
Em comunicado, divulgado nas redes sociais pela Liga Guineense dos Direitos Humanos, 23 organizações da sociedade civil da Guiné-Bissau apelam para à "cessação imediata das hostilidades por ambas as partes" e para a "necessidade de se respeitarem os civis que não estão envolvidos no conflito".
As organizações da sociedade civil apelam também ao "diálogo entre as autoridades senegalesas e todas as fações do Movimento das Forças Democráticas de Casamança (MDFC), com a participação das autoridades da Guiné-Bissau e da Gâmbia, para encontrarem uma solução para a paz duradoura" naquela região.
A sociedade civil guineense sublinha que o conflito tem provocado "mortes, destruição de bens, insegurança e deslocação das populações transfronteiriças" e provoca impacto económico, incluindo na campanha da castanha de caju, com consequências para os rendimentos das famílias.
Os setores da saúde e educação também são afetados pelo conflito que paralisa ou limita o funcionamento de escolas e serviços de assistência à população, salienta.
As organizações da sociedade civil advertem igualmente que o conflito cria riscos de "disfuncionalidade de mecanismos de coordenação entre os Estados", nomeadamente no que diz respeito ao combate da pandemia provocada pelo novo coronavírus e ao Ébola.
"Os efeitos de conflito em Casamança têm consequências tanto para o Senegal, como para a Guiné-Bissau e Gâmbia, com impacto direto na estabilidade político-institucional desses três países e, é por isso, a necessidade de uma ação com vista à promoção da paz, criando as condições para a cessação do confronto armado", salienta-se no comunicado.
Em janeiro, as autoridades senegalesas lançaram mais uma ofensiva contra o MFDC, depois de as forças militares do Senegal terem denunciado abusos de rebeldes contra civis e para destruir campos de cânhamo (planta de cannabis) indianos atribuídos à rebelião.
O MFDC luta desde 1982 pela independência de Casamança, limitada a sul pela Guiné-Bissau e a norte pela Gâmbia.
As conversações de paz, tornadas ainda mais difíceis pelas divisões internas do MFDC, foram relançadas após a chegada ao poder do Presidente senegalês, Macky Sall, em 2012.
No entanto, estas não foram suficientes para um acordo que pusesse fim a um conflito que causou milhares de vítimas civis e militares, devastou a economia e forçou muitas pessoas a fugir da região.
Casamança foi trocada por Portugal com a França no século XVII, passando a integrar o Senegal, após a independência desta antiga colónia francesa, em 1960.
A integração é contestada pelos rebeldes - estimados entre 4.000 e 5.000 - que há 40 anos reclamam a independência de uma das regiões com mais recursos do país, considerada o "celeiro" do Senegal e com reservas de petróleo 'offshore' ainda inexploradas, mas que os independentistas consideram ter sido marginalizada em matéria de desenvolvimento.
MSE (MC//JYO/CFF) // VM
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