
Ainda não se sabe quem assassinou o ex-político ucraniano Andriy Portnov, mas o caso não despertou uma onda de luto na Ucrânia. Pelo contrário, os jornais ucranianos destacam um percurso associado a anos de corrupção e influência russa.
Andriy Portnov foi morto a tiro na passada quarta-feira minutos depois de deixar os filhos na escola, o Colégio Americano em Pozuelo de Alarcón, nos arredores de Madrid, em Espanha.
O antigo político e advogado de 51 anos era uma figura controversa na Ucrânia, escreve a BBC, citando vários meios de comunicação ucranianos, muito influente durante o mandato do último Presidente pró-russo, Viktor Yanukovych.
Andriy Portnov é descrito como “o advogado do diabo”, pelo Ukrayinska Pravda."O homem que apelou à morte de opositores políticos conseguiu subitamente o que queria dos outros”, escreve o jornalista Oleksandr Holubov.
Os jornais recordam “a traição” de Portnov, que deixou de apoiar a primeira-ministra pró-ocidente Yulia Tymoshenko para se tornar chefe do gabinete presidencial de Viktor Yanukovych quando este venceu as eleições.
O advogado que “comprava” tribunais
Andriy Portnov foi investigado por corrupção e violação de direitos humanos, tendo sido alvo de sanções por parte da União Europeia (UE) e dos Estados Unidos.
Durante uma década, o então conselheiro do Presidente processou jornalistas que escreviam histórias negativas, ativistas e opositores com apoio de tribunais e juízes controlados por si. Washington acusou-o de “comprar decisões judiciais”.
“Quando as pessoas expunham a sua corrupção, ele acusava-as de fake news”, descreve a diretora do Instituto de Informação de Massa, que monitoriza a liberdade de expressão na Ucrânia. “Mesmo quando os jornalistas tinham documentos e testemunhos que apoiavam as alegações, era impossível ganhar os processos em tribunal. Era impossível defendermo-nos. Era um sistema podre”.
Andriy Portnov acabou por mudar-se para Moscovo em 2014, depois de Viktor Yanukovych também ter fugido do país. Regressou em 2019, mas acabou por voltar a sair do país depois do início da guerra, em 2022, desta vez para Espanha.
Ainda não há quaisquer suspeitos do homicídio. “Era uma pessoa com mil inimigos”, quer na Ucrânia, quer na Rússia, onde estava envolvido com vários grupos criminosos e negócios obscuros, escreve o jornalista Maskym Savchuk.
Alguns meios de comunicação social espanhóis sugerem que as motivações do assassinato não foram políticas, mas sim por “razões económicas ou vingança”.
Portnov foi alvejado várias vezes na cabeça e nas costas, por dois ou três indivíduos, numa altura em que se preparava para regressar ao carro depois de deixar os dois filhos no Colégio Americano, um dos estabelecimentos de ensino mais conceituados de Espanha.
Os autores fugiram do local após os disparos e continuam a monte.