"Foi com um sentimento de uma grande perda que nós recebemos a notícia do falecimento do Dr. Onésimo Silveira, uma grande figura de Cabo Verde, uma personalidade cabo-verdiana que foi marcante em vários domínios", disse o chefe de Estado de Cabo Verde.

O antigo embaixador de Cabo Verde em Portugal, que foi também o primeiro presidente da Câmara Municipal de São Vicente, faleceu hoje, aos 86 anos, vítima de doença prolongada, na sua ilha natal.

Jorge Carlos Fonseca lembrou que Onésimo Silveira foi "uma personalidade multifacetada", que participou nos grandes momentos da história de Cabo Verde, desde a luta pela independência e luta pela democratização do regime no arquipélago, bem como autarca, defensor da descentralização, da autonomia do poder local, intelectual, poeta e polemista.

"Mas Onésimo Silveira é referenciado sobretudo como uma espécie de encarnação do humor e da identidade com a ilha de São Vicente, onde foi presidente da Câmara, onde residiu, onde viveu, cujos interesses defendia com intransigência, com vigor", prosseguiu, em conferência de imprensa.

O Presidente lembrou ainda que foi uma "figura polémica", que não deixava ninguém diferente, estando de acordo ou em desacordo com ele. "Onésimo Silveira acabou por ser uma figura com muito relevo na vida cabo-verdiana e uma figura nacional, pese embora seja um mindelense convicto, uma pessoa que se identificava muito com as aspirações, expetativas, a rebeldia mindelense".

"Através de São Vicente projetava o seu ideário, nomeadamente de liberdade e democracia, mas particularmente do poder local autónomo, defendendo ideias anticentralistas, mesmo quando pudesse desacompanhado por alguns segmentos da sociedade cabo-verdiana", completou.

Para o chede de Estado, trata-se de uma "perda imensa" para todos, para Cabo Verde, para a ilha de São Vicente, em particular, que viu desaparecer fisicamente "um grande político" e "um dos grandes da Nação cabo-verdiana".

A Câmara Municipal de São Vicente manifestou a sua "profunda consternação" pelo falecimento do seu primeiro presidente eleito, em democracia, considerando Onésimo Silveira como "um dos mais proeminentes da elite literária de Cabo Verde".

Onésimo Silveira nasceu em 1935, na ilha de São Vicente e doutorou-se em Ciências Políticas, pela Universidade de Uppsala (Suécia), em 1976, ano em que começou a trabalhar na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque. 

Em 1977, transitou para a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (UNHCR) com o estatuto de diplomata. Ali permaneceu até dezembro de 1990, trabalhando em países como Somália, Angola e Moçambique.

Em 1992, tornou-se o primeiro presidente eleito da Câmara Municipal de São Vicente, cargo em que permaneceu até 2001.

Em 2002, suspendeu o mandato de deputado à Assembleia Nacional e aceitou a nomeação para embaixador extraordinário e plenipotenciário de Cabo Verde em Portugal, Israel, Espanha e Marrocos.

A nível cultural, é considerado um dos mais proeminentes membros da elite literária cabo-verdiana, tendo muitos trabalhos publicados no campo da literatura (novela, poesia e romance) e do ensaio (política, sociologia e antropologia).

Onésimo Silveira também traduziu vários livros, entre os quais "Obras Completas de Mao Tsé Tung", em parceria com Gentil Viana, e colabora regularmente, com artigos de opinião, no jornal A Semana e em revistas de Cabo Verde, Portugal, França, Suécia e Noruega.

Fundou o Partido do Trabalho e Solidariedade (PTS), depois da rutura com o Partido Africano da Independência de Cabo Verde (ex-PAIGC) e nos últimos anos tornou-se uma das vozes mais ativas pela regionalização do país. 

Em 08 de dezembro de 2012 foi distinguido com o doutoramento Honoris Causa pela universidade do Mindelo pelo "imenso contributo para a democratização" do país e pelo seu papel na "internacionalização do municipalismo cabo-verdiano".

 

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