"A ideia é levar o projeto às outras ilhas e também estamos em processo de levá-lo a Portugal, ainda este ano, se tudo correr bem. Por isso estamos atrás de apoios, tanto aqui, quanto em Portugal. As coisas demoram, mas acho que é possível com muita dedicação", afirmou à Lusa a jovem portuguesa Daniela Santos, encenadora de um grupo formado por uma dezena de mulheres, de várias idades.

O projeto "Amdjer" - 'mulher' em crioulo cabo-verdiano - integra outra jovem portuguesa, Ana Rita Ferreira, e nasceu em 2021 na delegação de São Vicente da Organização das Mulheres de Cabo Verde (OMCV). Representou o lançamento da jovem, que também é atriz, na encenação. Daniela e Rita trataram da formação das oito atrizes amadoras de São Vicente que têm levado à cena a peça "Mi ê mnininha d'Mar", 'sou menina do mar'.

"Começou através da OMCV, para a criação de um grupo de teatro, que era uma coisa que na altura eu e a minha colega Rita queríamos fazer, só com mulheres e abordar os temas sobre igualdade de género e que impacto é que isso tem na mulher. Fizemos a primeira apresentação em dezembro. Este ano estou cá sozinha e decidi, em concordância com a Rita, fazer esta extensão, porque pretendo muito entrar na área da pedagogia", contou a jovem atriz e encenadora portuguesa em São Vicente.

Essa vertente pedagógica a que quer recorrer nas escolas passa pelas apresentações e por 'rodas' de conversa, de forma a levar os alunos a refletirem sobre os temas que levam ao palco.

"Pretendemos criar um ambiente, um lugar seguro em que pode haver diálogo, criar pontos de vista, debate, só para obrigar um pouco ao pensamento. Para pensarmos um pouco naquilo que estamos a ver, porque através da arte é diferente", explicou a encenadora, que pretende levar todo o grupo, nestes espetáculos, a esclarecer os estudantes sobre a peça.

A peça aborda sonhos, temas femininos, a condição de ser mulher na sociedade cabo-verdiana e os seus medos, vontades, histórias e biografias das recém-estreantes atrizes, numa "viagem com música e dança".

Por ser uma peça que na primeira apresentação o público reagiu a determinadas expressões consideradas "fortes", o grupo resolveu adaptá-la para as escolas e universidades, mas sem perder a essência: "Tem adaptação por ser escola, o que não quer dizer que não se ouve nas ruas, aquilo que é dito na peça. O objetivo não é de reforçar o que se diz, mas sim trazer estes temas, sem que seja de forma nua, bruta ou crua. Então, a linguagem foi adaptada".

Na lista para representação da peça estão escolas secundárias e universidades naquela ilha cabo-verdiana.

"A própria escola é quem decide quais os melhores anos de escolaridade, por conhecerem melhor os alunos", explicou a encenadora.

Este projeto foi contemplado com um apoio do Ministério da Cultura e Indústrias Criativas de Cabo Verde, para apoio nas deslocações, permitindo levá-la a outros públicos no arquipélago e fora do país.

"Há coisas que pensamos que só nós passamos e depois percebemos que é uma coisa a que muitas mulheres estão sujeitas. Percebemos, ao fazer este trabalho com elas, que há histórias iguais ou muito parecidas entre todas e que ultrapassam limites geográficos, e por que eu e a Rita também já passámos ou assistimos", concluiu a encenadora.

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