Depois de ter anunciado a convocatória de uma Assembleia Geral Extraordinária para o dia 28 de julho, a direção do Boavista, presidida por Rui Garrido Pereira, enviou uma carta aberta a todos os associados do emblema axadrezado. 

No documento, o líder boavisteiro começa por assumir que "o projeto do futebol profissional falhou, para grande desilusão de todos", apesar de não ter sido "responsabilidade do clube". Nesse sentido, Garrido Pereira avançou, dizendo que é "neste momento de transição que se abre uma nova oportunidade para o verdadeiro ressurgimento" do clube, prosseguindo então com algumas perguntas e respostas pertinentes perante os sócios do emblema da Invicta. 

Aí, Garrido Pereira garante que o Boavista não irá fechar as portas, até porque "o clube está a assumir a responsabilidade de garantir que o futebol sénior continua a existir, independentemente do futuro da SAD". Note-se que a parte afeta ao clube já anunciou a formação de uma equipa B, que iria competir precisamente nos campeonatos distritais. 

"Vamos começar de forma limpa, com as nossas próprias decisões, sem dependências externas, com os nossos valores. Estamos a tentar preparar uma equipa competitiva e organizada, a partir de uma base sólida", pode ainda ler-se na questão seguinte. 

O clube está a assumir a responsabilidade de garantir que o futebol sénior continua a existir
Rui Garrido Pereira

Presidente do Boavista

Entre um plano para o futebol de formação, assim como uma colaboração mais aberta com os credores do clube, Garrido Pereira afirma que o PER estabelecido irá ser apresentado na próxima Assembleia Geral a ter lugar. Fica cada vez mais explícito no documento que existe ainda uma verdadeira separação das responsabilidades do clube e com a SAD. 

Veja as questões e respostas do comunicado do Boavista na íntegra: 

"Situação Atual do Clube

O que motivou a apresentação de um Plano de Recuperação?

O Clube entendeu que, perante a situação criada pela SAD e o impacto que teve no funcionamento do Boavista, era essencial formalizar um Plano de Recuperação que garantisse a estabilidade, a sustentabilidade e o futuro do Boavista Futebol Clube como instituição centenária.

O Boavista FC está em risco de fechar portas?

Não, o Clube está a funcionar com normalidade e tem todas as condições para manter e reforçar a sua atividade desportiva, formativa e social. O Plano de Recuperação é precisamente uma resposta responsável e estruturada para assegurar o futuro.

O que distingue este Plano de outros processos no passado?

Este Plano é liderado diretamente pelo Clube, com base na sua realidade atual e nas suas prioridades. Tem como objetivo proteger o património, assegurar a viabilidade das modalidades, regularizar passivos antigos e construir um caminho novo com autonomia.

Relação com a SAD

O que aconteceu com a Boavista SAD?

A Boavista SAD não conseguiu cumprir os compromissos assumidos, encontrando-se em processo de insolvência para recuperação. A sua incapacidade de manter o futebol profissional obrigou o Clube a intervir e a preparar uma resposta estrutural.

O Clube vai continuar a depender da SAD?

Não. O Clube está a assumir a responsabilidade de garantir que o futebol sénior continua a existir, independentemente do futuro da SAD. A prioridade é proteger o Boavista e assegurar que o futebol se mantém sob controlo do Clube.

Isso significa que vamos começar do zero no futebol sénior?

Significa que vamos começar de forma limpa, com as nossas próprias decisões, sem dependências externas, com os nossos valores. Estamos a tentar preparar uma equipa competitiva e organizada, a partir de uma base sólida.

 Aspetos Financeiros e Patrimoniais 

O Plano de Recuperação envolve venda de património?

O objetivo do Plano é precisamente preservar o património e garantir que ele sirva o Clube. Estamos a trabalhar com entidades públicas e privadas para proteger e rentabilizar o que é nosso, com total disponibilidade e responsabilidade.

