Sob o lema "promovendo a reconciliação e o desenvolvimento da sociedade moçambicana", o programa da conferência prevê, na segunda-feira de manhã na cidade da Beira, um painel dirigido por Chissano sobre as motivações do executivo que então liderava para legalizar a Universidade Católica de Moçambique (UCM) e à, tarde, o líder da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) falará sobre o papel da instituição na expansão do ensino superior no país.

A UCM nasceu na Beira, segunda cidade moçambicana, três anos após o Acordo Geral de Paz, assinado em Roma a 04 de outubro de 1992 por Chissano e Dhlakama, sob a mediação da organização católica Comunidade de Santo Egídio, e que terminou 16 anos de guerra civil em Moçambique.

Os mesmos protagonistas participaram há duas décadas na fundação da UCM, que, segundo a instituição, nasceu justamente durante as negociações entre Governo e Renamo em Roma.

"Para desbloquear o impasse em que se encontravam as conversações, em junho de 1992, o mediador Dom Jaime Pedro Gonçalves, arcebispo da Beira, lançou a ideia de uma universidade católica de qualidade, cuja vocação consistiria na promoção da paz e reconciliação através da oferta de um ensino de qualidade a todos os jovens moçambicanos, sem distinção de raça, etnia, origem social ou confissão religiosa", lê-se na história da UCM, divulgada na sua página eletrónica.

A Igreja moçambicana tinha também a intenção de "corrigir a injustiça estrutural da concentração das instituições de ensino e formação superior exclusivamente em Maputo", capital do país, colocando-se ao "serviço do compromisso institucional de eliminar uma das causas do conflito armado".

Vinte anos depois, Moçambique volta a viver momentos de incerteza política, com o líder da Renamo a não reconhecer os resultados das últimas eleições gerais e a exigir a governação nas províncias onde reclama vitória, sob ameaça de tomar o poder pela força.

Governo e Renamo não chegaram até agora a um entendimento sobre o desarmamento do partido de oposição, que abandonou as negociações de longo prazo com o Governo em Maputo, e nas últimas semanas têm ocorrido episódios de violência entre as duas partes na província de Tete, centro do país.

Joaquim Chissano, que deixou o poder em 2005, é uma das personalidades que já apareceu publicamente a apelar para a paz e retoma das negociações, mas Dhlakama insiste em recusar um encontro com o atual chefe de Estado, Filipe Nyusi, alegando que não o fará até que seja cumprido integralmente o acordo de Roma, bem como o entendimento celebrado em setembro de 2014 com o ex-Presidente Armando Guebuza e que encerrou 17 meses de novas confrontações militares.

Além de Chissano e Dhlakama, para a conferência da UCM é também esperado na segunda-feira na conferência da UCM o líder do MDM (Movimento Democrático de Moçambique) e presidente do município da Beira, Daviz Simango, além do arcebispo emérito da Beira, Jaime Pedro Gonçalves, o ministro da Educação, Jorge Ferrão, e a governadora da província de Sofala, Helena Taipo.

O programa dos vinte anos da instituição prossegue na terça e quarta-feira com o II Congresso Internacional da UCM sobre "o papel da universidade no processo de pacificação, reconciliação, democratização e desenvolvimento da sociedade".

Pertencente à Conferência Episcopal de Moçambique, a UCM tem sede na Beira, província de Sofala, e faculdades e delegações espalhadas pelo centro e norte do país, em Nampula, Pemba, Tete, Quelimane, Chimoio e Cuamba.

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