Em causa está um polémico desfile militar das Forças Armadas brasileiras que ocorreu na manhã de hoje, horas antes de a Câmara dos Deputados ter previsto analisar uma proposta a favor do voto impresso, defendida por Bolsonaro e aliados.

"Bolsonaro imagina com isso estar mostrando força, mas na verdade está evidenciando toda a fraqueza de um Presidente acuado pelas investigações de corrupção", afirmou o senador Omar Aziz, presidente da comissão parlamentar de inquérito (CPI) que investiga a gestão da pandemia por parte do Governo.

"Todo homem público, além de cumprir as suas funções constitucionais, deveria ter medo do ridículo. Mas Bolsonaro não liga para nenhum desses limites, como fica claro nessa cena patética de hoje, que mostra apenas uma ameaça de um fraco que sabe que perdeu", acrescentou o senador.

As críticas a Bolsonaro fizeram-me ouvir durante toda a parte inicial da sessão da CPI, com os senadores a frisar que "não haverá nenhum tipo de golpe contra a democracia" no Brasil.

"O Presidente passa 24 horas por dia gerando conflitos, fazendo campanha eleitoral antecipada e gastando dinheiro público. É verdade que essa operação militar acontece há muitos anos, mas nenhuma vez tivemos a passagem de tanques à frente do Congresso e do Supremo. Ninguém tem o direito de intimidar o Parlamento brasileiro por conta de uma posição política", defendeu o senador Humberto Costa.

Já o senador Randolfe Rodrigues considerou o desfile como "uma patética demonstração de fraqueza, mais patético que aqueles desfiles de Kim Jong-un [líder norte-coreano]".

Às críticas juntou-se o ex-presidente do Brasil, Lula da Silva, potencial adversário de Bolsonaro nas presidenciais de 2022, nas quais o atual chefe de Estado pretende voltar a implementar o voto impresso para "evitar fraudes".

"Bolsonaro comporta-se como se as Forças Armadas fossem um objeto particular dele, como se fosse um brinquedo. Não tem conversa especial com Forças Armadas, vou tratá-los com respeito, como temos que tratar todas as instituições. Isso que aconteceu hoje foi uma coisa patética ", escreveu Lula na rede social Twitter.

"Quando Bolsonaro fica com isso de 'votinho' no papel, ele está tentando preparar confusão como o [Donald] Trump [ex-presidente norte-americano] fez nos EUA. E nós não vamos aceitar isso aqui. O Bolsonaro tem que estar preparado e saber o seguinte: ele vai perder as eleições. Se quiser sair pela porta dos fundos, que saia", indicou o histórico líder do Partido dos Trabalhadores (PT).

Também o governador de São Paulo, João Doria, classificou o "inédito e desnecessário desfile de tanques de guerra na Praça dos Três Poderes" como "uma clara ameaça à democracia" e "mais um 'flerte' com o autoritarismo".

Ao longo do dia de hoje, a oposição avaliou que o desfile com tanques militares no mesmo dia da votação foi uma tentativa de demonstração de força por parte de Bolsonaro e uma forma de intimidar e pressionar o Congresso pela aprovação da proposta de emenda constitucional (PEC) do voto impresso, que se prevê que saia derrotada.

Apesar da polémica, o comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, afirmou hoje à imprensa local que o facto de o desfile militar ter sido realizado no mesmo dia em que a Câmara tem previsão de votar a proposta do voto impresso foi uma "coincidência de datas".

A pressão de Jair Bolsonaro pelo voto impresso aumentou à medida que a sua popularidade caiu nas sondagens eleitorais, que classificam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu maior adversário, como favorito para 2022.

MYMM // LFS

Lusa/Fim