
A Sociedade de Transportes Coletivos do Porto (STCP), futura operadora do metrobus, considera “inviável” a inversão de marcha em contramão no topo da avenida da Boavista, e quer o veículo a contornar a rotunda, evitando comprometer o serviço e congestionar o trânsito.
“Conclui-se que não é viável implementar a inversão de marcha do metrobus no topo da avenida [da Boavista], em substituição da necessária volta à rotunda. É tecnicamente necessário e justificável recorrer à rotunda da Boavista como ponto de inversão da nova linha”, escreve, numa carta dirigida ao presidente da Câmara do Porto, a que a Lusa teve acesso esta quinta-feira, a STCP, referindo-se aos testes da Metro do Porto.
A futura operadora do sistema descreve que, durante os ensaios, “o veículo teve de invadir várias vias adjacentes à sua faixa dedicada, exigindo a interrupção completa dos restantes fluxos de tráfego”.
“Este facto representa uma limitação, pois o arranjo da atual via não comporta a inversão de um autocarro articulado de 18 metros dentro das faixas de rodagem normais, sem interferir com a circulação transversal”, avisa.
Para a STCP, “aquilo que em ambiente controlado foi geometricamente exequível sem incidentes tornar-se-ia, no dia-a-dia, uma operação complexa, suscetível a erros de coordenação e a constrangimentos de trânsito”.
Assim, a operadora sustenta que “não se reúnem as condições” para a manobra ser feita “de forma repetitiva e segura em contexto real, sem qualquer apoio policial, dado o impacto negativo na circulação e na cadência do serviço que se pretende implementar”.
“A utilização da rotunda permite que os autocarros realizem a inversão de sentido de forma natural, contínua e integrada no esquema viário, reduzindo ao mínimo a interferência com o restante tráfego”, observa.
A STCP é também a “autoridade de transportes sobre a operação de transporte público em modo rodoviário” no Porto e, tendo por base a “análise técnica” aos testes de 5 de junho, propõe ao presidente da autarquia que “a inversão do sentido de marcha se faça contornando a rotunda da Boavista”.
A opção pretende “assegurar a fiabilidade e eficiência da operação do metrobus”.
A STCP alerta que a recomendação se baseia “em critérios objetivos de planeamento e operação de transporte público rodoviário, visando cumprir a elevada frequência do serviço sem comprometer a circulação urbana, não implicando qualquer aumento do número de motoristas”.
“A solução de inversão de marcha no topo da avenida apresenta-se inviável em operação regular”, afirma.
O sistema “foi concebido para oferecer um serviço de elevada capacidade e regularidade, prevendo-se circulações muito frequentes, na ordem de um veículo a cada 4/6 minutos por sentido em hora de ponta”.
Essa cadência “implica intervalos reduzidos entre veículos, com horários rigorosos e sincronizados com o sistema semafórico ao longo de todo o percurso”.
“Se cada veículo necessitasse de um ciclo semafórico especial prolongado para inverter a marcha no topo da avenida, isso acarretaria atrasos sucessivos e acumulação de tempos mortos incompatíveis com o intervalo de quatro minutos entre partidas”, descreve.
A STCP alerta também que a inversão de marcha, em operação regular, ia reduzir “drasticamente a capacidade de escoamento das vias adjacentes” por veículos particulares, transporte público regular e peões, “potencialmente gerando filas extensas e tempos de espera elevados para os restantes utentes da via”.
Rui Moreira defende testes na rotunda antes de decidir
O presidente da Câmara do Porto defende que “importa testar operacionalmente, antes de qualquer decisão definitiva”, o metrobus a contornar a rotunda da Boavista, em vez de entrar nela em contramão para fazer inversão de marcha.
Numa carta a que a Lusa teve acesso, Rui Moreira defende que “importa testar operacionalmente a solução” de colocar o metrobus a circular na rotunda da Boavista, “antes de qualquer decisão definitiva, de forma a aferir a alternativa mais eficaz para garantir a frequência prevista do serviço – fator determinante para que este novo modo de transporte se afirme como um caso de sucesso na cidade”.
“Tendo presente que não se prevê o início da operação durante o presente mandato, não se identificam objeções à solução em apreço, desde que a mesma se revele vantajosa do ponto de vista da fluidez operacional”, escreve o autarca na carta.