Como vão ser resolvidas as dívidas antigas?

O Plano define um percurso gradual, com medidas específicas para negociar e, sempre que possível, extinguir passivos. Já houve avanços significativos com vários credores institucionais, com os quais temos tido um diálogo construtivo.

Há credores a pressionar o Clube?

O Clube tem mantido uma postura aberta e responsável com todos os credores, muitos compreenderam o esforço e têm colaborado ativamente para encontrar soluções equilibradas.

Futebol e Modalidades 

Que equipa sénior vamos ter este ano?

O Boavista pretende ter uma equipa sénior, estando a ser preparada com critério, dentro dos recursos disponíveis, e com o objetivo de representar com dignidade os valores do Clube.

O que acontece com as camadas jovens?

As camadas jovens são uma prioridade, todas as equipas começaram a trabalhar com normalidade e estão integradas num plano alargado de desenvolvimento do futebol de formação, onde temos tido também apoio de entidades parceiras. Neste momento, já ultrapassamos o número de atletas do ano passado e vamos continuar a crescer.

E as restantes modalidades?

O ecletismo do Boavista mantém-se, existem diversas modalidades que estão a iniciar a época com normalidade, fruto da dedicação das secções e dos seus representantes e do apoio dos associados. O Clube está a fazer todos os esforços para manter este modelo plural.

Relação com Entidades e Apoios 

O Clube está isolado?

Muito pelo contrário, temos sentido uma forte colaboração de várias entidades públicas, autárquicas, desportivas e até empresariais. Todos compreendem a importância histórica e social do Boavista e têm colaborado de forma séria. Há muitas oportunidades para ajudar o Boavista em conjunto e com benefícios para todos.

Pode dizer que entidades têm apoiado?

Temos recebido apoio e compreensão por parte da Câmara Municipal do Porto, da Federação Portuguesa de Futebol, da Associação de Futebol do Porto, entre muitas outras entidades com quem temos relação direta. Não é com publicidade que os resultados se conseguem, é com empenho e trabalho.

Há apoios externos previstos?

Estamos a trabalhar com parceiros nacionais e internacionais para reforçar os apoios ao Clube, sempre com critérios de sustentabilidade, validação e respeito pelos valores do Boavista.

Associados e Futuro 

O que os Sócios podem fazer nesta fase?

Podem fazer aquilo que sempre fizeram: estar presentes, apoiar, participar e acreditar. A força do Boavista vem dos seus Sócios. O vosso contributo, nomeadamente através do pagamento de quotas e da mobilização cívica, é fundamental. Se cada Sócio trouxer mais um Sócio ou mais 10 Sócios, o Boavista terá um futuro muito mais risonho. Foi assim há 100 anos, há 50 anos, vai ser assim agora.

Haverá uma Assembleia para discutir o Plano de Recuperação?

Sim. O Plano de Recuperação começará a ser apresentado já na próxima Assembleia com toda a clareza. Confiamos que os Sócios saberão reconhecer o trabalho feito e o desafio que temos de vencer.

O Clube vai sair mais forte disto?

Sim, é para isso que estamos a trabalhar, esta crise serviu para acordar consciências e para unir o Clube em torno de um objetivo comum. Com realismo e com ambição, vamos transformar esta dificuldade numa nova oportunidade para o Boavista.

O Plano de Recuperação foi aceite pelo Tribunal?

O pedido de apresentação de um Plano foi apresentado e aprovado e segue agora os trâmites normais no Tribunal e os respetivos prazos legais. O Clube está a acompanhar o processo através da Direção e da Administradora de Insolvência.

O Plano depende da SAD?

Não. O Plano é autónomo e foi desenhado pelo Clube para responder à sua própria realidade. A situação da SAD é um factor de contexto, mas não condiciona a vontade do Clube de recuperar. No entanto, todos os temas da SAD serão também tratados no âmbito do Plano de Recuperação.

