
A série documental "O extraordinário percurso da comunidade portuguesa de França", realizada por Carlos Pereira, estreia domingo o primeiro de oito episódios na RTP Internacional para contar "a história praticamente desconhecida e raramente abordada em televisão".
"Eu conheço muitas histórias e, portanto, parti de uma base que eu já conhecia. No final, fui encontrando outras coisas que me surpreenderam ainda mais e que me agradaram muito fazer", disse à Lusa Carlos Pereira, que trabalha há mais de duas décadas como jornalista em França.

Atualmente, a comunidade portuguesa em França conta com cerca de 1,5 milhões de pessoas, sendo "ativa nas mais diversas áreas de intervenção, dinâmica e sobretudo bem integrada na sociedade francesa", com oito mil autarcas de origem portuguesa e mais de novecentas associações, acrescentou.
A série, produzida nos últimos dois anos, conta com o testemunho de mais de 80 pessoas, atores da comunidade e os seus descendentes, para contar "uma história que começou há bem mais de 100 anos, em outubro de 1916, quando foi assinado o primeiro acordo de mão-de-obra entre a França e Portugal", afirmou Luís Costa, subdiretor da RTP Internacional, em comunicado.
"Depois da Primeira Guerra Mundial, começou uma outra grande vaga de emigração para França, que, na Segunda Guerra Mundial foi muito ativa na Resistência francesa. Houve portugueses deportados, torturados e até fuzilados, e entrevistei as famílias deles", disse Carlos Pereira.

Para realizar este episódio, o jornalista falou com as famílias dos "portugueses na resistência", que foram fuzilados, deportados e enviados para "os campos de concentração por terem cortado cabos elétricos ou desviado comboios, serrado linhas férreas, etc".
Os oito episódios serão transmitidos aos domingos pela RTP Internacional Europa (às 19:00 de Lisboa), pela RTP Internacional Ásia (12:00) e pela RTP Internacional América (às 04:30) entre 15 de junho e 03 de agosto.
Na série, cujo objetivo era aprofundar a evolução da comunidade portuguesa de França, "o maior desafio foi passar de um formato de quatro minutos a um formato de 52 minutos" e também de "concentrar o máximo de coisas possíveis" em cada episódio, segundo o jornalista.

De Paris a Bordéus, a série aborda desde política a desporto, passando por associações e atividades culturais e também factos históricos como quando, no século XVI, milhares de judeus tiveram de deixar Portugal para se instalarem em França.
"Todos os episódios me marcaram, mas se calhar o que vai agradar mais às pessoas é o do fado, porque é mais dinâmico", disse Carlos Pereira, revelando que aprendeu muito sobre os judeus que tiveram de deixar Portugal para França a partir do século XVI, por ser "assunto praticamente desconhecido".
Esse episódio levou a dúvidas na produção devido ao conflito entre Israel e Gaza, em que o próprio guião "foi completamente alterado durante a filmagem", com o realizador a ter acesso a historiadores e sítios que desconhecia, como um cemitério judeu-português em Paris e as sinagogas de Bordéus e de Bayonne.
"A contribuição espetacular que [os judeus] deram para o desenvolvimento da França é, em geral, desconhecida, tanto por portugueses como por franceses", afirmou Carlos Pereira.
No episódio sobre empresários portugueses em França, o realizador descobriu a história de Michel Vieira, que era desconhecido, mesmo sendo o maior empresário português de França, com a sua empresa a entrar na lista das 300 maiores francesas, e sendo "o único indivíduo erudito a ter tido um crédito bancário de 500 milhões de euros" em França.
Carlos Pereira, que foi presidente do Conselho permanente do Conselho das comunidades portuguesas, atualmente dirige o LusoJornal, jornal mais lido pelos portugueses de França, e a Aniki Media Productions. E já fez centenas de reportagens para programas da RTP Internacional, como a Hora dos Portugueses, em França, Andorra, Mónaco, Bélgica, Países Baixos e Alemanha.