
O realizador do documentário 'Gorringe, o Gigante do Atlântico', que estreia na quinta-feira na terceira Conferência do Oceano da ONU (UNOC3) defendeu hoje que é fundamental aquele monte submarino ser protegido por ser "um sítio único no mundo".
A um dia do visionamento do filme - que retrata o trabalho de uma expedição científica de três semanas realizada em setembro de 2024 à maior montanha submarina de Portugal -, a ministra do Ambiente, Maria Graça Carvalho, anunciou na UNOC3 a criação da área marinha protegida (AMP) do Banco de Gorringe, a cerca de 240 quilómetros a sudoeste do Cabo de S. Vicente, Algarve, com cerca de 180 quilómetros de comprimento e 60 quilómetros de largura.
"O Gorringe tem que ser protegido sem dúvida nenhuma, estamos a falar da maior montanha submersa da Europa, muito longe da costa, muito isolada", disse Nuno Sá em declarações à RTP e à Lusa na UNOC3, onde hoje esteva a apresentar um outro filme seu - A ilha dos gigantes - sobre o tubarão baleia, nos Açores.
Quanto à atividade da pesca no Gorringe, afirmou que "não há dúvida nenhuma de que existe muita pesca no Gorringe, é muito longe para explorarmos e mergulharmos, mas não está longe o suficiente para estar a salvo da pesca tanto de fundo como de superfície".
O realizador disse ainda que encontrou "muito lixo marinho, infelizmente. 90% do lixo que vimos era resultado da atividade da pesca como artes de pesca perdida, boias de pesca, sacos de transporte de pescado, caixas de pescado".
"Uma coisa que se notou muito foi a ausência total de tubarões. Na expedição inteira foram avistados dois tubarões azuis e isso é um sinal claro de um grande desequilíbrio. Não foi visto um único cação, este é uma das espécies principais que as embarcações da costa portuguesa se deslocam lá para pescar", observou.
Questionada sobre eventuais compensações aos pescadores para esta futura área marinha protegida, a ministra do Ambiente respondeu que nas AMP oceânicas a necessidade de compensação aos pescadores é menor, "é muito maior nas zonas costeiras, mas se for preciso estaremos disponíveis para isso".
A expedição ao Banco de Gorringe que Nuno Sá filmou - promovida pela Fundação Oceano Azul, Oceanário de Lisboa, Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e Marinha Portuguesa - reuniu uma equipa internacional de cerca de 30 cientistas que fez um levantamento da biodiversidade dos dois picos principais - o Gettysburg e o Ormonde - da montanha submarina.
Os montes submarinos Gettysburg e Ormonde - apesar de submersos, ao elevarem-se desde profundidades de cerca de 5.000 metros são mais altos que as montanhas do Pico (Açores) e Serra da Estrela juntas e se estivesse acima da superfície seriam as montanhas mais altas da Europa ocidental - são ecossistemas de elevada biodiversidade, com habitats que vão desde florestas de algas perto da superfície até recifes de coral de água fria a grandes profundidades.
Considerados 'oásis oceânicos', onde já estão identificadas mais de 800 espécies, para além da flora e fauna bentónica (associada ao fundo) os picos do Banco de Gorringe atraem também grande variedade de fauna pelágica (que vive em água aberta), incluindo mamíferos marinhos, como golfinhos e baleias, tartarugas e aves marinhas.