O Clube tem pessoas suficientes para esta nova fase?

Estamos a mobilizar colaboradores, parceiros e voluntários para responder aos desafios da transição. A equipa está motivada e focada em garantir o funcionamento pleno das atividades do Clube. Não podemos deixar de agradecer o enorme compromisso que os colaboradores têm tido com o Clube.

E treinadores e equipas técnicas?

Os treinadores e responsáveis técnicos das várias equipas estão em funções e têm assegurado a continuidade dos treinos e competições. A gestão desportiva está alinhada com o novo ciclo. Naturalmente que há mudanças, como em todas as épocas.

Há instalações asseguradas para os treinos e jogos?

Ainda é cedo para dizer, pese embora o Estádio do Bessa se manter como principal infraestrutura, a necessidade de complementar com outros espaços que o Clube utiliza regularmente continua a ser crítica. Os acordos logísticos estão em muitos casos em curso e em breve poderemos conhecer mais detalhes e ajustar as equipas de acordo com as disponibilidades.

Em que divisão vai competir a equipa sénior?

A equipa sénior do Clube será inscrita na divisão compatível com a sua realidade atual. Estamos em conversações com as várias entidades, no sentido de encontrar uma solução que cumpra os regulamentos desportivos.O importante, neste momento, é que o futebol sénior seja assegurado, com seriedade e ambição para crescer com consistência.

Vai ser feita alguma parceria com outra SAD ou clube?

O Boavista está focado na construção de uma solução própria. Foram trabalhadas algumas parcerias e colaborações, avaliadas caso a caso e implementadas se forem benéficas para o Clube e respeitem a sua identidade.

O Clube pode criar uma nova SAD?

Isso está previsto no regime legal em condições claramente definidas,mas a eventual criação de uma nova estrutura societária será ponderada em função do melhor interesse do Clube, da sua estratégia de crescimento e da proteção dos seus ativos, nos próximos anos.

Vai entrar dinheiro novo no Clube?

O Clube esteve sempre a trabalhar em iniciativas de angariação de investimento e já tem manifestações concretas de interesse. O foco é garantir que o investimento seja sustentável e alinhado com os nossos valores.

Estão a ser vendidos direitos sobre o Clube?

Não,  a identidade do Boavista não está à venda. Qualquer apoio ou investimento será feito com respeito total pelos princípios fundadores e pelo controlo do Clube pelos seus associados.

E o merchandising, os sponsors, a bilhética?

Essas áreas estão a ser reorganizadas com base num novo modelo de gestão, mais eficiente e próximo dos adeptos. O apoio comercial será cada vez mais valorizado como pilar da recuperação.

Porque não foi tudo explicado antes?

O Clube optou por agir com responsabilidade e discrição enquanto trabalha, por respeito às exigências legais e para não prejudicar o próprio processo. Quando as negociações concretizadas, quando as propostas são claras ou mesmo quando os contratos são assinados, aí sim, é tempo de falar com clareza.

O que garante que não voltamos a ter problemas?

Nada garante, mas tudo está a ser feito com uma nova mentalidade: mais controlo, mais rigor e mais compromisso. O futuro será sempre exigente, mas estaremos mais preparados e unidos.

Este ainda é o Boavista de sempre?

Mais do que nunca, esta crise revelou o que há de melhor no espírito boavisteiro: resiliência, coragem, capacidade de se levantar. O símbolo, a camisola e a história continuam vivos. È essa essência que não pode ser perdida.

O que ganhamos ao manter o Clube vivo nestas condições?

Ganhamos tudo: a continuidade, o orgulho, o direito a sonhar. Esta é uma oportunidade histórica de recomeçar com dignidade, com os pés no chão e os olhos no futuro. O mesmo Clube, planos sustentáveis, novas ambições.

Como posso ajudar concretamente?

