
“I love clay”, escreveu na lente da câmara. Mentira. Alex Michelsen detesta terra batida. Tudo bem, cada um é aquilo para que nasce. No entanto, o seu desencanto para com o tijolo triturado não se sobrepõe à inata capacidade para jogar ténis.
Na carreira, nunca antes tinha conseguido chegar a uma final de um torneio na superfície árida. Fê-lo pela primeira vez em Portugal, aquele que diz ser “o melhor país da Europa” e não só. O jovem de 20 anos acabaria mesmo por conquistar o Estoril Open, tornando-se no primeiro norte-americano a vencê-lo, algo que pelas duas finais em que participou, parecia estar destinado a Frances Tiafoe.
Os foragidos cabelos loiros, vagueando para longe da cobertura do boné fluorescente, coroam um corpo longilíneo que no segundo set o ajudou a defender-se junto à rede com uma estirada elástica para a trajetória do golpe do adversário. Noutra ocasião, Michelsen esperando receber o serviço de Andrea Pellegrino, qualifier vestido em padrões de azulejo, atirou a raquete ao ar e voltou a apanhá-la. Estava descomplexado.
A descontração nem sempre foi uma arma tão fiável como o seu serviço. Numa entrevista ao ATP Tour até chegou a dizer que, numa das vezes que se cruzou com o número um mundial, Jannik Sinner lhe disse para não pedir desculpa tantas vezes quando acertava em cheio uma pancada.
A conversa parece tê-lo inspirado. Michelsen colocou 75% de primeiros serviços (superiorizando-se em 74% desses pontos) e a regularidade na raquetada de saída deu-lhe a vitória na final por duplo 6-4. Ao longo do torneio, o 38.º do ranking não perdeu qualquer set e, durante a final, apresentando-se como um ser gélido, salvou três break points que, caindo para o lado de Pellegrino, lhe podiam ter complicado a vida. De qualquer modo, tal não aconteceu.
Alex Michelsen garante que Alex Michelsen é “a pessoa mais competitiva” que conhece. Quando a ansiedade pela vitória passa dos videojogos para o ténis, tudo pode acontecer. Ele sabe-o bem. Entre outras ocasiões, comprovou tal capacidade no Open da Austrália onde, mesmo sendo tão novo, já conseguiu chegar aos oitavos de final.
O californiano, fã dos Los Angeles Lakers, leva de Portugal o quinto título no circuito ATP Challenger. A edição deste ano do Estoril Open não foi um ATP 250, mas não fica nada mal no currículo de alguém.