Metam like, subscrevam e ativem as notificações. O parlapié dos youtubers repete-se a cada curta-metragem que partilham na plataforma. A maioria tem legendas enganosas que dececionam quando se clica no vídeo. São estratégias para alcançar um público abrangente que Cristiano Ronaldo, pela magnitude dos feitos que consegue na sua profissão, já possui.

Nuno Mendes fez upload de um cruzamento que viajou para a bolha do capitão da seleção nacional. Com espaço livre na cloud, Cristiano Ronaldo cancelou a aterragem do passe e, antes de tal acontecer, bateu o guarda-redes croata. É um highlight que vai ficar muito bem no canal que criou e pelo qual parece ter muita estima. Quando se cruzarem com o título “O golo 900 da minha carreira”, preparem-se, porque não é clickbait. Foi esse número redondo, que corresponde mesmo ao que os internautas gostam de consumir – realidades aparentemente inalcançáveis –, que diferenciou Portugal e Croácia no arranque da Liga das Nações (2-1).

A seleção nacional ainda está a sacudir o pó da carapaça depois de um Europeu não totalmente conseguido. A reformulação dos objetivos após os mesmos terem sido falhados foi incapaz de limpar todas as impurezas que ficaram de um desempenho na Alemanha que agora parece resumir-se ao destino que o poste deu ao ressalto do penálti de João Félix, contra a França, nos quartos de final.

O hipocampo ainda permanece intacto para não deixar as exibições enfadonhas, que antecederam o fatídico momento, serem algemadas pelo esquecimento. Este desempenho, diante dos croatas, foi bem mais animado. Culpa também da imperfeição portuguesa que, embora superada por muitas virtudes, foi responsável pela dúvida ter permanecido sentada no lugar até ao fim.

Na ponta do rastilho da época nem sempre é possível, mas Roberto Martínez fez tudo para mostrar uma equipa em boa forma. O meio-campo detox exibia um figurino delgado sem precisar que dele fizesse parte nenhum matulão. Os rasteiros Vitinha, Bernardo Silva e Bruno Fernandes empacotaram magia dentro de uma cerca triangular.

O contagiante toca e foge e os movimentos elípticos a contornar as zonas de pressão contrárias salpicaram os restantes jogadores com motivação para serem expeditos na partilha da bola. Quando a posse pastava no último terço, geralmente a qualidade de definição era 4K graças à visão 3D de Bruno Fernandes. Um mimo de passe foi beijar a pele da bota de Diogo Dalot que fez o marcador carburar.

Carlos Rodrigues - UEFA

Parecendo que não, estamos a falar do aproveitamento de uma dinâmica que há muito vinha acontecendo, mas que poucos benefícios gerou. Portugal construiu a três, como habitualmente. Rafael Leão abriu sobre a esquerda, Pedro Neto sobre a direita e Diogo Dalot integrou o espaço interior. A centralização do lateral-direito quase nunca causou ferimentos aos adversários por ser previsível e estática. Martínez obteve sucesso com ela quando Dalot apareceu a rasgar a última linha contrária em vez de se orientar para receber a bola dos centrais.

Na defesa, Gonçalo Inácio só não serviu como lembrete ao fim da carreira de Pepe, porque aquele que passou a estar ausente dos relvados esteve à vista de todos antes da cerimónia protocolar. Não deixa de ser significativo que o Estádio da Luz tenha gritado pelo nome do central que terminou a carreira no FC Porto depois de tantos episódios de contaminação clubística que têm intoxicado a seleção.

O jogador do Sporting era um dos quatro defesas que contavam ainda com o auxílio de Pedro Neto para tentar fechar o corredor direito. O setor não teve vida fácil por mais que se robustecesse também com a ajuda do extremo do Chelsea. Portugal não transitou defensivamente da maneira mais compacta, o que permitiu à Croácia desenlatar situações de golo.

Um bloco crestado permitiu infiltrações indesejadas. Kramaric pendulava entre a esquerda e a direita sem alguém que o vigiasse com seriedade. As suas escapadelas proporcionaram-lhe um remate singelo que Diogo Costa defendeu, porém foi quando alargou o ataque em Borna Sosa que a Croácia marcou. O lateral arrombou o lado esquerdo e Diogo Dalot concluiu um autogolaço de calcanhar.

PATRICIA DE MELO MOREIRA

Valeu a Portugal a almofada de dois golos, o de Dalot na baliza certa e o de Cristiano Ronaldo, para ficar com os três pontos. Pedro Neto, ainda na primeira parte, rematou à barra e que jeito teria dado esse golo para evitar o nervosismo final. A Croácia é a crush de Roberto Martínez, aquela equipa pela qual o treinador tem um fraquinho, logo o técnico seria conhecedor da capacidade de reação do oponente. Não esquecer quando o espanhol votou em Marcelo Brozovic para melhor jogador do mundo.

Esse já deixou de representar a seleção, mas continua a existir o sempiterno Luka Modric. Martínez desfez-se em elogios à equipa de Zlatko Dalic antes de um jogo de preparação para o Europeu que Portugal perdeu. Desta vez, o Estádio da Luz ia assistir a uma luta de galos um pouco mais séria que implicaria um empenho mais vincado que os portugueses perderam nos minutos finais.

Na segunda parte, Roberto Martínez entrou numa gestão que parecia fazer de si treinador das equipas que cedem os convocados. As trocas fizeram parte de uma gestão física talvez desnecessária para a fase da temporada em que nos encontramos e que pouco considerou o momento que o jogo atravessava. Ainda assim, foi possível ver novamente Pedro Gonçalves a utilizar as cores nacionais.

Os abalos que a baliza de Diogo Costa sofreu ficaram-se pelo lado de fora da rede, caso contrário, o novo ciclo não teria começado da melhor maneira. A fantasia ofensiva, mesmo quando no seu auge, não deve descurar cautelas ou então a magia pode iludir o próprio mágico.