Mantendo as quotas em dia, participando nas Assembleias, defendendo o Clube nas conversas, incentivando outros a regressar. Cada gesto conta nesta caminhada coletiva.
E se tiver alguma proposta concreta, consigo, com a sua empresa ou organização, contacte-me. Estarei sempre recetivo, como estive até hoje para as centenas de Sócios que sempre demonstraram uma vontade de ajudar assinalável.

Porque não se atuou mais cedo contra a SAD?

O Clube sempre atuou nos limites da lei e com base nos instrumentos que tinha disponíveis. Muitas decisões da SAD não podiam ser revertidas diretamente pelo Clube. Neste momento, o Clube está a atuar com firmeza e autonomia.

A Direcção do Clube teve responsabilidades na gestão da SAD?

Não, a SAD é uma entidade independente. O Clube manteve uma posição de exigência e vigilância, mas não tinha controlo sobre a gestão da SAD. Ainda assim, o impacto da sua má gestão obrigou o Clube a intervir para proteger o futebol.

Foram feitas auditorias independentes?

O Clube está disponível para recorrer a todos os mecanismos de verificação que os Sócios considerem adequados, no momento próprio. O mais importante agora é garantir que os recursos disponíveis são usados para recuperar o Boavista.

Houve pagamentos a pessoas ou entidades que não deviam ter sido feitos?

Todas as despesas foram realizadas de acordo com os procedimentos internos e com validação dos órgãos competentes. Em caso de dúvida ou suspeita, o Clube estará sempre disponível para colaborar com as autoridades competentes.

Porque não houve mais informação pública nos últimos meses?

A preparação de um Plano de Recuperação exige confidencialidade e contenção, sobretudo quando estão em causa negociações jurídicas e financeiras sensíveis. Infelizmente, as informações que chegam à imprensa e às redes sociais são muitas vezes falsas e uma armadilha para se obrigar o Clube a ceder. No que depender desta Direção, nenhuma pressão será suficiente para afetar o Clube.

Quem está a investir no Clube?

Estão em curso várias negociações com entidades que acreditam no projeto do Boavista. Qualquer entidade recebe de imediato como condição fundamental o respeito pela identidade do Clube e pelo seu controlo pelos Sócios. Se existir algum acordo cujo conteúdo exija a intervenção dos Sócios, estes serão previamente consultados.

Porque pediu o Clube este Plano de Recuperação?

Desde o ano passado que o Clube está sujeito a Pedidos de Insolvência dos seus credores. Esta Direção esteve em todos esses processos a gerir as expectativas legítimas dos credores. Algumas evoluções positivas dão-nos confiança e motivação para continuar. Mas o colapso da SAD mudou todo o cenário futuro e obrigou o Clube a responder num desses processos com o pedido de recuperação de insolvência, para poder apresentar um plano com a supervisão do Tribunal e obter assim a proteção necessária dos interesses do Clube e de todos os credores.

O Plano de Recuperação está pronto?

Não, o Plano só será terminado nos próximos meses. No entanto, há muitos meses que está a ser trabalhado e há muitas partes que estão terminadas e são uma componente importante para a viabilidade futura do Clube.

Podemos confiar que o Boavista vai recuperar mesmo?

Com o apoio dos Sócios e a mobilização que já sentimos, temos todas as condições para recuperar. Este é um desafio difícil, mas também uma oportunidade para o Clube renascer com força, dignidade e autonomia. Nos últimos dias, históricos e anónimos boavisteiros, movidos pela desesperança deste momento  têm desabafado publicamente que o futuro é difícil. Queremos transmitir o oposto: o presente é péssimo. Mas os boavisteiros vão unir-se para salvar o Boavista, porque tal como quando fomos campeões cada 90 minutos a equipa dava tudo, para nós, hoje cada dia é um jogo para superar novos desafios. Vai ser dificil, mas é para isso que estamos aqui e é por isso que chamamos todos os boavisteiros para se unirem. Pelo Boavista, sempre!"