"Quando alguém está no poder, observamos que o número de empresas que abre cresce 30% mais que outras pessoas que não têm poder político, ou seja, ficam mais centrais na rede de negócios, e o número aumenta 50% até 100% mais que no caso das pessoas sem poder político", disse o investigador, em declarações à Lusa à margem da Conferência NOVAFRICA 2022 sobre Desenvolvimento Económico, que decorre até hoje em Carcavelos, nos arredores de Lisboa.

Falando no seguimento da apresentação do estudo, com o título "Doing Business while holding public office: Evidence from Mozambique's firm registry", o investigador do Instituto Mundial para o Desenvolvimento Económico, da Universidade das Nações Unidas (UNU-WIDER) em Moçambique, explicou que a ligação entre o mundo empresarial e político não é necessariamente má, mas alertou para a forte possibilidade de haver conflitos de interesse.

"Em Moçambique, quando alguém está no poder, há um momento em que abrem mais empresas, ficam mais importantes dentro do mundo dos negócios, isso indica que há uma relação muito próxima entre o mundo empresarial e o mundo da política, o que não é necessariamente mau, mas há que ter consciência que pode criar grandes conflitos de interesse em termos de decisões políticas", disse o investigador britânico nas declarações à Lusa.

Questionado sobre casos concretos, nomeadamente ligados ao escândalo das dívidas ocultas, Sam Jones respondeu: "Todos sabemos que existem alguns conflitos de interesse, mas dentro da base de dados não é possível aferir isso, é um estudo quantitativo sobre quem está no poder e o crescimento dos negócios dessa pessoa e da sua família".

As leis para impedir que os interesses empresariais se sobreponham à causa pública já existem em Moçambique, mas o problema principal é a implementação da legislação, e não a falta de regulamentação, defendeu.

"Moçambique já tem alguma legislação, mas o problema é a sua implementação, é muito importante a transparência, o registo de ativos dos políticos e idealmente que sejam transparentes também", disse Sam Jones, notando que as áreas onde há maior criação de empresas por parte de políticos no ativo é na prestação de serviços a outras empresas, construção e finanças e empresas de investimento.

A ligação entre o mundo empresarial e o mundo da administração pública "não é necessariamente má, a relação é normal em muitos países, mas a possibilidade de conflitos de interesse aumenta muito mais, a dificuldade é ter um mundo de negócios que pode contestar e discutir as políticas públicas, em vez de as aceitar, e isso é importante em Moçambique", alertou.

O estudo do académico britânico abarca o período desde a independência de Portugal, em 1975, até 2019, mas centra-se principalmente a partir dos anos 1990, com o aumento da atividade empresarial.

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