
"A UCID está a entrar para estas eleições para ganhar. Mas nós temos a meta máxima que é vencer e temos a meta mínima que é termos um número de deputados suficientemente forte para rompermos com a maioria absoluta e desta forma também conseguirmos influenciar a governação do país mesmo não sendo a UCID a liderar o processo", disse o presidente da União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID).
Em entrevista à agência Lusa, António Monteiro afirmou, por isso, que ainda é "extemporâneo" falar em possíveis coligações pós-eleitorais com o PAICV ou o MpD, e reafirma: "Estamos a lutar para ganhar as eleições".
"Não estamos a pensar em coligações. Estamos a pensar em ganhar as eleições. Se não for este cenário, depois dos resultados logo se verá", afirmou o líder do partido, que pela primeira vez concorre em todos os 13 círculos eleitorais (10 no país e três na diáspora), com cerca de 100 candidatos a deputados nacionais.
Para o presidente, a UCID defende um Cabo Verde que tenha capacidade de cumprir com a sua Constituição da República, ou seja, garantir a todos os cabo-verdianos algumas condições de vida.
"Daí nós defendermos que é preciso trabalharmos muito mais, termos governos preocupados com a situação dos cabo-verdianos, quer a nível social, a nível económico, ambiental e de justiça. Um Cabo Verde que qualquer que seja o cidadão se sinta bem e plenamente realizado", mostrou.
Na entrevista à Lusa, António Monteiro apontou a revisão nos transportes, aéreos e marítimos, como a primeira medida a ser implementada de imediato, se dependente da vontade do partido político de inspiração cristã, fundado em 1977 na diáspora cabo-verdiana.
No entender do político, o Governo está a pagar mais de 600 milhões de escudos por ano (5,4 milhões de euros) à portuguesa Transinsular, que venceu o concurso para concessão do serviço de transporte marítimo de passageiros e carga, afirmando que a empresa não cumpriu o contrato e o serviço poderia ser prestado a um custo inferior.
Outro setor em que a UCID quer ver melhorias é na justiça. "Entendemos que a Justiça precisa de ter um cuidado mais especial. É preciso que tenhamos mais investimentos, que disponibilizemos mais recursos humanos e financeiros para que o setor funcione da melhor forma possível".
Além disso, a UCID gostaria de ver analisado o setor primário, quer a agricultura, quer as pescas. "É importante que o país tenha condições para fazer valorizar mais o setor primário da economia", defendeu António Monteiro.
Notando que o país ainda tem uma agricultura incipiente, o presidente da UCID propõe a criação de bancos direcionados a este setor, para que os agricultores se possam financiar, para terem dimensão maior e para o país produzir mais e reduzir um pouco as importações.
Na última legislatura, a UCID conquistou pela primeira vez três dos 72 deputados possíveis, todos em São Vicente, ilha onde o partido tem a sua sede, e o presidente ambiciona reforçar essa posição, esperando eleger cinco dos 10 deputados nesse círculo eleitoral.
Questionado sobre as críticas que apontam a UCID como um partido limitado a São Vicente, António Monteiro respondeu que sabe de onde é que isso vem e que é feito de má-fé, explicando que há vários anos que o seu partido concorre em quase todos os círculos eleitorais.
O que, para o líder, tem afetado e muito o seu partido é a bipartidarização cada vez mais visível em Cabo Verde, entre o Movimento para a Democracia (MpD, no poder) e o Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, oposição).
"Temos navegado num mar muito turbulento, os partidos que têm estado no arco do poder criam todas as condições para impedir que haja um crescimento e desenvolvimento da UCID", lamentou o dirigente partidário, candidato a deputado pelo círculo eleitoral de São Vicente.
Como prova dessa limitação financeira, apontou que dos cerca de 70 milhões de escudos (634 mil euros) do Orçamento do Estado disponibilizado aos partidos políticos, a UCID recebe cerca de 4,8 milhões de escudos (43 mil euros), enquanto todo o resto é dividido entre o MpD e o PAICV.
Por isso, recordou que há mais de 10 anos que o seu partido propõe uma base unitária de distribuição dos recursos para todos os partidos com representação parlamentar, e quiçá mesmo os partidos sem representação parlamentar, mas que cumprem com a lei.
"Para poderem também ter condições de funcionar, e a outra parte seria dividida em função do número do número de deputados ou de eleitores que o partido teve nas campanhas anteriores", sugeriu.
"Mas isso não se faz precisamente para asfixiar financeiramente a UCID e impedir-lhe de desenvolver um trabalho ao longo do tempo para se afirmar mais profundamente", criticou.
E para financiar a campanha eleitoral, o presidente avançou que o seu partido recorre sempre à banca, orgulhando-se de até hoje não ter registado qualquer incumprimento nos pagamentos.
"Mas graças a Deus o que nós temos a dizer é que a própria população cabo-verdiana, cansada do PAICV e do MpD, está a procurar outras soluções e esperamos que essa solução seja a UCID", terminou António Monteiro.
Cabo Verde realiza as sétimas eleições legislativas em 18 de abril e a UCID, o MpD e o PAICV são os únicos partidos políticos que concorrem em todos os 13 círculos eleitorais.
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