A ONU e as organizações humanitárias "não podem apoiar" o novo modelo de entrega de ajuda ao território palestiniano decidido pelo Governo israelita, defenderam as diplomacias de 22 países, que incluem o Canadá, Japão e Austrália e também a UE, na declaração conjunta divulgada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão.

O Governo de Benjamin Netanyahu anunciou que ia permitir o acesso à Faixa de Gaza de camiões de transporte de comida para bebés e nove veículos da ONU receberam autorização, anunciou o chefe humanitário das Nações Unidas, considerando que se trata de uma "gota de água no oceano" após 11 semanas de bloqueio.

A decisão foi divulgada por Netanyahu, com o receio de que as imagens de fome dos palestinianos levassem os aliados a retirar apoio militar e diplomático ao país.

O povo da Faixa de Gaza "está a enfrentar fome" e "precisa de receber a assistência de que necessita desesperadamente", pediram os 22 países, segundo a agência de notícias France-Presse (AFP), numa lista que se estende ainda à Dinamarca, Estónia, Finlândia, Islândia, Irlanda, Itália, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Países Baixos, Nova Zelândia, Noruega, Eslovénia, Espanha e Suécia.

A UE é também signatária, através da alta-representante para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Kaja Kallas.

O novo modelo de distribuição que Israel acaba de decidir "coloca os beneficiários e os trabalhadores humanitários em risco, prejudica o papel e a independência da ONU", criticou a declaração, além de que "liga a ajuda humanitária a objetivos políticos e militares" no enclave.

"A ajuda humanitária nunca deve ser politizada e o território palestiniano não deve ser reduzido ou submetido a qualquer mudança demográfica", acrescentaram os Estados signatários, referindo-se ao plano de deslocação em massa da população anunciado por Israel.

O pronunciamento dos 22 países surge no mesmo dia em que França, Reino Unido e Canadá avisaram que não vão ficar "de braços cruzados" perante as "ações escandalosas" de Israel na Faixa de Gaza, ameaçando com "medidas concretas" se não parar a ofensiva militar.

"Opomos-nos firmemente à expansão das operações militares israelitas em Gaza", afirmaram o Presidente francês, Emmanuel Macron, e os primeiros-ministros britânico, Keir Starmer, e canadiano, Mark Carney, numa declaração conjunta, considerando que o "nível de sofrimento humano" no enclave palestiniano "é intolerável".

Embora tenham reconhecido o direito de Israel de "se defender" contra o terrorismo e tenham pedido ao grupo islamita palestiniano Hamas que liberte imediatamente os restantes reféns que mantém em cativeiro, os três líderes descreveram como "totalmente desproporcional" a escalada militar levada a cabo pelas autoridades israelitas.

"Se Israel não terminar a nova ofensiva militar e levantar as restrições à ajuda humanitária, tomaremos novas medidas concretas em resposta", alertaram, sem detalhar.

Israel retomou as operações militares na Faixa de Gaza em 18 de março, quebrando uma trégua de dois meses, e anunciou um plano, no início de maio, para conquistar o território e deslocar 2,4 milhões de residentes para o extremo sul do enclave.

No fim de semana, iniciou uma nova operação terrestre e aérea no território, após vários dias consecutivos de bombardeamentos que provocaram centenas de mortos, segundo as autoridades locais controladas pelo Hamas.

O conflito foi desencadeado pelos ataques liderados pelo Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, onde fez cerca de 1.200 mortos, na maioria civis, e mais de duas centenas de reféns.

Em retaliação, Israel lançou uma operação militar na Faixa de Gaza, que já provocou mais de 53 mil mortos, segundo as autoridades locais, a destruição de quase todas as infraestruturas do território e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.

HB // EJ

Lusa/Fim