"A maioria absoluta num país que precisa de reforma é indispensável. Não excluí o diálogo, não excluí a concertação, mas depois de dialogar, depois de estudar, depois de concertar, tem de haver a decisão e pela experiência que eu tenho, eu sei que só uma maioria absoluta confortável é que nos permite avançarmos para as reformas", disse o líder da Ação Democrática Independente (ADI, oposição), numa iniciativa no penúltimo dia de campanha para as legislativas, autárquicas e regional de São Tomé e Príncipe.

Patrice Trovoada, que foi primeiro-ministro em três ocasiões, a última das quais com maioria absoluta, entre 2014 e 2018, tem pedido aos eleitores um "voto maciço" na ADI, condição que coloca para ser o próximo chefe do Governo são-tomense.

Questionado se já abordou adversários no sentido de procurar eventuais entendimentos, caso vença as eleições com maioria simples, o líder político afirmou que não.

"A maioria dos partidos faz uma campanha contra Patrice Trovoada. Vai ser difícil uma negociação para uma coligação e encontrar uma maioria, caso não tenhamos essa maioria absoluta", comentou.

Patrice Trovoada ressalvou, contudo, que vê "com alguma satisfação que, com alguns dos participantes nestas eleições, parece que houve alguns progressos, em termos do convívio democrático e político".

"Tenho esperança que as coisas vão melhorar em São Tomé e Príncipe, mas não acredito que as coisas estejam maduras para já, para daqui a dois dias", disse.

"De facto é indispensável essa maioria absoluta, mas eu vou otimista sobretudo quando vejo que algumas forças políticas estão abertas a um diálogo construtivo, e não a uma querela de pessoas", acrescentou.

Durante a sua ação de campanha, hoje focada no distrito de Lembá (noroeste da ilha de São Tomé), Patrice Trovoada visitou a cidade de Neves, sede da maior fábrica nacional, a cervejeira Rosema, que foi alvo de uma disputa judicial e que é atualmente propriedade do empresário angolano Mello Xavier, depois de a justiça são-tomense a ter retirado em 2019 aos são-tomenses irmãos Monteiro, que a haviam comprado por 5,5 milhões de dólares.

Questionado se, caso venha a chefiar o próximo executivo, gostaria de ver o processo relativo à propriedade da Rosema reaberto, Patrice Trovoada negou.

"O caso da Rosema está na justiça e ficará na justiça como a justiça entender", afirmou, lembrando que, durante o seu mandato, o Governo fez uma reforma do setor, que foi contestada.

"Não foi propriamente por causa da Rosema, foi por causa de algumas denúncias ligadas ao comportamento de alguns magistrados e o Governo aí tem alguma competência para intervir. Fomos para uma série de reformas, e eu reconheço que talvez o Governo não preparou bem o clima para que se aceitassem as reformas", reconheceu.

Se ganhar as eleições do domingo, o seu partido pretende "continuar com a reforma da justiça, com os atores atuais do sistema".

"Quanto ao caso da Rosema e outros casos já encerrados, já arquivados, não será o Governo nunca que irá procurar, de uma maneira ou outra, fazê-los ressuscitar", avançou.

Sobre o dia da eleição, Patrice Trovoada disse estar impedido de votar em São Tomé e Príncipe, uma vez que está registado em Portugal e não pôde transferir a sua residência para o distrito de Lobata (norte), pelo qual é cabeça-de-lista, devido à falta de atualização dos cadernos eleitorais.

"Eu não posso votar porque não houve atualização e recenseamento eleitoral. Não consigo fazer o exercício de ir a Lisboa alguns minutos votar e regressar. Não poderei dar um bom exemplo, infelizmente", disse, antes de ressalvar: "Mais grave ainda são os milhares de jovens, que não vão poder votar", referindo-se a quem completou 18 anos desde o último recenseamento e agora ficou de fora dos cadernos eleitorais.

No domingo, 11 partidos e movimentos, incluindo uma coligação, concorrem às eleições legislativas de São Tomé e Príncipe, no mesmo dia em que são eleitos os presidentes das autarquias e o governo regional do Príncipe.

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