisas sem ser a Seleção, mas houve bastantes contatos. Vejo coisas que têm sentido, outras sem sentido, como diz o outro, não se pode ir a todas, há que pensar a curto, médio e longo prazo, é uma decisão que está praticamente decidida da minha parte, que é não ir ao Mundial de Clubes, mas tive bastantes convites.

— Estás surpreendido com o que Lamine Yamal já conseguiu fazer, tendo só 17 anos?

— O menino está a fazer as coisas muito bem. Está num clube e numa seleção que o ajudam bastante. Está num ambiente muito propício a que faça sobressair as suas qualidades, que são muitas. Mas o que peço é que o deixem crescer tranquilamente, não o pressionem muito, para desfrutarmos de um talento assim durante muitos anos. Deixem-no tranquilo, porque talento não lhe falta.

— Já pensou que é possível o seu filho jogar contra Lamine Yamal, talvez num Europeu?

— Eles até são parecidos, são os dois morenos (risos) só têm três anos de diferença. Os meus filhos também gostam do Lamine e eu e toda a minha família temos um carinho especial por Espanha. Fala-se muito do nome de Lamine, porque o rapaz é muito bom, mas tenho que valorizar a Espanha. Desde que enfrentei esta seleção, é uma das melhores do mundo, os maiores talentos vieram de Espanha, é uma equipa muito competente. Com Nico Williams, Pedri, Rodri, que está a voltar, o treinador de Espanha está a fazer um ótimo trabalho, dá disciplina à equipa. É um rival muito difícil. Que amanhã nos possamos divertir e que Portugal possa ganhar.

— Que conselho pode dar a Lamine Yamal?

— Gosto de aconselhar quem queira ouvir, mas em privado.

— Em quem votaria na Bola de Ouro?

— Creio que os prémios individuais perderam o consenso do merecimento. Claro que quem ganhou a Liga dos Campeões tem hipóteses, mas não há um consenso. Não acredito muito nos prémios individuais, porque sei o que se trabalha por trás da verdade. Mas claro que Lamine tem potencial, se não for agora, daqui a três, quatro, cinco anos, sim. Tanto ele como o Mbappé, Dembélé, Vitinha, outros jogadores espanhóis. Mas creio que os prémios individuais já são um pouco irrelevantes porque não há um consenso a 100%.

— O que o motiva com 40 anos?

— Eu vivo o presente sem pensar demasiado no futuro. Está a correr muito bem, claro que não tenho muitos mais anos para jogar, estou a aproveitar o momento.

— Portugal e Espanha são favoritos a ganharem o Mundial 2026?

— A Espanha claramente. Portugal... veremos. A nível de história, Espanha está acostumada a ganhar um pouco mais, já ganhou um Mundial e quatro Europeus. Portugal, oxalá esteja ao mesmo nível.

— Depois da vitória sobre a Alemanha, sente que a equipa confia a 100% no selecionador e como é que o grupo está a reagir a algumas notícias que questionam o trabalho do selecionador?

— Se um selecionador chega a uma final, tem feito um excelente trabalho. Questionar uma pessoa que tem um registo espetacular por Portugal faz-me alguma confusão, mas eu entendo. Se um selecionador que vai a uma final é contestado, imagine-se os outros. O que eu ouvi nos últimos tempos, acho que tem havido alguma falta de respeito nesse tema, falarem-nos de outras possibilidades de treinadores é uma falta de noção bastante grande. No meu caso, acho que o míster tem feito um trabalho extraordinário, há sempre contestação, mesmo quando se ganha. Faz parte do futebol, da opinião pública, dos papagaios que estão em casa e que dão a sua opinião. O que tenho a dizer é que estamos muito felizes com o trabalho do míster. Chegar de uma nacionalidade diferente, falar o nosso idioma, cantar o nosso hino, a paixão diária que vejo, isso é o que eu mais valorizo. O que importa são resultados e eles são muito positivos. Amanhã, quer ganhemos ou não, vai sempre haver esse debate, mas para mim, esse debate não faz sentido.

— Sempre foi Cristiano contra Messi, até um passado recente, e se fosse Cristiano e Messi? Nunca jogaram juntos. Não tem o desafio de jogar com Messi e ver o que acontece?

— Sabes que tenho muito carinho pela Argentina, a minha mulher é de lá. Já tive convites para jogar o Mundial de Clubes por um clube da Argentina. Nunca se sabe... o tempo está aí. Já tenho 40 anos, mas nunca se sabe. Mas acho que é muito difícil. Nunca fui à Argentina, quero ir, tenho muito carinho pelos argentinos. E tenho carinho por Messi, fomos rivais durante muitos anos, mas já disse que já estivemos nesse cenário durante 15 anos e eu lembro-me que ele antes não falava nada de inglês, não sei se agora já fala. E eu traduzia-lhe quando nos explicavam o que tínhamos de fazer numa gala. Tenho carinho por ele, sempre me tratou bem e respeitou-me como eu o respeito a ele. Vejo isso muito difícil, mas nunca se sabe.