"Mesmo com a aprovação de um desembolso de 309 milhões de dólares ao Abrigo da Facilidade Rápida de Crédito para ajudar Moçambique a combater os efeitos da nova pandemia, resolver o problema do sobre-endividamento vai ser muito difícil sem um acordo de longo prazo com o FMI", disse Aroni Chaudhuri.

Em entrevista à Lusa a propósito das perspetivas económicas do país, o analista desta seguradora de crédito, uma das maiores a nível mundial, apontou que um programa de assistência financeira com o FMI "poderia melhorar a confiança dos credores e ajudar na definição de objetivos de longo prazo em termos de consolidação orçamental".

O apoio do FMI, vincou o analista, "será uma necessidade para a redução dos riscos soberanos e do país no futuro", já que a Coface classifica Moçambique no nível E, o mais elevado em termos de risco para os investidores.

Prevendo uma recessão este ano pela primeira vez na história do país, Aroni Chaudhuri lembrou que "a qualidade do crédito de Moçambique continua extremamente frágil, no seguimento dos incumprimentos financeiros de 2016 e 2017 e da decisão do FMI de suspender a colaboração com o país depois da divulgação do escândalo das dívidas ocultas", o que afastou Moçambique do financiamento externo.

As iniciativas que estão a ser tomadas pelos parceiros internacionais relativamente à suspensão dos pagamentos da dívida aos credores oficiais bilaterais são, por isso, "cruciais para melhorar a sustentabilidade da dívida e reduzir o risco de 'default', assim como o melhoramento das condições de crédito para sustentar a recuperação".

Na entrevista à Lusa, o analista da Coface explicou que mesmo antes de qualquer negociação com o FMI, que estava em curso mas foi interrompida devido à pandemia, "Moçambique vai precisar de mais apoio externo através de doações e empréstimos altamente concessionais para retomar o crescimento económico em 2021.

Segundo Aroni Chaudhuri, este é o principal requisito para evitar quaisquer incumprimentos provocados pela própria crise, já que a estabilização do défice orçamental é fundamental para evitar uma deterioração na sustentabilidade da dívida".

Questionado sobre se considera que Moçambique está atualmente em risco de incumprimento financeiro, o analista respondeu que "o país já estava em risco elevado mesmo antes da pandemia, uma vez que já tinha falhado pagamentos em 2016 e 2017, o que significa que a crise só veio exacerbar o risco que já existia".

Com um crescimento negativo previsto para este ano e com uma dívida pública a valer 120% do PIB, a Coface considera que "a necessidade de consolidação orçamental nunca foi mais urgente, mas o problema é que a pandemia de covid-19 vai obviamente dificultar estes esforços, já que a quebra nas receitas devido à contração da atividade e às medidas de apoio e a subida da despesa pública vão influenciar o défice das contas públicas".

Por isso, alerta, "o risco de incumprimento vai continuar muito elevado a curto e médio prazo".

Para Aroni Chaudhuri, a pandemia de covid-19 afetou este país africano lusófono através de três canais principais, que são comuns a vários países africanos: a contração da atividade económica em 0,5% este ano devido às medidas de confinamento, a queda nas receitas das exportações de carvão e alumínio, e a possibilidade de atrasos nos investimentos nos megaprojetos de exploração de gás natural liquefeito.

África registou nas últimas 24 horas mais 327 mortes relacionadas com a covid-19, aumentando para 45.609 o total de vítimas mortais do novo coronavírus, que já infetou 1.891.744 pessoas na região, segundo dados oficiais.

De acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), nos 55 Estados-membros da organização registaram-se nas últimas 24 horas mais 10.388 casos de infeção com o novo coronavírus.

Moçambique regista 99 óbitos e 13.823 casos.

A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.255.803 mortos em mais de 50,3 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

MBA // VM

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