"Vai aumentar o confronto. Bolsonaro aumentará o número de ofensas e ataques ao Partido dos Trabalhadores [sigla de Lula da Silva] e o PT deverá responder e fazer contragolpes", considerou o jornalista e analista político Thomas Traumann, em declarações à Lusa.

Prevendo o crescimento de Bolsonaro nas sondagens em consequência dos programas económicos anunciados há pouco pelo Governo, Traumann disse que Bolsonaro tende a radicalizar o discurso porque permanece atrás do seu adversário e precisa aumentar rejeição de Lula da Silva para ter hipótese de vitória numa eventual segunda volta das presidenciais, a ser disputada em 30 de outubro.

Na última quinta-feira, o programa de Bolsonaro exibido no horário eleitoral pelas redes de televisão brasileiras centrou-se em ataques diretos a Lula da Silva, citando os processos judiciais contra o ex-presidente.

"Estão tentando fazer você acreditar numa mentira. Não podemos permitir (...) A pior e maior mentira dessa eleição foi dizer que Lula [da Silva] foi inocentado", refere a propaganda de Bolsonaro, citando declarações do ex-presidente a alegar ter sido absolvido pela Justiça, após o arquivamento ou anulação dos processos de corrupção.

O Presidente brasileiro também tem dito, em discursos de campanha, que o "Brasil não merece um cara [Lula da Silva] que há pouco saiu da cadeia e quer agora, com seu vice, voltar à cena do crime."

Além dos discursos, o jornal Folha de S. Paulo informou também na última quinta-feira que a campanha de Bolsonaro criou e impulsionou no Google um 'site' na internet que reúne notícias e conteúdos negativos para o ex-presidente, uma prática que contraria a legislação eleitoral.

Por outro lado, Lula da Silva tem aumentado ataques diretos a Bolsonaro, uma estratégia que evitou até ao momento.

O ex-presidente respondeu, a 07 de setembro (quando o Brasil comemorou 200 anos da Independência de Portugal), que, "em vez de levar ao povo brasileiro uma mensagem de paz, de união e de esperança, o Presidente da República utilizou a data para fazer campanha eleitoral e para ofender seus adversários".

"Nós nunca usamos o dia da pátria, um dia que é do povo brasileiro, como instrumento político. Nosso país precisa de amor, não de ódio", acrescentou Lula da Silva.

O ex-presidente que lidera as intenções de voto com a preferência de 45% dos eleitores face ao apoio de 33% declarado à Bolsonaro, também citou uma reportagem do portal UOL sobre supostos pagamentos de mais de 50 imóveis com dinheiro vivo, que foram comprados pelo Presidente e familiares próximos nos últimos anos.

A reportagem reavivou suspeitas sobre alegada apropriação indevida do salário de assessores e desvio de dinheiro público que pesam contra o Presidente e seus filhos.

A acusação constou da campanha eleitoral na televisão, o que motivou um pedido de direito de resposta por parte de Bolsonaro, que alegou junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que o vídeo veicula "gravíssimas ofensas à honra e à imagem do presidente da República e de sua família" ao afirmar que foram gastos mais de 25 milhões de reais (4,7 milhões de euros) em moeda corrente na compra de imóveis pela família presidencial.

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