
O serviço de informação interno alemão classificou esta sexta-feira o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) como um movimento comprovadamente extremista de direita, o que deverá permitir que seja colocado sob forte vigilância.
A ideologia da AfD, que "desvaloriza grupos inteiros da população na Alemanha e mina a sua dignidade humana", "não é compatível com a ordem democrática básica", afirmou o Departamento para a Proteção da Constituição (BfV, na sigla em alemão), ligado ao Ministério do Interior, num comunicado.
O BfV destacou, em particular, "a atitude hostil geral do partido em relação aos migrantes e aos muçulmanos".
Esta ideologia "visa excluir certos grupos populacionais da participação igualitária na sociedade, submetendo-os a um tratamento desigual que não está de acordo com a Constituição", segundo o BfV, referindo na sua declaração o "grande número de declarações anti-estrangeiros, anti-minorias, anti-islão e anti-muçulmanos" feitas pelos dirigentes do partido.
"A agitação constante contra os refugiados e migrantes está a alimentar a disseminação e o aprofundamento de preconceitos, ressentimentos e medos em relação a este grupo de pessoas", acrescentou o BfV.
Nas eleições parlamentares de 23 de fevereiro, a AfD - liderada por Alice Weidel - conseguiu um avanço histórico, duplicando a sua pontuação anterior e obtendo mais de 20% dos votos, conseguindo mesmo ocupar o segundo lugar neste sufrágio.
Desde então, o jovem partido fundado em 2013 tem vindo a ultrapassar em algumas sondagens a União Democrata-Cristã (CDU, na sigla em alemão), o partido conservador de Friedrich Merz, que deverá tomar posse como primeiro-ministro na terça-feira após fechar um acordo de coligação com os sociais-democratas (SPD).
O Departamento de Proteção da Constituição ainda não forneceu detalhes específicos sobre as consequências concretas desta classificação, que poderá ter grandes repercussões na vida política alemã.
Esta classificação confere às autoridades meios significativos de vigilância e controlo, incluindo as comunicações privadas.
Já levantado nos últimos meses por alguns líderes políticos, o debate sobre uma possível proibição do partido pode ser reacendido.
O serviço de informação interno da Alemanha já tinha classificado a organização juvenil do partido de extrema-direita AfD, bem como vários braços regionais em estados da antiga Alemanha de Leste, como "extremistas".
A ministra do Interior interina, Nancy Faeser, social-democrata, defendeu a decisão do BfV, referindo numa declaração que o organismo fez uma "avaliação clara e inequívoca".