"Não impomos qualquer tipo de limitação, nem tão pouco queremos saber antecipadamente o que o artista vai pintar. As limitações são as que decorrem do normal, do bom senso, não pode haver publicidade nem violações dos direitos constitucionais. Aparte isto, a liberdade criativa é total", disse à agência Lusa Carlos Jardim, administrador da Frente MarFunchal.

Existem 116 parcómetros na capital madeirense ao dispor de 116 artistas. Até ao momento, foram pintados seis, em diferentes pontos da cidade, por Pedro Silva, Fátima Spínola, Olga Drak (natural da Polónia), Carina Mendonça, Dina Cró e Marcos Milewski (Argentina).

"Queremos intervir em todos, mas temos tempo para o fazer", disse Carlos Jardim, sublinhando que é preciso "dar espaço e tempo de glória" a cada um dos parquímetros, bem como ao trabalho do artista, cuja ação em plena cidade "cria um certo impacto e reflete a natureza cosmopolita do Funchal".

O projeto Urban Impact não acarreta custos significativos para a empresa municipal, que gere os parcómetros do concelho desde 2014, pois limita-se à aquisição das tintas.

"É preciso relevar a disponibilidade dos artistas. Eles compreenderam que o projeto é inovador e estão a dar a sua arte 'pro bono' à cidade", realçou Carlos Jardim, lembrando que a contrapartida é a exposição pública e permanente do trabalho.

A iniciativa da Frente MarFunchal surgiu da necessidade de renovar a imagem dos parcómetros, a maior parte dos quais já com dez anos de existência, e foi decidido pintá-los de azul carregado, uma cor que provocou reações contraditórias na população e não resultou.

O passo seguinte foi intervir artisticamente, à imagem do projeto Arte de Portas Abertas, que transformou a Rua de Santa Maria, na zona velha da cidade, numa galeria ao ar livre e veio dinamizar todo o bairro.

Além da liberdade criativa, o artista escolhe também o parcómetro que pretende pintar, havendo a garantia da empresa que, no caso de o equipamento ser desativado ou substituído, será sempre preservado como peça de arte urbana.

A reação dos cidadãos tem sido positiva, a analisar pelos comentários no Facebook, que é o meio privilegiado de divulgação do projeto.

"Também vemos imensos turistas a tirar fotografias, pelo que penso que as imagens tenham uma dispersão pelo mundo fantástica", disse Carlos Jardim, sublinhando não ter conhecimento de nenhuma iniciativa similar noutra cidade.

O responsável realçou, ainda, que o projeto Urban Impact assenta em dois princípios fundamentais: deve ser um trabalho feito por artistas (em princípio de carreira ou já com créditos firmados) e não pode acontecer todo ao mesmo tempo.

"Embora a sociedade de hoje em dia esteja sempre à espera das coisas prontas para ontem, a natureza aponta para um crescimento orgânico. É isso que pretendemos introduzir com este projeto", disse, vincando que o objetivo final é transformar um objeto que é um obstáculo visual, físico e até psicológico num suporte artístico.

"O parcómetro impõe às pessoas uma reação geralmente negativa. Não gostamos nada daquelas máquinas, mas elas têm de existir", disse Carlos Jardim, reforçando que a intenção do Urban Impact é transformar essa reação noutra completamente diferente, de modo a que, sempre que for pagar o estacionamento, cada pessoa faça uma interpretação especial da máquina onde coloca as moedas.

DYC // JLG

Lusa/Fim