"Os dois documentos [Plano Económico e Social e Orçamento do Estado] não refletem o caminho que o país deve seguir para sair da situação sufocante em que se encontra, apresentam metas irrealistas", disse o coordenador daquela plataforma de organizações da sociedade civil moçambicana, Adriano Nuvunga, em declarações à Lusa.

Nuvunga criticou, em particular, a previsão de crescimento económico de 2,1%, considerando que as bases desse desempenho não são credíveis.

"A questão é de onde virá esse crescimento, quando o setor extrativo, que tem sido o motor da prestação da economia, estagnou, há uma decisão final de investimento ainda por fazer, o setor privado está asfixiado pela covid-19 e o desempenho na agricultura é uma incerteza", afirmou o coordenador do FMO.

Adriano Nuvunga também considerou "irrealista" a meta de criação de 252 mil empregos no próximo ano, assinalando que o setor privado "está de rastos devido à covid-19 e o setor público foi debilitado por causa de deficiências estruturais, incluindo a elevada dívida pública".

Nuvunga criticou o que qualificou como "ajudas às elites", observando que dois terços do OE irão para órgãos centrais do Estado, sediados em Maputo, e não para as províncias e distritos.

"Este padrão de despesa, com ajudas às elites em Maputo, não faz crescer o país", notou o coordenador do FMO, "é para o consumo das elites".

O Plano Económico e Social (PES) e OE de 2021 foram aprovados na quinta-feira, na generalidade, com 158 votos a favor da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder, e 42 votos contra da Resistência Nacional Moçambique (Renamo), principal partido da oposição, e cinco contra do Movimento Democrático de Moçambique (MDM).

O PES e o OE preveem um crescimento do PIB de 2,1% face à previsão de 0,8% para este ano, antevê uma subida de 2,5% do valor das exportações para 3.768 milhões de dólares (3.148 milhões de euros) e uma dilatação da cobertura de importações pelas reservas internacionais líquidas para quase sete meses.

Relativamente à balança de pagamentos para 2021, prevê-se um agravamento do défice da conta parcial de bens para 3.150 milhões de dólares (2.631 milhões de euros), que reflete "o efeito combinado do incremento das importações dos grandes projetos [de gás do Rovuma] e da economia em geral, tendo em consideração a retoma prevista da atividade económica após o impacto negativo da covid-19".

PMA (LFO) // VM

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